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Liderança no desporto. Tentativa de
simplificar um processo complexo

   
Escola Superior de Desporto de Rio Maior.
Departamento de Psicologia e
Ciências Sociais do Desporto.
 
 
Luís Cid
luiscid@esdrm.pt
(Portugal)
 

 

 

 

 
Resumo
     Apesar de Murray (1991) afirmar que a liderança é um dos fenómenos menos compreendidos e que os estudos no campo desportivo são ainda escassos, Dosil (2004) considera que este processo é um dos aspectos que mais preocupa os agentes desportivos pelas implicações que possui na obtenção do rendimento desportivo. Ao longo dos tempos várias questões têm sido levantadas para as quais ainda não há uma resposta definitiva ou completamente satisfatória - O que é um líder? Quais as suas qualidades? O que o torna eficaz? Que tipo de liderança deve assumir? Que factores influenciam este processo?
    Unitermos: Liderança. Psicologia do Desporto
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 103 - Diciembre de 2006

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" A minha liderança toda a gente a sente,
mas ninguém a vê
" (José Mourinho, 2003)

Introdução

    De acordo com Murray (1991) e Dosil (2004) a liderança é um dos aspectos mais estudados no âmbito da Psicologia do Desporto, sendo um tema de grande interesse pelas implicações que tem, tanto nos desportos colectivos como nos individuais, uma vez que as relações que se estabelecem entre o treinador e atleta(s) ou no seio de um grupo-equipa são fundamentais na obtenção do rendimento desportivo (Serpa, 1990). Entre outros aspectos, Alves (2000), realça a importância deste processo como elemento fundamental para o desenvolvimento de um bom clima organizacional, que por sua vez é determinante no grau de satisfação das relações interpessoais e na eficácia do desempenho das suas tarefas.

    Apesar de Murray (1991) afirmar que a liderança é um dos fenómenos menos compreendidos e que a constante procura das qualidades que conduzam a uma liderança eficaz ocupa grande parte das preocupações investigadores, os estudos no campo desportivo tem sido escassos e as suas primeiras aplicações emergiram dos modelos teóricos provenientes da psicologia organizacional (Noce, 2002).

    As teorias gerais da liderança evoluíram a partir da pesquisa dos traços e qualidades do líder eficaz, até às teorias situacionais, que consideram a este factor como um processo que varia de acordo com a personalidade do líder ou as características inerentes à situação (Leitão, Serpa e Bártolo, 1995). Actualmente, os estudos têm-se centrado na análise das condutas comportamentais do treinador, assim como na preferência e percepção das mesmas por parte dos atletas, com a finalidade de identificar quais as condutas que se relacionam com a satisfação dos mesmos e que permitam alcançar boas prestações desportivas.

    Ao longo dos tempos várias questões têm sido levantadas para as quais ainda não há uma resposta definitiva ou completamente satisfatória - O que é um líder? Quais as suas qualidades? O que o torna eficaz? Que tipo de liderança deve assumir? Que factores influenciam este processo? Desta forma, e numa tentativa de simplificação de um processo que é complexo, será nosso objectivo clarificar estas questões ao longo deste trabalho.


Conceito de liderança

    Embora no senso comum se envolvam uma série de características para se estabelecer uma concepção teórica deste processo (normalmente associadas apenas às qualidades de um líder), a definição de liderança não é tarefa fácil (Dosil, 2004). De facto, existem tantas definições quantas os autores que tentam, dela, dar uma opinião (Jesuíno, 1996). Segundo Murray (1991), alguns autores definem a liderança como um processo de condutas, pelo meio do qual, um individuo influencia outros para que se realize o que ele quer. Na opinião do mesmo autor, ao contrário desta visão redutora, a liderança deve ser percepcionada como uma espécie de contrato psicológico que é estabelecido entre os líderes (treinadores) e os seguidores (atletas), onde os primeiros são autorizados, quer no plano formal ou informal, a decidir pelos segundos, sendo reconhecido o direito que eles têm em decidir por eles e dizer o que tem de fazer.

    De acordo com Noce (2002), em toda a literatura a liderança é definida de diferentes formas, porém muitas das características são semelhantes e comuns a todas elas, o que as leva a ser aceites por diversos autores. Bass (1990), citado por Noce (2002) e Mendo e Ortiz (2003), sintetizou as definições de liderança, desenvolvendo um esquema de classificação deste processo:

  • O centro do processo de grupo

  • Um efeito da personalidade (do líder sobre os seguidores)

  • Uma arte de induzir a submissão

  • Um exercício de influência

  • Um acto ou comportamento

  • Uma forma de persuasão

  • Uma relação de poder

  • Um instrumento para alcançar objectivos

  • Um processo de interacção

  • Um papel diferenciado

  • Uma iniciação da estrutura

  • Uma combinação de elementos

    Apesar de todas as definições produzidas pelos diversos autores sublinharem que a liderança implica um processo de influência entre o líder (treinador) e os seus seguidores (atletas), todos os conceitos podem ser abordado sob diversas perspectivas (Mendo e Ortiz, 2003), no entanto, Weinberg e Gould (1995), enfatizam a importância dessa influencia ser exercida em função de objectivos comuns. Desta forma, Leitão, Serpa e Bártolo (1995) e Alves (2000), consideram que a definição que melhor se pode aplicar ao desporto é a de Barrow (1977) - processo comportamental que visa influenciar os sujeitos e/ou grupos de modo a que se atinjam os objectivos determinados anteriormente.


Tipos de abordagem sobre a liderança

    Há semelhança do que acontece noutros campos de estudo da psicologia, uma das discussões centrais, que tem gerado alguma controvérsia acerca da liderança, é a determinação se esta capacidade é uma característica inata ou adquirida (Dosil, 2004). Se uns defendem que ser líder faz parte da personalidade do sujeito, outros sustentam que é o contexto e a aprendizagem que converte o indivíduo. Estes pontos de vista deram origem a 3 perspectivas (Serpa, 1990, Murray, 1991, Weinberg e Gould, 1995, Cruz e Gomes, 1996 e Dosil, 2004).


    Traço/Característica

    Centra-se no estudo das características da personalidade dos líderes, na tentativa de encontrar os aspectos comuns que relacionem a liderança com qualquer situação, ou seja, esta abordagem considera a capacidade de liderança uma característica inata. Apesar de não existirem traços identificáveis da personalidade relativos à capacidade de liderança e à eficácia da mesma em todas as situações, uma vez que o sujeito pode variar a sua conduta de uma situação para a outra, ou, manter a mesma postura independente da situação, Stogdill (1974), citado por Murray (1991) e Weinberg e Gould (1995), conseguiu enumerar algumas tendências de comportamento: dominância, alta auto-estima, assertividade, elevado ambição, iniciativa, segurança, boa comunicação, competência, sentido de humor, etc.

    Conduta/Comportamento

    Centra-se no estudo das condutas e comportamentos dos líderes e na sua influência sobre os grupos, sendo a liderança uma habilidade adquirida e produto de uma aprendizagem. Dois tipos de líder podem ser equacionados (Noce, 2002 e Mendo e Ortiz, 2003): 1) autocrático - toma todas as iniciativas e decisões sobre a organização, os objectivos e as tarefas do grupo; 2) democrático - estimula a discussão e a participação do grupo nas decisões a tomar. Murray (1991) e Mendo e Ortiz (2003) fazem ainda referência a outro tipo de líder - Laissez Fair ("Deixa Fazer") - adopta um papel passivo e deposita toda a capacidade de decisão nos membros do grupo.

    Segundo Samulski (1995), o tipo autocrático pode ser mais eficaz em situações estruturadas e com objectivos bem definidos. Apesar de oferecer mais segurança aos atletas em momentos de tensão, provoca um clima socioafectivo negativo e alguma agressividade interna que pode conduzir a uma fraca coesão do grupo. Por outro lado, o tipo democrático parece ser mais eficaz em situações moderadamente estruturadas e com objectivos pouco claros. O incentivo à participação estimula a satisfação e promove uma elevada coesão do grupo. No entanto, ao repartir as responsabilidades pode aumentar os níveis de ansiedade de alguns membros do grupo.

    Interacional/Situacional

    Esta abordagem parte do princípio de que existe uma interacção entre o sujeito e o contexto situacional, colocando uma atenção especial nos factores da situação que segundo Murray (1991) e Dosil (2004) podem ser a estrutura organizativa, as exigências especificas e a flexibilidade dos estilo de liderança. De acordo com os trabalhos de Fiedler (1967), citados por Weinberg e Gould (1995), Mendo e Ortiz (2003) e Dosil (2004), podemos definir dois tipos de orientação: 1) líder orientado para o sujeito (relação) - incide a sua actuação nos aspectos comunicativos do grupo, nas relações entre os seus membros e na procura do equilíbrio no seio do grupo (cada um deve sentir-se bem com o papel que desempenha); 2) Líder orientado para a tarefa - centra-se no cumprimento dos objectivos propostos e no máximo rendimento, deixando para segundo plano as relações interpessoais entre os membros do grupo.

    Em termos prático, ambas as orientações tem vantagens e desvantagens (Noce, 2002). A orientação para a relação é mais eficaz quando estamos numa situação moderadamente favorável. Por outro lado, a orientação para a tarefa é mais apropriada quando a situação é muito favorável ou muito desfavorável (Weinberg e Gould, 1995).


Liderança eficaz

    Um das preocupações fundamentais nesta área de estudo da Psicologia do Desporto é conseguir que os treinadores e se convertam em líderes eficazes e contribuam para o desenvolvimento do atleta/equipa (Dosil, 2004). No entanto, uma questão se levanta: o que é um líder eficaz?

    De acordo com vários autores (Martens, 1987, Weinberg e Gould, 1995, Alves, 2000 e Dosil, 2004), qualquer tipo de liderança, para ser efectivo, deve apresentar um equilíbrio entre quatro componentes.


    Qualidades do Líder

    Como já foi mencionado anteriormente, os modelos baseados nas qualidades inatas do sujeito como líder tem vindo a ser abandonados, reconhecendo-se cada vez mais a importância do contexto e o efeito das aprendizagens adquiridas ao longo da vida. Apesar de não existirem um conjunto bem definido de traços da personalidade que garantam a condição de líder com êxito (Mendo e Ortiz, 2003), os estudos realizados indicam que é necessário que determinadas características estejam, no mínimo, presentes (Alves, 2000). Apesar de algumas já terem sido referidas anteriormente, Martens (1987), sintetiza essas qualidades da seguinte forma:

  • Inteligência;

  • Firmeza;

  • Optimismo;

  • Motivação intrínseca;

  • Empatia;

  • Habilidades de Comunicação;

  • Autocontrolo;

  • Confiança nos outros;

  • Persistência;

  • Flexibilidade;

  • Empenhamento, dedicação e responsabilidade;

  • Estimam e Ajudam os outros;

  • Identificam e corrigem problemas;

    Estilos de liderança

    Segundo Alves (2000), os líderes excelentes, para atingir as sua metas e optimizar o rendimento do grupo, utilizam estilos de actuação próprios que se designam por estilos de liderança. Em função das características da situação e dos liderados, o mesmo sujeito pode utilizar distintos estilos de liderança (Mendo e Ortiz, 2003), sendo os mais adoptados o autocrático e o democrático. Apesar de já terem sido abordados anteriormente, podemos utilizar a definição elaborada por Martens (1987) e Weinberg e Gould (1995):

  • Autocrático - estilo de comando, centrado na vitória e orientado para a tarefa;

  • Democrático - estilo cooperativo, centrado no atleta e orientado para o sujeito.

    Características dos liderados

    As características dos liderados (atletas) também são fundamentais para determinar a eficácia do processo de liderança (Weinberg e Gould, 1995). Alguns estudos demonstram que os liderados diferem naquilo que esperam do líder. Se uns se mostram mais disponíveis para aceitar responsabilidades e autonomia, outros sentem-se melhor quando são totalmente orientados (Alves, 2000). Vejamos alguns exemplos:

  • Idade - de acordo com Serpa (1990), os atletas mais jovens apresentam uma preferência maior pelos comportamentos democráticos e de suporte social e evidenciaram uma maior rejeição dos comportamentos autocráticos;

  • Sexo - de acordo com Weinberg e Gould (1995), os atletas do sexo feminino têm preferência por estilos de liderança mais participativos (democrático);

  • Nível de Capacidade - segundo Weinberg e Gould (1995), os atletas com um maior nível de habilidades preferem uma liderança orientada mais para o sujeito/relação;

  • Personalidade - de acordo com Serpa (1990), os sujeitos com um funcionamento mais cognitivo preferem comportamentos de instrução. Por outro lado, os indivíduos que se mostram mais impulsivos preferem comportamentos de suporte social;

  • Experiência - segundo Alves (2000), os atletas com um maior grau de maturidade evidenciam uma preferência por estilos mais democráticos que lhes concedam alguma autonomia e responsabilização;

    Factores situacionais

    Um líder deve ser sensível à especificidade da situação e do envolvimento (Weinberg e Gould (1995), sendo a premissa básica desta afirmação: diferentes situações, requerem diferentes actuações de liderança (Martens , 1987). Desta forma, podemos considerar que o líder eficaz é aquele que utiliza um estilo adequado a cada contexto (Alves, 2000). Nos factores situacionais podemos incluir:

  • Tipo de Modalidade - devido às exigências organizativas e estruturais os treinadores tem utilizado um estilo de natureza mais autocrática nos desportos colectivos e mais democrática nos individuais (Alves, 2000).

  • Nível de Participação - de acordo com Martens (1987), os atletas de elite preferem estilos participativos e comportamentos de suporte social, orientados mais para o sujeito;

  • Tamanho do grupo, tempo disponível para a prática, etc.

    Nenhuma das quatros componentes atrás mencionadas pode ser entendida isoladamente, todas fornecem um contributo importante para a compreensão do que pode ser um processo de liderança eficaz (Weinberg e Gould, 1995).


Modelos e teorias da liderança

    Como se sabe, ao longo dos tempos, muitos foram os psicólogos que tem centrado as suas preocupações no estudo do papel desempenhado pelos líderes e as suas implicações nas diversas esferas sociais (Dosil, 2004). Este facto conduziu a um desenvolvimento de várias teorias e modelos de liderança com a intenção de explicar o seu comportamento e a sua relação com o êxito do sujeito/grupo. A maioria dessas teorias e modelos surgiram no âmbito de várias áreas que não a desportiva (Weinberg e Gould, 1995). No entanto, o indiano Chelladurai (1978), citado por Weinberg e Gould (1995), Alves (2000) e Dosil (2004), após a identificação das características próprias das organizações desportivas e por considerar que as teorias vigentes não se aplicavam na sua totalidade ao fenómeno da liderança no desporto, propôs o seu Modelo Multidimensional e estabeleceu uma teoria que teve uma grande aceitação no âmbito da Psicologia do Desporto (Dosil, 2004).


    Modelo multidimensional de liderança no desporto de Chelladurai

    De acordo com Serpa (1990), Leitão, Serpa e Bártolo (1995), Weinberg e Gould (1995), Samulski (1995), Cruz e Gomes (1996), Alves (2000), Noce (2002) e Dosil (2004), neste modelo a performance e a satisfação do atleta, resultam dos comportamentos do treinador, aqueles que são exigidos pela situação, aqueles que são os preferidos pelos atletas e os comportamentos reais do treinador (adaptativos ou reactivos - conforme a adaptação comportamental do líder às condições do sistema organizacional e as reacções deste às necessidades, desejos e pressões dos atletas). Por sua vez, estes comportamentos podem ser influenciados ou condicionados pelas características do próprio treinador (formação desportiva, capacidade intelectual e instrumental, personalidade, experiência, etc.), pelas características dos atletas (nível de maturidade biológica e psicológica, motivações, idade, sexo, etc.) e pelas características da situação (estrutura formal da organização, objectivos a alcançar, normas e valores em vigor, factores da tarefa ou modalidade, etc.).

    Em suma, no modelo multidimensional o desempenho e a satisfação dos atletas/grupo são a consequência de uma harmonia entre três estados de comportamento do treinador (líder), que são influenciados pelas suas próprias características, da situação e da dos membros (Chelladurai, 1990). Segundo Alves (2000), a ideia fundamental que sobressai é que quanto maior for a congruência entre o que é pedido ao treinador (tanto pelos atletas, como pela situação) e as suas características, maior será a probabilidade de se obter um clima favorável ao rendimento e à satisfação dos membros do grupo.


Avaliação da liderança no desporto

    A importância da avaliação da capacidade de liderança de um treinador ou dirigente, reside no facto de se poder compreender melhor as características que devemos potenciar ou optimizar para que se possa alcançar melhor rendimento e satisfação entre os atletas (Dosil, 2004).

    Com base no modelo multidimensional de Chelladurai, foi desenvolvido um instrumento de avaliação que goza de uma grande aceitação por parte dos investigadores, o que motivou a sua tradução, adaptação e utilização em diversos países (Dosil, 2004).

    A Leadership Scale for Sport (LSS), foi desenvolvida por Chelladurai e Saleh (1978), e traduzida e adaptada para a população portuguesa por Serpa et al. (1989), passando a ser conhecida no nosso país por Escala de Liderança no Desporto (ELD). Este instrumento é composto por 3 versões: autopercepção - que nos revela a percepção do treinador do seu próprio comportamento; percepção - que se refere à percepção que os atletas têm do comportamento do seu treinador; preferências - que diz respeito às preferências dos atletas pelo comportamento do treinador.

    Cada uma das versões desta escala é constituída por 40 itens, aos quais se responde numa escala tipo Likert que varia entre 1 (nunca) e 5 (sempre). Posteriormente as respostas são agrupadas em cinco dimensões que representam o comportamento tipo do treinador/líder, que podemos sintetizar da seguinte forma:

  • Treino Instrução - voltado para a melhoria dos aspectos técnicos e tácticos da modalidade;

  • Suporte Social - interesse em relação ao bem-estar dos atletas;

  • Democrático - favorecimento da participação dos atletas nas tomadas de decisão;

  • Autocrático - favorecimento da autoridade pessoal do treinador e independência na tomada de decisão;

  • Reforço - relacionado com o reforço positivo dado ao atleta;

    De acordo com Cruz e Gomes (1996) e Dosil (2004), para além da Escala de Liderança no Desporto de Chelladurai e Saleh (1978), existem outros instrumentos de avaliação disponíveis e que são igualmente bem acolhidos no âmbito da investigação e da aplicação prática (consultar a bibliografia referente aos testes no anexo suplementar).

  • Leader Behavior Description Questionnaire (LBDQ), desenvolvido por Danielson, Zelhart e Drake (1975);

  • Coaching Behavior Assessment System (CBAS), desenvolvido por Smith, Smoll e Hunt (1977);

  • Medford Player-Coach Interaction Inventory (MPCII), desenvolvido por Medford e Thorpe (1986) e traduzido e adaptado para a população portuguesa - Inventário de Interacção Atleta-Treinador (IIAT), por Leitão, Serpa e Bártolo (1992);

  • Scale of Athlete Satisfaction (SAS), desenvolvido por Chelladurai, Imamura, Yamaguchi, Oinuma e Miyauchi (1988);

  • Sport Leadership Behavior Inventory (SLBI), desenvolvido por Glenn e Horn (1993);

  • Leadership Quality Scale (LQS), desenvolvido por Zhang e Pease (1995);


Recomendações práticas para o desenvolvimento da liderança eficaz

    Em primeiro lugar, e seguindo a sugestão de Dosil (2004), deve-se diferenciar a existência de diferentes tipo de liderança em função dos protagonistas envolvidos no contexto desportivo (dirigentes, treinadores, atletas, médicos, etc.), uma vez que cada um deles desempenha um papel distinto no seio do colectivo. De acordo com o mesmo autor, as lideranças mais usuais e aquelas que maior interesse tem para os psicólogos do desporto são:

  • Dirigentes - no essencial, devem ter em linha de conta as características próprias de cada modalidade e utilizar técnicas semelhantes às da psicologia organizacional;

  • Treinadores - devem "aprender e treinar" as suas competências neste domínio e caminhar no sentido de serem líderes eficazes (ver modelo de Martens, 1987);

  • Jogadores - quer de uma formal (através da sua escolha entre os membros), quer informal (emergir da interacção entre os membros), não se pode negar a existência de líderes/jogadores dentro dos grupos (Mendo e Ortiz, 2003). Compreender a sua influência nos comportamentos do colectivo e criar alianças de intervenção com ele pode fazer a diferença.

    No âmbito da liderança, o psicólogo do desporto pode assessorar e ajudar os treinadores e dirigentes a realizar uma análise das situações de modo a que tenham outra visão dos problemas e tomem decisões eficazes. Porém dois factores são fundamentais, para ter êxito como treinador/líder é necessário ser bom comunicador e ter uma boa coesão de grupo (Dosil, 2004). Martens (1987) também reforça este ponto, treinar as competências de comunicação e melhorar as relações interpessoais são as pedras basilares para o sucesso da liderança no desporto.

    Para além desses factores, Murray (1991), Cruz e Gomes (1996) e Noce (2002), sugerem algumas linhas de orientação prática que se baseiam em 3 estratégias principais:

  • Nova Concepção de Sucesso - dado que um dos poucos factores que os atletas podem controlar é o seu esforço e empenho, podemos fazer equivaler o conceito de sucesso à ideia de "dar o máximo de esforço";

  • Abordagem Positiva face ao Treino - a utilização do reforço positivo pelo esforço, pelo desempenho e pelo encorajamento após o erro motiva melhor o sujeito face às suas dificuldades, cria um clima muito mais agradável e diminui a ansiedade e o stress;

  • Percepção mais Realista dos Comportamentos - só com uma percepção realista e correcta das suas condutas é que o treinador pode melhorar e modificar os seus padrões de comportamento, no sentido de ir ao encontro das preferências dos seus atletas;

    Como se pode verificar, não é tarefa fácil o desenvolvimento da liderança no desporto, uma vez que as variáveis envolvidas neste processo são inúmeras. No entanto, num aspecto concordamos com Dosil (2004, pp. 229), a conjugação destas variáveis pode ser "a chave do êxito ou fracasso de uma equipa ou desportista".

    Como se pode constatar, através do modelo de multidimensional de Chelladurai de 1978, o objectivo principal da liderança eficaz é possibilitar o rendimento e a satisfação de cada um dos membros da organização desportiva. No entanto, importa saber que para atingir esse objectivo devemos ter em linha de conta que esses factores resultam dos comportamentos do líder (treinador) que são influenciados, não só pelas suas próprias características, mas também pelas características da situação e dos liderados (atletas).

    Para concluir esta tentativa de simplificar a explicação deste processo complexo que é a liderança no desporto, deixamos uma reflexão final que faz um sumário de tudo aquilo que aqui foi escrito sobre este tema - "a liderança eficaz passa por uma grande flexibilidade na adopção do estilo adequado a cada situação e pelo desenvolvimento de uma cultura própria do grupo que una todos os seus membros à volta dos mesmos objectivos" (Alves, 2000, pp.133).


Bibliografia

  • Alves, J. (2000). Liderazgo y Clima Organizacional. Revista de Psicología del Deporte, vol. IX, nº 1-2, pp.122-133;

  • Chelladurai, P. (1990). Leadership in Sport: a Review. International Journal of Sport Psychology, nº 21, pp.328-354;

  • Cruz, J. E Gomes, R. (1996). Liderança de Equipas Desportivas e Comportamentos do Treinador. In José Cruz (Ed) Manual de Psicologia do Desporto, Braga, SHO, pp.389-409;

  • Dosil, J. (2004). Psicología de la Actividad Física y del Deporte. Madrid, McGraw Hill;

  • Jesuíno, J. (1996). Processos de Liderança. Lisboa, Livros Horizonte;

  • Leitão, J., Serpa, S. e Bártolo, R. (1995). Liderança em Contextos Desportivos. Revista Psicologia, vol. X, nº 1-2, pp.15-29;

  • Martens, R. (1987). Coaches Guide to Sport Psychology. Champaign, Illinois, Human Kinetics;

  • Mendo, A. e Ortiz, J. (2003). El Liderazgo en los Grupos Deportivos. In Antonio Mendo (Ed) Psicología del Deporte, vol. I, Buenos Aires, Tulio Guterman Editora, pp. 6-28;

  • Murray, M. (1991). Eficácia del Liderazgo. In Jean Williams (Ed) Psicología Aplicada al Deporte, Madrid, Biblioteca Nueva, pp.157-176;

  • Noce, F. (2002). Liderança. In Dietmar Samulski (Ed) Psicologia do Esporte, São Paulo, Editora Manole, pp. 219-248;

  • Samulski, D. (1995). Psicologia do Esporte: Teoria e Aplicação Prática. Belo Horizonte, Editora UFMG;

  • Serpa, S. (1990). O Treinador como Líder: Panorama Actual da Investigação. Ludens, vol. 12, nº 2, pp.23-32;

  • Weinberg, R. e Gould, D. (1995). Foundations of Sport and Exercise Psychology. Champaing, Illinois, Human kinetics;


Bibliografia Suplementar
(Instrumentos de Avaliação da Liderança Aplicados ao Desporto)

Leader Behavior Description Questionnaire (LBDQ)

  • Danielson, R.R., Zelhart, P.F., & Drake, C.J. (1975). Multidimensional scaling and factor analysis of coaching behavior as perceived by high school hockey players. Research Quarterly, 46, 323-334

Coaching Behavior Assessment System (CBAS)

  • Smith, R. E., Smoll, F. L. y Hunt, E. B. (1977). A system for the behavioral assessment of athletic coaches. Research Quarterly, 48. pp. 401-407

Leadership Scale for Sport (LSS)

  • Chelladurai, P., & Saleh,S.D.(1978). Preferred leadership in sports. Canadian Journal of Sport Science,3,85-92

  • Serpa, S., Lacoste, P., Antunes, I., Pataco, V. e Santos, F. (1989). Metodologia de tradução e adaptação de um teste específico de desporto: a Escala de Liderança no Desporto. II Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia, Lisboa (documento não publicado)

Medford Player-Coach Interaction Inventory (MPCII)

  • Medford, P. e Thorpe, J. (1986). An inventory for measuring player-coach interaction. Perceptual and Motor Skills, 63, pp.267-270

  • Leitão, J., Serpa, S. e Bártolo, R. (1992). Liderança em contextos desportivos. Monografia de Licenciatura, Lisboa, ISPA (documento não publicado)

Scale of Athlete Satisfaction (SAS)

  • Chelladurai, P., Imamura, H., Yamaguchi, Y., Oinuma, Y., and Miyauchi, T. (1988). Sport leadership in a cross-national setting: The case of Japanese and Canadian university athletes. Journal of Sport and Exercise Psychology, 10, 374-389

Sport Leadership Behavior Inventory (SLBI)

  • Glenn, S. D., & Horn, T. S. (1993). Psychological and personal predictors of leadership behavior in female soccer athletes. Journal of Applied Psychology, 5, 17-34

Leadership Quality Scale (LQS)

  • Zhang, J. J., & Pease, D. G. (1995). Leadership qualities of athletic administrators: Development of a scale. Research Quarterly for Exercise and Sport: Abstracts Supplement, 66, 1, A50

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