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Aspectos do treinamento desportivo de
surfistas catarinenses profissionais

   
* Professor de Educação Física.
** Professor de Educação Física. Especialista em Fisiologia do Exercício.
Mestrando em Ciências do Movimento Humano.
*** Laboratório de Pesquisa Morfo-Funcional.
Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos.
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis - SC.
 
 
San Huei Liu*  
José Murillo da Serra Costa Neto* ***  
Daniel Guimarães Ribeiro* ***  
Vitor Pereira Costa** ***
tavp@nextwave.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     O nível competitivo entre os surfistas profissionais durante os campeonatos tem se elevado nos últimos anos, sendo necessária a busca de informações por atletas e profissionais habilitados, com intuito de otimização dos resultados. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi caracterizar os aspectos do treinamento desportivo realizado pelos surfistas profissionais de Santa Catarina (Brasil). Foram selecionados 10 surfistas profissionais (24,5 ± 4,1 anos) que responderam há um questionário com perguntas relevantes sobre os aspectos de treinamento e nutricionais. Os resultados indicam que grande parte dos atletas não realiza avaliações periodicamente. Apesar de (80%) possuírem um treinador, foi escasso o acompanhamento de um profissional habilitado durante as sessões de treino e/ou competições. Muitos atletas não seguem orientação nutricional (70%), no entanto, 40% utilizam carboidratos e 30% aminoácidos. Assim, percebe-se que são insuficientes as informações específicas sobre as características do treinamento desportivo de surfistas profissionais, os resultados obtidos no presente estudo, indicam que grande parte dos surfistas profissionais catarinenses, treina de forma inadequada, sendo incompatível com o treinamento desportivo contemporâneo.
    Unitermos: Surfistas profisionales. Treinamento desportivo. Otimização dos resultados.
 
Abstract
     The competitive level of the professional surfboard riders during the championships has raised in the last years, being necessary the qualified search of information for athletes and professionals, with intention to upgrade of the results. In this direction, the aim of this study was to characterize the aspects of the sports training realized through by the professional surfboarders of Santa Catarina (Brazil). 10 professional surfboarders have been selected (24,5 ± 4.1 years) that they have answered a questionnaire with relevant questions about the aspects of training and nutrition. The results indicate that many athletes do not carry through evaluations periodically. Although (80%) have a coach, was scarce the accompaniment of a professional qualified during the sessions of trainings and/or competitions. Many athletes do not follow nutritional orientation (70%), however, 40% use carbohydrates and 30% amino acids. Thus, one perceives that the specific information are insufficient on the characteristics of the sports training of professional surfboarders, the results gotten in the present study, indicate that many professional surfboarders in Santa Catarina, trains of inadequate form, being incompatible with the sports training contemporary.
    Keywords: Professional surfboard. Sports training. Professionals. Upgrade of the results.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 100 - Septiembre de 2006

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Introdução

    Atualmente acredita-se na crescente expansão do surf como um esporte com maior amparo científico, em que regras e condutas são previamente discutidas e padronizadas com o embasamento necessário, para a otimização do desempenho dos praticantes. No entanto, no cotidiano de grande parte dos atletas, especula-se que poucos surfistas utilizam-se de meios, métodos e técnicas, bem como não apresentam o treinamento desportivo bem definido (MOTTA, 1998; ROSA, 1996).

    A carência de referências bibliográficas sobre o surf na literatura, representa um desafio aos profissionais da área, pois pouco se sabe sobre as atividades que os atletas realizam para melhorar sua performance (MOTTA, 1998; MENDEZ-VILLANUEVA et al., 2005). Bompa (2002) apresenta que a necessidade do homem em organizar métodos e sistemas de treinamento, é proveniente da propensão natural da humanidade em realizar provas que pudessem ser aferidas as habilidades e capacidades dos competidores. Neste sentido, o desempenho de surfistas profissionais que se destacam no cenário internacional, nos reflete sobre a elaboração de sua prática diária desportiva.

    A falta de preparação adequada pode fazer com que um ou mais variáveis relacionados com o desempenho, como a produção de energia aeróbia e anaeróbia, força muscular, coordenação, economia de movimentos e fatores motivacionais, não sejam maximizados e conseqüentemente trazer prejuízo ao desempenho do surfista. Assim, o objetivo deste estudo foi caracterizar os aspectos do treinamento desportivo realizado pelos surfistas profissionais de Santa Catarina (Brasil).


Metodologia

    A amostra do presente estudo é do tipo não-probabilística intencional (RUDIO, 1986). Este estudo recebeu apoio da Federação Catarinense de Surf (FECASURF). Foram selecionados 10 surfistas profissionais que competem no Circuito Profissional Catarinense, com idade média de 24,5 ± 4,1 anos.

    Após ler e assinar o termo de Consentimento Informado, foi aplicado voluntariamente um questionário que buscou relatar os aspectos relevantes do treinamento desportivo dos surfistas. O questionário foi aplicado individualmente, em local previamente agendado, com a presença do pesquisador para esclarecimento de eventuais dúvidas.

    Os dados obtidos foram tabulados e direcionados para análise da estatística descritiva através do software Excel®, expressa em gráficos com distribuição freqüências simples e percentuais da amostra através do software GraphPad Prism® 4.0.


Resultados

    O questionário avaliado, revela que 60% dos atletas recebem algum tipo de apoio e 30% patrocínio, sendo que alguns surfistas já pensaram em abandonar o esporte por falta de incentivo financeiro. O gráfico 1 representa os profissionais da área de saúde que auxiliam na preparação dos surfistas.

Gráfico 1. Distribuição percentual dos profissionais da área de saúde que auxiliam na preparação dos atletas.
Tre (treinador), Nutri (nutricionista), Psico (psicólogo), Fisio (fisioterapeuta), Mas (massagista) e Med (médico).

    Sobre o volume de treinamento no mar, 60% dos surfistas treinam entre 6 a 7 dias semanais, sendo que nenhum apresentou freqüência inferior há 4 dias semanais. Em adição, 70% surfam entre 2 a 3 horas e 30% acima de 3 horas. A tabela 2 representa diferentes tipos de atividades complementares que são utilizadas para otimização do treinamento .

Gráfico 2. Distribuição percentual dos exercícios físicos complementares que auxiliam na preparação dos atletas.
Cor (corrida), Nat (natação), Cic (ciclismo), Pil (pilates), Alg (alongamentos) e Mus (musculação).

    Apenas 40% dos participantes já foram submetidos a avaliações laboratoriais, sendo que, somente 20% utilizam as variáveis identificadas para o controle do treinamento.

    Aproximadamente 80% dos atletas desconhecem algum tipo de variável preditiva de performance. Em adição, o monitoramento da freqüência cardíaca é utilizado como referencia apenas nas modalidades esportivas complementares, não sendo utilizado durante o surf.

    Em relação à nutrição, 70% dos surfistas realizam entre 4 a 6 refeições diárias, sendo que, 60% se alimentam até uma hora após as sessões diárias de treinamento. Aproximadamente 50% dos atletas ingerem suplementos alimentares distribuídos no gráfico 3.

Gráfico 3. Distribuição percentual dos suplementos nutricionais que auxiliam na preparação dos atletas.
Cho (carboidratos), AA (aminoácidos), Vit - sm (vitaminas e sais minerais).


Discussão

    O questionário avaliado, sugere que, de uma forma feral, grande parte dos atletas recebe algum tipo de acompanhamento realizado por um profissional habilitado na área desportiva. Os resultados indicam a predominância participação de treinadores (70%) no processo pedagógico de preparação física, técnica e tática; sendo destacada também a participação de massagistas (50%). No entanto, os surfistas que são orientados por profissionais relatam que não são acompanhados durante as sessões de treino e/ou competições. Desta forma, percebe-se a necessidade de aproximação dos treinadores perante a realidade diária do surf.

    Apesar de serem orientados, apenas 40% dos atletas foram submetidos a algum tipo de avaliação, sendo que grande parte dos surfistas desconhece qualquer tipo de variável preditiva de performance. Desta forma, percebe-se pequenas lacunas em alguns aspectos relacionados com a preparação física dos atletas profissionais, pois a prescrição de exercícios deve ser efetuada a partir de avaliações físicas e controladas por variáveis identificadas nos testes.

    Segundo Lowdon et al., (1987) as qualidades físicas que se destacam na pratica do surf são as seguintes:

  1. Velocidade, força e agilidade para realizar manobras;

  2. Resistência aeróbia para remar;

  3. Força para entrar na onda.


    Além dessas qualidades físicas, os aspectos relacionados ao metabolismo energético também precisam ser considerados. A prática diária revela que 70% dos atletas surfam entre 2 a 3 horas e 30% acima de 3 horas. Devido ao tempo de duração, verifica-se a predominância do metabolismo aeróbio, sendo que os momentos específicos que requerem força e velocidade, utilizam a participação do metabolismo anaeróbio. Assim a prática do surf exige do surfista resistência aeróbia para remar, força para entrar na onda e força, velocidade e agilidade para realizar manobras.

    Sobre o volume de treinamento semanal, verifica-se que grande parte dos surfistas treina entre 6 a 7 dias por semana (60%). Isto se justifica pois todos são atletas profissionais e grande parte recebe algum tipo de apoio ou patrocínio. No entanto, os modelos tradicionais de periodização do treinamento, requerem progressão das cargas de trabalho bem como descanso adequado para recuperação do organismo (BOMPA, 2002). Assim, faz-se necessário o controle das cargas de treinamento visto que o volume semanal é elevado.

    Em relação ao treinamento complementar, a maioria dos atletas realiza esportes que visam maximizar o desempenho da capacidade aeróbia, destaque para a corrida (70%) e natação (60%), sendo também realizado alongamentos (70%) e musculação (40%). Novamente vale ressaltar a participação do treinador devido a grande demanda de atividades impostas ao organismo.

    Apesar de apenas 30% dos participantes serem acompanhados por um nutricionista, muitos surfistas utilizam suplementos nutricionais como recurso ergogênico durante a temporada de treinamento e/ou competições. Percebe-se a predominância na utilização de carboidratos (40%), sendo que alguns também utilizam aminoácidos (30%) e complexos vitamínicos com sais minerais (10%). A falta de conhecimento específico sobre a correta ingestão de nutrientes necessária aos surfistas, pode explicar em parte a utilização de diferentes tipos de substâncias. È reconhecida participação de aminoácidos como substrato energético em atividades de longa duração (BROOKS, 1987). No entanto, pouco se conhece, sua contribuição durante o surf competitivo, visto que as baterias apresentam a duração de aproximadamente de 15 minutos.


Conclusão

    Apesar da evolução e da quantidade insuficiente de informação específica sobre as características do treinamento desportivo de surfistas profissionais, os resultados obtidos no presente estudo, indicam que grande parte dos surfistas profissionais em Santa Catarina está treinando de forma inadequada, sendo incompatível com o treinamento desportivo contemporâneo. Por todos estes aspectos acima citados, destacam-se apenas fatores relacionados com a preparação física e nutricional, sendo necessário um maior comprometimento dos treinadores e surfistas no treinamento desportivo. Futuras investigações em relação ao treinamento técnico e tático são necessárias para destacarem os aspectos das diferentes qualidades físicas no surf.


Referências bibliográficas

  • BOMPA T. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 1a ed. São Paulo: Phorte, 2002.

  • BROOKS, GA. Amino acid and protein metabolism during exercise and recovery. Medicine and Science in Sports and Exercise. 19: S150 - S156, 1987.

  • LOWDON, BJ; et al. Injuries to international competitive surfboard riders. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness. 27: 57-63, 1987.

  • MENDEZ-VILLANUEVA A. et al., Upper body aerobic fitness comparison between two groups of competitive surfboard riders. Journal of Science and Medicine in Sport. Mar;8(1): 43-51, 2005

  • MOTTA, FB. Análise crítica do treinamento dos surfistas amadores de Santa Catarina. Monografia de graduação. Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil, 1998.

  • ROSA, FA. A influência na preparação física dos surfistas. Monografia de graduação. Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil, 1996.

  • RUDIO, FV. Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis: Vozes, 1986.

Fotos: Vitor Pereira Costa

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