Resumo
Partindo da premissa que os recursos oferecidos pela internet podem ser uma importante ferramenta auxiliar de pesquisa e principalmente de estabelecimento de redes de intercâmbio, este estudo pretende apresentar algumas recentes experiências nacionais e internacionais na utilização de tais possibilidades no âmbito da História da Educação Física e do Esporte. Este artigo pretende ser informativo, já que apresenta concretamente endereços e indicações de uso; mas também convoca todos a tomarem parte no processo de aperfeiçoamento das iniciativas já em curso.
Unitermos: História da Educação Física e do Esporte. Internet. Pesquisa.

Abstract
INTERNET LIKE A AUXILIARY RESOURCE INVESTIGATING IN THE AREA OF THE PHISICAL EDUCATION AND SPORT HISTORY: NACIONAL AND INTERNATIONAL EXPERIENCES
Since the premise that the resources offered by the Internet, could be an important auxiliary tool for investigation and mainly for establishment of nets of exchange, this study intended to present some recent, national and international experiences, in the use of such possibilities in the environment of the Physical Education and Sport History. This article intended to be informative, since it shows directions and instruction of use; but it also summon to all to take part in the process of improvement of the initiatives already in course.
Key words: History of the Physical Education and of the Sport. Internet. Investigation.

1. Introdução
Já há algum tempo realidade no cenário internacional, somente nos últimos anos a internet passou a ocupar de forma mais significativa o cotidiano dos brasileiros. Embora com alguns percalços, devido a dificuldades como a demora para a regulamentação do oferecimento dos serviços e a péssima qualidade de nossas linhas telefônicas, não há como negar que nos últimos três anos tem crescido pronunciadamente o uso e o conhecimento dos recursos da grande rede. Antes meras palavras estranhas, nos dias de hoje parte significativa da população pelo menos já deve ter ouvido falar em web, e-mail e outros termos peculiares. Já existe efetivamente até mesmo um mercado em torno e no interior da internet, com o surgimento de revistas, livros, estratégias de marketing e vendas através da rede, entre outras.

Entre os pesquisadores não parece ser diferente. As universidades têm procurado se equipar para oferecer as condições de acesso necessárias (ou possíveis), muitas listas de discussão têm surgido, o número de home-pages têm crescido exponencialmente, as iniciativas ligadas à rede têm despontado e diversos têm sido os debates acerca da necessidade, das possibilidades e das peculiaridades de seu uso, de tal forma que as manifestações de desconfiança, muito comuns no início, foram substituídas por um leve sentimento de confiança. Há mesmo uma tendência à aceitação mais efetiva da importância desses recursos para o trabalho do pesquisador/professor.

Obviamente, nesse processo nem tudo foi perfeito e adequado. O crescimento assombroso trouxe também injunções que longe de auxiliarem o pesquisador/professor, o atrapalham e o incomodam. A enorme quantidade de informação disponível muitas vezes leva o pesquisador a perder horas com um aproveitamento mínimo. A característica não-censurável da rede, junto com sua potencialidade de rápida divulgação, também permitiu o aparecimento de manifestações de preconceito e/ou informações com um grau de aprofundamento mínimo, insuficiente e determinadas vezes até mesmo pernicioso para alguém que procura apurar seus conhecimentos. Aumenta, logo, a desconfiança sobre a real importância da grande rede. Seria a internet mais uma panacéia, destinada a troca de trivialidades (de forma mais rápida que o correio tradicional, é bem verdade)?

Dentro desse contexto, iniciativas começam a ser encaminhadas para minimizar tais problemas, potencializando as possibilidades tão propagadas. De maneira geral, a rede fragmenta-se, divide-se em grupos de perfil mais homogêneo, procurando agrupar melhor interessados em determinado assunto, muitas vezes até mesmo com restrições quanto a propagação das mensagens.

Longe de enaltecer de forma apaixonada ou de condenar com intolerância, este estudo pretende apresentar algumas recentes experiências nacionais e internacionais na utilização de possibilidades oferecidas pela internet no âmbito da História da Educação Física e do Esporte, partindo da premissa que tais recursos podem ser uma importante ferramenta auxiliar de pesquisa e principalmente de estabelecimento de redes de intercâmbio.

Logo, este trabalho pretende ser informativo, já que apresenta concretamente endereços e indicações de utilização; mas também convoca todos a tomarem parte e a auxiliarem nesse processo de aperfeiçoamento das iniciativas já em curso.

2. Internet e o estudo da História da Educação Física e do Esporte no Brasil: primeiras preocupações
No Brasil, as primeiras iniciativas de utilização da internet para o estudo e divulgação da História da Educação Física e do Esporte surgiram no âmbito do Grupo de Estudo de História da Educação Física, do Esporte e do Lazer (GEHEFEL), da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF-Unicamp), conduzidas por Guanis de Barros Vilela Júnior.

Vilela Júnior apresentou suas preocupações e propostas em artigo publicado na coletânea do III Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e Educação Física, realizado em 1995, na Universidade Federal do Paraná³ . Naquele artigo, o autor começa apresentando um pouco da história, dos conceitos e do jargão técnico da internet, reservando os parágrafos final para importantes observações.

Ao perceber que os recursos da internet eram ainda bastante desconhecidos e/ou sub-utilizados pelos pesquisadores na área, Vilela Júnior propõe um esforço coletivo no sentido de garantir maior presença e a acessabilidade do GEHEFEL:

"Entendemos que nossos esforços devam se concentrar na elaboração de uma home-page (tela gráfica para navegação por hipermídia), através da qual possa ser acessada a produção acadêmica do GEHEFEL, sejam artigos, teses, além de um banco de dados bibliográficos. Como já vimos anteriormente, esta tela gráfica de fácil navegação é possível com a utilização do WWW" (VILELA JÚNIOR, op.cit., p.332).

Assim, foram dados os primeiros passos. A home-page do GEHEFEL foi construída e até hoje está disponível, embora não tenha avançado muito na disponibilização de informações.

3. O Centro Esportivo Virtual e a 'Efesport-l'
Partindo da mesma compreensão - a necessidade de convocar os pesquisadores na área de Educação Física/Ciências do Esporte a conhecerem e a utilizarem a internet, Laércio Elias Pereira, que desde a década de 80 vem se envolvendo com o estudo do uso de novas tecnologias/informática para a Educação Física, criou, em julho de 1996, o Centro Esportivo Virtual (CEV). O CEV é um sítio construído de forma cooperativa que pretende aglutinar o maior número possível de informações sobre a Educação Física/Esporte, entendidas em sua mais diversas perspectivas (estudo, pesquisa, curiosidades, competições etc.). Na página do CEV, disponível em , é possível encontrar desde calendários de congressos, dissertações e teses na área, ligações com outras instituições de ensino e pesquisa da Educação Física/Ciências do Esporte, lista de revistas da área até endereços de Federações/Confederações esportivas.

No mesmo ano, Pereira criou a 'Efesport-l', uma lista de discussão⁴ para os pesquisadores da área. A pequena iniciativa tomou vulto e hoje (março de 1998) já congrega mais de 280 assinantes das mais distintas áreas de formação⁵ . Cremos que esta lista de discussão foi de grande importância para a popularização da internet em nossa área, devido às suas características de interatividade e intercâmbio maior (agilidade na troca de informações e contatos) e até mesmo à sua possibilidade facilitada de uso, pois para acessar às páginas W3 se faz necessário uma aparelhagem mais sofisticada, enquanto para o uso do correio eletrônico um computador simples já é suficiente.

A partir dessa experiência vitoriosa, com o crescimento do número de participantes e a diversificação dos interesses, já em 1997 foram criadas listas específicas de discussão. Uma das primeiras listas específicas a serem criadas, na estrutura do CEV-Efesport, foi a 'Cevhist-l': a lista de discussão de História da Educação Física e Esporte. Provavelmente tal lista esteve entre as primeiras a serem criadas na medida que as informações sobre o assunto já estavam sendo divulgadas periodicamente na lista 'Efesport-l'. Logo, de alguma forma a lista 'Cevhist-l' surgiu de um movimento no interior da 'Efesport-l'.

4. A 'Cevhist-l'
A 'Cevhist-l'⁶ começou suas atividades no dia 05 de fevereiro de 1997. Hoje somos mais de 85 assinantes, de 10 países diferentes (Alemanha, Brasil, Argentina, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Portugal e Suiça). Desde sua criação já foram trocadas mais de 600 mensagens.

Nesse período de funcionamento já foi possível perceber uma significativa mudança na característica da lista de discussão. Tais mudanças têm sido observadas em várias outras listas, brasileiras e internacionais, de tal ordem que até se começa a falar não mais em listas de discussão, mas em listas de divulgação e/ou listas de interesse.

A 'Cevhist-l' sentiu tal mudança claramente. De fato, a divulgação sempre ocupou espaço significativo na lista. Desde seus momentos iniciais já foram divulgados congressos e eventos científicos em todo o mundo, seções específicas de história nos congressos nacionais gerais, índices de todas as revistas do assunto publicadas no mundo, associações científicas específicas nacionais e internacionais, artigos específicos publicados em revistas gerais, novos livros sobre a temática, informações sobre centros de documentação e museus, entre outras.

No princípio, contudo, além da divulgação houve uma rica discussão sobre os aspectos epistemológicos e metodológicos da História da Educação Física e do Esporte Algumas perguntas centrais foram: seria correto falar em História da Educação física e do Esporte? Existiria uma História da Educação Física e do Esporte? E como devemos estudar/pesquisar tal assunto? A presença de pesquisadores de diferentes áreas originais de formação (historiadores de formação, professores de educação física, pedagogos, geógrafos etc.), bem como de diferentes nacionalidades foi bastante interessante para tornar mais múltiplas tais discussões.

Mas uma lista de discussão pode funcionar para além disso. Mais do que permitir o trâmite de informações (uma importante função em um mundo globalizado e com tamanha quantidade de conhecimento sendo produzida) e discussões específicas sobre o assunto, ela permite o encontro de pares que de outra forma muito mais dificilmente se encontrariam. Na lista, os mais de 80 pesquisadores podem trocar seus interesses e manifestar suas necessidades, não sendo incomum a ajuda e o interesse mútuo. Em nossa lista não foram poucos os exemplos nesse sentido. Temos, por exemplo, a possibilidade de contar com importantes figuras da História da Educação Física e do Esporte na Europa, o que tem nos facilitado o conhecimento e a participação nas iniciativas daquele continente.

Ainda mais, a 'Cevhist-l' pretende marcar mais diretamente suas discussões e contribuições. Assim, algumas iniciativas têm sido encaminhadas. Uma delas é a criação de um sítio de História da Educação Física e do Esporte, dentro da estrutura do CEV, ligado ao sítio do GEHEFEL e aos mais importantes sítios do assunto no mundo. Nesse sítio, pretendemos agrupar o maior número de informações possíveis sobre o assunto: outras listas de discussão, informações sobre congressos específicos ou com seções próprias; livros, dissertações/teses, artigos publicados em revistas e anais; projetos de pesquisa; programas das disciplinas; perfil dos pesquisadores, softwares que possam colaborar com o trabalho de pesquisa e tudo mais que for possível e interessante. O sítio está em construção e em breve estará no ar.

Outras iniciativas são a construção de uma bibliografia brasileira de História da Educação Física e do Esporte, recentemente concretizada pelos professores Victor Andrade de Melo e Patrícia Genovez⁷ , e futuramente a confecção de um catálogo dos pesquisadores na área no Brasil. Com essas duas iniciativas espera-se facilitar o trabalho dos interessados no assunto.

A lista pretendia também editar duas publicações eletrônicas. Uma delas já está em andamento, sendo na verdade uma pequena iniciativa de auto-divulgação da lista. O 'Balanço Mensal da Cevhist-l' divulga o andamento dos trabalhos, o estágio das principais ações, os congressos e revistas nacionais. É somente distribuída, via eletrônica, aos assinantes da lista, aos assinantes da 'Efesport-l' e aos assinantes da lista argentina de discussão sobre Educação Física e do Esporte.

A outra iniciativa é mais ousada e de difícil execução. Uma das vantagens da internet é permitir a publicação eletrônica, sem o uso do papel. De nenhuma maneira essa iniciativa substituirá o 'bom e velho papel', mas pode ser uma alternativa viável para a falta de verbas na hora da edição. Além disso, facilita a divulgação internacional dos trabalhos.

Logo, a lista tem o projeto de futuramente editar um caderno anual sobre o assunto, sempre dedicando espaço para a discussão privilegiada de uma temática. Além de aberto a colaborações, serão convidados pesquisadores para escrever sobre tal temática. Toda a montagem do caderno (a idéia inicial foi de uma revista, substituída nesse momento devido às dificuldades) já foi discutida pelos membros da 'Cevhist-l', desde o título da publicação, passando pelas normas até a sugestão de nomes para o Conselho Editorial e convidados para escrever no primeiro número. Esse caderno seria distribuído por disquete e viabilizado no sítio de História do CEV. Esperamos em breve retomar essa idéia.

Enfim, cabe entender que uma lista é uma construção coletiva e a contribuição de todos os assinantes têm garantido um caminhar paulatino e seguro.

5. Internet e História da Educação Física e do Esporte no mundo
Internacionalmente existem também iniciativas de utilização dos recursos da internet para o estudo e a dinamização de informações sobre a História da Educação Física e do Esporte. Curioso observar que as iniciativas internacionais enfrentam os mesmos problemas e mudanças de sentido que as nacionais, estando entretanto mais avançadas, até mesmo porque existem a mais tempo.

No que se refere às listas de discussão, destaca-se a 'Sporthist', que é a lista de discussão internacional de História da Educação Física e do Esporte⁸ , com a chancelaria da International Society of History of Physical Education and Sport (ISHPES). São cerca de 300 pesquisadores/interessados reunidos. As mensagens de maior interesse para os pesquisadores brasileiros são distribuídas na 'Cevhist-l'. Além dessa podemos destacar a lista espanhola, a lista australiana e a lista britânica de História da Educação Física e do Esporte, não tão ativas quanto a anterior.

Já no que se refere às home-page, podemos encontrar a da North American Society of Sport History (NASSH)⁹ e a da British Society of Sport History (BSSH)¹⁰ , que parece ser a principal página sobre o assunto.

Esse fantástico trabalho, organizado e conduzido pelo Dr. Richard Cox, oferece grande diversidade para os pesquisadores da área. Lá é possível encontrar informações sobre a BSSH, índices de revistas específicas, anais de congressos, bibliografias, recentes publicações, lista de web, diretório de historiadores do esporte, lista de museus do esporte e exposições, lista de bibliotecas, dados diversos, ligações com editoras e com sociedades científicas, entre outras. Através de contato com o prof. Cox, já temos inclusive os títulos dos trabalhos apresentados nos três primeiros Encontros Nacionais, traduzidos para o inglês, disponibilizados nessa home-page.

Na verdade, o prof. Cox tem escrito bastante acerca das possibilidades da internet e do computador para os pesquisadores de história da Educação Física e do Esporte. Por exemplo, publicou artigo recente no International Journal of History of Sport sobre o uso de computadores e bancos de dados como auxiliares para o levantamento de fontes¹¹ . Cabe lembrar que já temos no Brasil um trabalho semelhante, embora bastante parcial, com o levantamento de fontes ligadas à Educação Física e ao Esporte encontráveis nos catálogos da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro)¹² . Esse trabalho será disponibilizado em download logo que o sítio de História estiver em funcionamento.

O professor publicou também, em 1995, o livro 'The internet as a resource for the sports historians'¹³ . Embora tenha recebido críticas de Suzanne Wise (1997)¹⁴ , principalmente devido ao enfoque excessivo no interesse específico dos historiadores britânicos e problemas de desatualização/má impressão que podem causar confusões, penso que não há como negar a importância da iniciativa. Com as ações da 'Cevhist-l' pensamos estarmos caminhando em sentido aproximado.

6. Algumas palavras finais
Enfim, paulatinamente a internet vai se apresentando e sendo considerada como uma ferramenta interessante para o trabalho do pesquisador na área de História da Educação Física e do Esporte. Já não mais encontramos a mesma situação descrita por Vilela Júnior (op. cit.) anteriormente, contudo ainda estamos longe do que desejamos.

Na verdade, precisamos construir uma 'cultura de uso da internet', de forma que os pesquisadores não somente saibam como utilizar os recursos, como também o façam de forma ativa e crítica. Para os que querem assinar agora, temos também mecanismos pora oferecer um panorama e resumo do que já se passou. No caso da 'Cevhist-l', isto pode ser quase plenamente encontrado, pois grande parte das mensagens está cadastrada em uma home-page própria para tal (reference.com), sem falar na recente iniciativa do CEV de recuperar as antigas mensagens¹⁵ . Em breve todas as mensagens já trocadas pela 'Cevhist-l' poderão ser recuperadas. Além disso, os 'Balanços Mensais' oferecem uma boa visão sobre o assunto.

Desafios e sonhos. Somente o futuro poderá nos mostrar definitivamente se esse mecanismo é ou não útil; se é ou não uma perda de tempo para o pesquisador. No momento, apostamos nossas fichas nas boas possibilidades que se apresentam, reforçamos nossa vontade/necessidade de trabalhar pesado e convidamos todos a participarem nessa construção¹⁶.