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Análise das variáveis determinantes 

de desempenho no teste físico FIFA

Análisis de las variables determinantes en el rendimiento en la prueba física FIFA

Analysis of the main determinants from performance in FIFA physical test

 

Curso de Bacharelado em Educação Física

Universidade de Caxias do Sul

Caxias do Sul, RS

(Brasil)

Yonel Ricardo de Souza

Denisson Campara Cavagnoli

Eduardo Ramos da Silva

edurramos@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi analisar a associação de variáveis morfológicas e funcionais no desempenho do teste físico para árbitros da FIFA. Inicialmente foi aplicado o teste físico FIFA em 140 sujeitos jovens, condicionados e saudáveis. Posteriormente, foram escolhidos 50 participantes: grupo aprovado (n = 25) e reprovados (n = 25). Os grupos foram então avaliados nas variáveis índice de massa corporal (IMC), percentual de gordura, potencia de membros inferiores, potência anaeróbia máxima, velocidade, agilidade, índice de fadiga e VO2max. Concluiu-se que percentual de gordura, potência muscular de membros inferiores, potência anaeróbia máxima e índice de fadiga parecem ser determinantes na aprovação do teste FIFA para árbitros e que IMC e agilidade não apresentam valor preditivo para a aprovação no teste. A velocidade mostrou-se inversamente determinante para o teste.

          Unitermos: Árbitro. Teste FIFA. Desempenho.

 

Abstract

          The aim of this study was to analyze the association of morphological and functional performance of the physical test for FIFA referees. Initially we applied the FIFA fitness test in 140 young subjects, healthy and conditioned. Subsequently, 50 participants were chosen from among all tested by dividing into two groups: approved (25 subjects) and disapproved (25 subjects) The following variables were evaluated for body mass index (BMI), fat percentage, power of lower limb, maximal anaerobic power, speed, agility, fatigue index and VO2max. It was concluded that body fat percentage, lower limb muscle power, maximum anaerobic power and fatigue index seem to be crucial in the approval test for FIFA referees and who demonstrate agility and BMI is not crucial to passing the test. The speed was inversely determines the test.

          Keywords: Referee. FIFA test. Performance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol, como afirma Aquino (2002), é um dos esportes mais populares e praticados no mundo, assim como no Brasil. Existem mais países filiados a FIFA do que associados à Organização das Nações Unidas (ONU). A grande quantidade de investidores faz do futebol uma importante ferramenta de marketing. Um exemplo disto são empresários que adquirem clubes e os gerenciam como mais uma de suas empresas, como o CHELSEA (Inglaterra) e CSKA (Rússia). Outro fator ainda mais comum relacionado ao futebol, é a compra e venda de jogadores, principalmente para clubes europeus, árabes, russos, prática que movimenta milhões de euros. Inserido neste contexto, de popularidade, paixão, profissionalismo e cifras, existe uma figura responsável por dirigir uma partida de futebol, tendo autoridade total para fazer cumprir as regras do jogo: o árbitro (INTERNACIONAL FOOTBALL ASSOCIATION BOARD, 2008).

    Antes do seu surgimento, o jogo era arbitrado pelo censo comum dos jogadores. A inserção do árbitro ocorreu gradualmente. Primeiramente ele só entrava em ação quando algum dos times o solicitava (ANTUNES, s/f). Aquino (2002) relata que em 1881 o árbitro passou a atuar dentro das quatro linhas, mas quem cumpria este papel era um representante de um dos clubes. O mesmo autor, ainda acrescenta que em 1891 surgiu oficialmente o “juiz” principal e dois “juízes” auxiliares através da regra, com suas funções, poderes e deveres nela determinados. Tal é a importância do árbitro, que Caron et al (1976) definem o árbitro de futebol como um desportista qualificado por suas competências físicas, intelectuais, morais e técnicas, para dirigir uma partida. Com o futebol de alto rendimento, o árbitro deve estar muito bem preparado, além da parte intelectual, técnica e psicológica, deve estar igualmente preparado no que diz respeito às condições físicas (AQUINO, 2002).

    Segundo Raymundo et al (2005), com o passar dos anos, o resultado foi sendo muito cobrado dos atletas. A ênfase na técnica do futebol (futebol arte) foi substituída pelos componentes físicos (futebol força). A força, a resistência e a velocidade apareceram cada vez mais nos jogos. O árbitro, por possuir responsabilidades na decisão dentro deste contexto, deve acompanhar de perto os movimentos do jogo. Para Rebelo et al (2002) os jogos tem sido cada vez mais intensos, exigindo do árbitro uma melhor aptidão física e estar no local certo e no momento certo.

    Preocupada com estes aspectos, em 2006 a Federação Internacional de Futebol (FIFA) decidiu modificar seu teste de avaliação para árbitros, já aplicado na avaliação dos árbitros pré convocados para a Copa do Mundo da Alemanha. Posteriormente, os países integrantes da FIFA foram adaptando seus testes a fim de assemelhá-los ao teste FIFA.

    O novo teste físico FIFA, contém prioritariamente características tanto aeróbias quanto anaeróbias manifestas por 6 sprints de 40 metros em, no máximo, 6,2 segundos, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos; e o teste de rendimento aeróbio com corridas em intensidade sustentadas (20 repetições) de 150 metros em 30 segundos cada, com intervalo de 35 segundos entre os sprints (FIFA, 2006). Provas com estas características podem estar ligadas a algumas capacidades e características morfológicas e funcionais que, se treinadas, possibilitariam a aprovação no teste físico FIFA.

    Devido ao fato de não ter sido encontrado na literatura nenhum estudo que analisasse a relação entre o desempenho no referido teste e variáveis condicionantes, o objetivo do presente estudo foi analisar a associação de variáveis morfológicas e funcionais no desempenho de sujeitos jovens, condicionados e saudáveis no teste físico para árbitros da FIFA.

Materiais e métodos

Amostra

    O presente estudo foi realizado no município de Caxias do Sul, inicialmente com 140 jovens saudáveis fisicamente ativos do sexo masculino com idades entre 18 e 19 anos e depois, 50 escolhidos aleatoriamente. Antes de se iniciar a anamnese, procedimentos foram tomados para preservação do caráter ético da pesquisa, como garantia da anonimidade e direito de retirar-se da pesquisa a qualquer momento se desejado, utilização do caráter aleatório e ciência das atividades, riscos e possíveis benefícios que cada participante estaria sujeito (previamente ao início da coleta). A intervenção total durou 72 horas desde o preenchimento do questionário Par-Q (ACSM, 2003), passando pela familiarização com os protocolos e equipamentos de medida e finalizando com a coleta de dados.

Instrumentação e protocolos

    Para mensuração das variáveis cineantropométricas foi utilizado uma balança clínica marca Filizola® modelo Personal com sensibilidade de 100g, um estadiômetro marca Wiso® com sensibilidade de 1mm e um adipômetro marca Sanny®, modelo Starrett n° 25 - 481, com precisão de 0,1 mm. O IMC foi determinado por meio do quociente da massa corporal/estatura², sendo a massa corporal expressa em quilogramas (Kg) e a estatura em metros (m). Para determinação da densidade corporal o protocolo matemático a partir de sete dupla-dobras de cutâneas proposto por Jackson e Pollock (1978) convertido em percentual de gordura corporal pela equação generalizada de Siri (1969).

    Com relação às variáveis funcionais, a velocidade máxima dos sujeitos foi verificada através do teste de corrida de 50 metros (Duarte, 2005). O teste de shuttle run (Stanziola et al, 2005) foi empregado para avaliação da agilidade. A potência anaeróbia máxima e o índice de fadiga foram mensurados através do RAST TEST, (Zacharogiannis et al, 2004). O consumo máximo de Oxigênio (VO2máx) foi medido indiretamente pelo protocolo de campo proposto por Cooper (ACSM, 2003). A flexibilidade foi medida pelo teste de sentar e alcançar no banco de Wells (AAHPERD, 1984). Para medir a potência muscular foi utilizado o teste de impulsão horizontal (SOARES et al, 2005).

Procedimentos de coleta

    Inicialmente foi aplicado o teste físico FIFA (Circular FIFA Nº 1013, 2006) em 140 sujeitos. Posteriormente, aleatoriamente foram escolhidos 50 participantes por sorteio dentre os aprovados e reprovados dentre todos os testados, dividindo-se em dois grupos: aprovados (25 sujeitos) e reprovados (25 sujeitos). Tanto para familiarização quanto para a coleta definitiva de dados, os participantes foram previamente orientados a não realizar atividade física extenuante nas 24 horas que antecederam a atividade.

    Todos os testes foram realizados em dias distintos, e, entre os testes de 50 metros, RAST TEST e Cooper todos os participantes foram submetidos a repouso de 24 horas.

Análise estatística

    Foi utilizada estatística descritiva para apresentação dos dados (média ± desvio padrão e teste de Shapiro e Wilk para verificação da normalidade dos resultados. Para a comparação dos grupos dados utilizou-se o teste T independente. As análises foram processadas no pacote estatístico SPSS versão 15.0 adotando-se um p≤0,05.

Resultados

    Os resultados colhidos no presente estudo apontaram as variáveis que são determinantes no teste FIFA e aquelas que parecem não ter influência direta na aprovação do referido teste. Para chegar a estes resultados, as variáveis investigadas foram divididas em três grupos de análise: morfológicas (tabela 1), neuromusculares (tabela 2) e metabólicas (tabela 3).

    Após realização da escolha aleatória dos 50 sujeitos, verificou-se o IMC e percentual de gordura da amostra conforme tabela abaixo:

Tabela 1. Variáveis morfológicas

    No que tange as variáveis neuromusculares, os resultados obtidos são apresentados na tabela 2 abaixo:

Tabela 2. Variáveis neuromusculares

    As vaiáveis metabólicas levantadas no presente estudo são apresentadas conforme tabela 3 abaixo:

Tabela 3. Variáveis metabólicas

Discussão

    Apesar de não apresentar diferença significativa (p>0,05), os valores do IMC em ambos os grupos foi considerado no nível normal (ACSM, 2003), o que indica que esta faixa de classificação (18,5 a 24,9) por si só, não é suficiente para definir se o árbitro será aprovado ou reprovado no teste FIFA. Os achados do presente estudo são ratificados Mantovani et al (2008), quando destaca que esta variável apresenta um espectro vasto, dentro da normalidade, nas categorias de base de futebol.

    Já o percentual de gordura apresentou diferença significativa (p≤0,05) no grupo de aprovados em relação ao grupo dos reprovados, indicando uma tendência maior de aprovação para pessoas com um percentual de gordura menor, embora ambas as médias apontem para um percentual saudável dentro dos parâmetros de normalidade estabelecidos pelo American College of Sports Medicine (ACSM, 2003). De acordo com Pontes et al. (2006), a menor distribuição de gordura corpórea e conseqüente diminuição do IMC influenciam na melhora do desempenho físico no futebol. Mantovani et al (2008) também corrobora os achados do presente estudo quando cita que uma quantidade de massa gorda exagerada pode fazer com que o atleta fique mais pesado e perca, entre outras capacidades motoras, resistência aeróbia, velocidade e agilidade.

    A par dos resultados apresentados na tabela 2, exceto a variável agilidade, todas as outras 3 variáveis neuromusculares elencadas apresentaram diferença significativa (p≤0,05) entre os dois grupos. A seguir, cada variável é abordada isoladamente e suas possíveis razões que tentam explicar tal diferença.

    A potência muscular depende da força e da velocidade [potência = (força x distância) / tempo]. Esta variável é importante para provas caracterizadas pela velocidade por ser responsável por uma maior aceleração. Observa-se que no teste FIFA aplicado à amostra, esta variável (potencia muscular de membros inferiores) é significativamente importante para a aprovação no referido teste. Rebelo et al (2006) ratificam os resultados apresentados no presente estudo, elegendo a potencia muscular como fundamental na performance futebolística.

    Outra variável neuromuscular que apresentou diferença significativa (p≤0,05) no estudo foi a potência anaeróbia máxima. Além de caracterizar valência fundamental para aprovação no teste, o resultado corrobora com Daniel (2003), quando cita que, por se caracterizar pela realização repetida de esforços curtos e intensos, a potência anaeróbia representa uma importante capacidade física quando se trata de futebol (DANIEL, 2003).

    Embora a velocidade tenha apresentado diferença significativa entre os grupos (p≤0,05), esta se mostrou superior no grupo de reprovados em relação aos aprovados. Com base nestes resultados verifica-se que, por si só, dentro da amostra estudada, esta variável não é fundamental para a aprovação no teste FIFA. Porém o presente estudo não dá suporte que evidencie que a variável velocidade máxima influenciasse negativamente no resultado do teste FIFA, já que a diferença não foi significativa entre os grupos. Existem estudos ainda que apontam para a importância cada vez maior da velocidade no futebol (PASQUARELLI et al, 2009).

    De forma similar ao IMC, a variável agilidade não apresentou diferença significativa entre os 2 grupos (p>0,05), demonstrando que, a princípio, esta variável não seria fundamental para a aprovação no teste FIFA. Os resultados colhidos, entretanto, não diferenciaram do teste aplicado por SILVA et al (2007), que apresentou, no mesmo teste (shuttle run), valor similar de 10,5 + 0,4 para jogadores de futebol. O presente estudo não tem condições de apontar níveis mínimos de agilidade necessários para a aprovação no este FIFA.

    O estudo do índice de fadiga tem por objetivo expressar a capacidade que o avaliado tem de suportar estímulos de alta intensidade, sem que haja queda significativa de desempenho (SOUZA, 2006). Assim, o grupo dos aprovados apresentou uma maior resistência a estes estímulos, o que tende a considerar que, para ser aprovado no teste FIFA, o indivíduo deve apresentar, além de outras características físicas, elevados índices de fadiga.

    O consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.) é o indicador mais objetivo do nível de aptidão (GHORAYEB et al, 2005). Silva et al (2004) avaliaram árbitros de futebol mostrando que a média do VO2 dos aprovados foi de 52,24 ml/kg/min, sendo maior do que o grupo dos reprovados no seu estudo, e semelhante à média do grupo dos aprovados neste estudo (55,24 ml/kg/min), o que credencia esta variável com essencial para a aprovação no teste FIFA.

Conclusão

    Como conclusão do presente estudo observou-se que a variável morfológica percentual de gordura, que as variáveis neuromusculares potência muscular de membros inferiores e potência anaeróbia máxima e a variáveis metabólicas e índice de fadiga parecem ser determinantes na aprovação do teste FIFA para árbitros (FIFA, 2006).

    A variável morfológica IMC e a variável neuromuscular agilidade não apresentaram diferença significativa entre os grupos (p>0,05), o que demonstra não ser determinantes para a aprovação no teste. Cabe ressaltar, entretanto, que os índices apresentados pelos dois grupos (aprovados e reprovados) estão dentro da faixa ideal de saúde (IMC; ACSM, 2006) e de performance (agilidade, SILVA et al, 2006).

    A variável neuromuscular velocidade ao ter apresentado diferença significativa em favor do grupo de reprovados levanta-se a dúvida se o teste FIFA avalia realmente todas as valências necessárias ao acompanhamento do futebol, pois inúmeros estudos apontam para sua função determinante no futebol (PASQUARELLI et al, 2009).

    Devido ao tema ser recente, sugere-se que mais estudos sejam desenvolvidos a fim de acrescentar subsídios em relação ao teste, sobretudo zonas limítrofes de variáveis neuromusculares, morfológicas e metabólicas.

Referências

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