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A saúde dos atletas de alto-rendimento e os mega-eventos esportivos

La salud de los deportistas de alto rendimiento y los mega eventos deportivos

 

Professor de Educação Física membro da LEPEL – UEFS

Linhas de estudos e pesquisas em Educação Física, Esporte e Lazer

da Universidade Estadual de Feira de Santana

Alan Jonh de Jesus Costa

jonhmeef@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo tem como objetivo problematizar a relação do esporte de rendimento com a saúde. No texto apresenta conceitos elementares para o debate a exemplos dos de homem, saúde, esporte. Aponta-se as qualidades humanas atribuídas aos atletas de alto rendimento, as contradições nos aspectos econômicos e de qualidade de vida que envolvem a prática esportiva no país. Caracteriza-se os fatores protetores e destrutivos que envolvem a prática de esporte de alto-rendimento na atualidade definindo os prejuízos a saúde de tais práticas e por fim se discute a discrepância e contra-sensos dos investimentos nos mega-eventos esportivo e elucida-se proposições para o desenvolvimento de outra lógica no esporte que privilegie a classe trabalhadora, apresentando-o como perfil protetor a saúde da população.

          Unitermos: Alto-rendimento. Saúde. Esporte.

 

          Texto elaborado na ocasião da participação do autor em mesa de debate do III EPEF Encontro dos Professores de Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 157 - Junio de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A problematização dos efeitos do condicionante esporte no processo saúde-doença do povo brasileiro surge no século 21 como tarefa de suma importância para melhoria do padrão de saúde da população e especialmente para o combate do ideário capitalista que ao longo dos anos tem transformado o esporte em mercadoria para obtenção de riqueza e instrumento de alienação.

    Segundo, Edgard Matiello Júnior, Paulo Capela e Jaime Breilh (2010):

    Apesar de haver uma imagem ideal na qual o esporte é sinônimo de saúde, a relação entre ambos é um processo socialmente determinado, cujas características dependem das correlações de poder que operam em uma determinada formação social.

    Portanto, embora as práticas do esporte e os seus espetáculos sejam considerados bons recursos de desenvolvimento humano, sob condições históricas e modos de vida típicos de certas classes e grupos sociais, essas atividades podem perder o caráter protetor da saúde e se tornar práticas destrutivas.

    Esse caráter surpreendente e contraditório do esporte regido pela lógica capitalista se manifesta de diversas formas. A mais dramática é a tensão crônica que acarreta lesões permanentes em desportistas de elite induzidos à competição extrema. Tal processo deteriora o fenótipo do atleta, afetando seus sistemas físicos, como o osteomuscular e sua saúde mental. (MATIELLO, E.J; CAPELA. P; BREILH. J, 2010, Pág, 16 e 17).

    Entretanto antes de abordamos mais detidamente estes aspectos pensamos ser importante para continuidade da discussão a apresentação dos conceitos atribuídos aos termos: processo saúde-doença e atleta de alto-rendimento. Termos que expressão um conjunto de formulações anteriores que se apresentam divergentes ou complementares entre si. Que foram desenvolvidas em um movimento de negação e superação do já existente.

    Em nosso caso estes conceitos, bem como o conjunto das formulações que aqui são apresentadas dizem respeito a proposições desenvolvidas no interior da LEPEL – Linha de Estudos e Pesquisas em Educação Física, Esporte e Lazer – UEFS, orientadas por estudos e pesquisas de três grandes campos: a Epidemiologia Social, a Medicina Social, e os estudos de pesquisadores da área da Educação Física que se propõe a superação da lógica linear que caracteriza Atividade Física enquanto sinônimo de saúde.

    Assim, homem é conceituado como ser histórico que define sua essência através das relações com o trabalho, com a vida social, ou seja, com as relações que estabelece com outros indivíduos ao transformar a natureza. (EGRY, 1996). Que, portanto abrange elementos biológicos, e históricos sociais.

    Já processo saúde/doença é concebido como processo histórico e dinâmico orientado pela forma como cada indivíduo se insere no modo de produção, na estrutura social de classes sociais. (EGRY, 1996). Ou seja, na dinâmica atual de modo de produção capitalista, caracterizada centralmente pela divisão social entre classes, determinada pela propriedade privada dos meios de produção.

    Meio de produção que englobam desde matérias primas, maquina e equipamentos, a instalações e força de trabalho.

    Sendo a saúde resultado do lugar em que o individuo ocupa na luta de classes e que lhe dá acesso ou não a moradia, saneamento básico, transporte de qualidade, lazer, serviços de saúde, etc.

Os atletas de alto-rendimento

    Uma vez que a determinadas práticas corporais foram atribuídas os princípios da sobrepujança do outro, máxima técnica, competitividade, especialização – caracterizando-as enquanto esporte moderno. No cotidiano, sobre orientação do senso-comum os atletas de alto-rendimento são considerados o que há de ‘melhor’ no desenvolvimento de determinadas práticas corporais. Ou seja, indivíduos que apresentam um potencial físico que envolve: capacidade de reação e coordenação, bom tônus muscular, boa capacidade de movimentação, resistência articular para superar as altas cargas de treinamento, possibilidade de desenvolvimento de uma boa capacidade cardio-respiratória, resistência a resíduos metabólicos e agentes externos.

    Entretanto ao fazermos uma análise mais detida, aprofundando nossas lentes frente ao objeto, poderemos observar que a existência dessas potencialidades nos individuos é reflexo de diversos fatores. Determinações que em última instância são induzidas pela condição de classe e modo cultural de vida, e pelas práticas de estilo de vida pessoais determinadas pelo grupo social pertencente. (MATIELLO, E.J; CAPELA. P; BREILH. J, 2010, pág. 19). E que assumem centralidade quando analisado a partir da relação com o processo saúde/doença.

    No modo de produção capitalista os atletas têm sua força de trabalho utilizada na produção da riqueza de terceiros. Não fosse o próprio caráter exploratório em que estão submetidos, ainda impera uma injusta estrutura de trabalho que atinge a maioria destes trabalhadores.

    [...] os desportistas com melhor desempenho, que compõem tal força de trabalho, e que são em última instância o imã do espetáculo desportivo, fazem parte de uma estrutura de trabalho altamente injusta, na qual o exultante sucesso econômico de uma elite minoritária mascara a situação de trabalho desfavorável da vasta maioria dos desportistas. Uma lacuna social, conforme demonstrado pela estratificação de classe de jogadores de futebol brasileiros. (MATIELLO, E.J; CAPELA. P; BREILH. J, 2010, Pág., 23).

    Ao contrário do que se imagina 86,4 % dos jogadores de futebol no Brasil recebem menos de dois salários mínimos. Conforme pode ser observado no quadro abaixo:

Renda mensal (dólares americanos)

%

até 75

44,9

75 a 150

41.6

150 a 375

5,0

375 a 750

2,8

750 a 1.500

1,5

mais que 1.500

3,3% (402 jogadores)

Quadro: Estratificação de renda mensal de jogadores de futebol brasileiros (800 clubes com 12.000 jogadores).

Fonte: Altuve (2002, p. 104 MATIELLO, E.J; CAPELA. P; BREILH. J, 2010, p.24).

    Ao produzir a riqueza dos empresários esportivos, dos administradores dos clubes esportivos e patrocinadores, os atletas despendem de força humana no sentido fisiológico e desgastam naturalmente a própria força de trabalho.

    Esse desgaste da força vital pode ser exemplificado quando realizamos uma pratica corporal e provocamos determinado gasto calórico, desgaste de músculos, nervos e articulações.

    Mas será mesmo natural o desgaste sofrido pelos atletas de alto-rendimento?

    Diante do grau de competitividade nos esportes de alto-rendimento, de máximo rendimento e de desenvolvimento das valências físicas orientada por uma busca desenfreada pelo estabelecimento de novos recordes, podemos dizer que o desgaste físico no esporte de rendimento não só, não é natural como é degradante. Se configurando, portanto como um perfil destrutivo no processo saúde/doença.

    As condições em que são submetidos os atletas de auto-rendimento chocariam qualquer ser humano não fosse o fetiche, a nuvem de encantamento colocada pela mídia de massa diante destas práticas. Não fosse a exacerbação e naturalização da competitividade estimulada pela ordem capitalista no cotidiano humano. E se a rotina de sofrimento e de desgaste físico dos atletas não fosse escondida a sete chaves.

    Distúrbios psicológicos, dores físicas diversas, redução drástica da defesa imunológica, terapêuticas cirúrgicas e medicamentosas são cenas corriqueiras ao dia-dia dos atletas.

    Outro elemento complicador é que quando do encerramento da carreira estes atletas continuam tendo que conviver com a maioria desses danos a saúde, além dos que são originários pela interrupção de sua prática (sobrepeso e obesidade devido a não ocorrência de destreinamento; distúrbios psicológicos e agravos provocados pelo alcoolismo e ou uso de outras drogas, provocados pela falta de preparo para lidar com o fim da fama e da gramou que os envolvia).

    Todos esses eventos ocorrem em meio a um intenso desenvolvimento tecnológico, a um altíssimo investimento financeiro e em um grau extremamente ‘sofisticado’ de pesquisas de capacitação profissional.

    Elementos que apesar do grau de cientificidade que possuem são insuficientes para eliminar os danos provocados à saúde desses individuos.

    Isso se deve em alguma medida ao fato do saber cientifico que envolve a área da Atividade Física e Saúde ao se orientar na noção de risco favorecer para que o atleta, mesmo tendo conhecimento dos prejuízos de determinados aspectos da vida esportiva, continuem a executá-los.

    Assim como o fumante que mesmo tendo conhecimento claro dos prejuízos provocados pelo fumo a sua saúde opta por continuar a fumar. Uma vez que a noção de risco atribuída ao fumante se propõe a mera orientação. Não contribuindo para eliminação dos elementos biológicos da dependência química e muito menos para eliminação dos elementos concretos que causam resistência ao abandono do ato de fumar. Que muitas vezes envolve problemas econômicos, estresse dentro outros fatores. A noção de risco no esporte de rendimento não perspectiva a superação dos determinantes ideológicos sociais e econômicos que envolvem e condicionam a ocorrência desses perfis destrutivos à saúde de seus praticantes.

    Segundo Matiello et al 2008,

    Desta forma, se desnuda a identidade do risco como carregada, ao mesmo tempo, de objetividade e subjetividade, sendo que o atributo da dúvida joga com o imaginário, a necessidade, o medo e o prazer do desafio. Portanto, poderíamos considerar até mesmo que o anúncio do risco carrega consigo potencial de ampliação da ocorrência dos danos à saúde, pois há os que queiram (e os que precisam por condições de sobrevivência!) desafiar seus limites; em outra situação, pensar que algo sempre está por vir assume feições de irrealidade, pois é tangível, alcançável. Ora, se o cálculo de riso é feito com dados da vida de outros, pode-se pensar que “isso não irá acontecer comigo”, mesmo que todas as evidências reforcem o contrário. Constatação que vale inclusive para os trabalhadores do esporte (atletas), em suas tentativas permanentes de superar seus próprios limites. (MATIELLO JÚNIOR. GONÇALVES. A; MARTINEZ. J. 2008, pág. – 7 e 8).

    Permanecendo dessa forma nos limites da superficial orientação e da culpabilização dos indivíduos.

    Em superação a noção de risco, defendemos a incorporação do conceito de processo apresentado pelo epidemiologista equatoriano Jaime Breill, que entende que o processo saúde/doença é mediado por fatores positivos e fatores destrutivos à saúde. E que devemos levar em consideração para além desses fatores os determinantes grupais e individuais que envolvem o processo saúde/doença.

    Na figura abaixo ao autor apresenta modelo explicativo:

    Ainda segundo Matiello et al 2008:

    A discussão de Breilh (1997) avança na seguinte direção: I) existem efetivamente riscos nos centros laborais, mas eles não cobrem a totalidade dos processos determinantes, ii) a organização e divisão do trabalho não se explica adequadamente pelo conceito de risco porque se constitui processo determinante de caráter necessário e permanente e não em simples perigo contingente ou provável; iii) o conceito dificilmente pode dar conta do caráter

    contraditório do trabalho; iv) o uso da palavra risco no contexto convencional está fortemente associado à noção restrita e estática dos fenômenos nocivos das atividades laborais. (MATIELLO JÚNIOR. GONÇALVES. A; MARTINEZ. J. 2008, pág., 10).

    Diante do exposto e título de exemplificação podemos considerar a falta de saneamento que atinge 20% da população brasileira, ou os 57 % da população que não acesso a esgoto sem sobra de dúvidas como dois grandes fatores destrutivos a saúde da população.

    Por outro lado uma boa qualidade alimentar acesso a serviços de saúde, educação e lazer devem ser considerados como fatores positivos a saúde.

    Nesse sentido, fica evidente que o esporte de rendimento se apresenta como um fator destrutivo a saúde. Entretanto vamos nos deter e aprofundar mais um pouco a questão a fim de desvendar outros determinantes que envolvem a condição de vida e saúde desses trabalhadores.

    Quadro do perfil generalizado dos determinantes de saúde/doença dos atletas de rendimento.

Estrutura politico-ideológica

Baseada no senso-comum, na perspectiva liberal.

Mediadores grupais

 

Classe social

 

 

Compõem geralmente a pequena burguesia

 

Gênero

 

Composto por homens e mulheres. 

Sendo a grande maioria do sexo masculino

Etnia

 

Diversa

Geração

 

Composta geralmente por jovens

Mediadores Singulares

Genótipo

Fenótipo

Diante do alto grau de seletividade desse tipo de atleta dificilmente apresentam problemas nos mediadores singulares

    Dessa forma, acreditamos que apesar de apresentar determinantes individuais e grupais favoráveis, os demais determinantes destrutivos que envolvem o alto-rendimento superariam os fatores positivos.

    Os atletas de alto-rendimento apesar de terem em sua amplitude acesso a boa alimentação, boa moradia, educação de qualidade, acesso a serviços de saúde com tratamento especializado, a atividade de lazer e uma boa posição econômica, os fatores destrutivos acabam superando o conjunto dos fatores protetores, provocando um estado de saúde/doença não desejado.

Esporte de alto nível e investimento social

    È comum ouvirmos reclamações no meio esportivo de falta de investimento no esporte. Sempre próximo de mega-eventos esportivos lemos ou ouvimos matérias jornalísticas atribuírem em boa medida os baixos resultados brasileiros a falta de investimento no setor.

    O fato é que o governo brasileiro tem investido nos últimos anos muito mais recursos no esporte de rendimento do que na socialização do esporte. Mesmos os investimentos feitos no esporte escolar e no esporte e lazer tem por objetivo a preparação de atletas.

    Parece-nos obvio que alguns setores esportivos se tivessem maiores investimentos conseguiriam melhores resultados em suas competições. Entretanto experiências de popularização dos esportes em diversas nações nos demonstram que outra via é possível. Possibilitando-nos resultados muito mais duradouros e condizentes com a melhoria das condições de saúde da comunidade.

    O futebol no Brasil, o basquete nos EUA, o tênis de mesa no Japão, o kung-fu na China, o Xadrez em Cuba são alguns bons exemplos de que a socialização do esporte pode ser uma excelente medida inclusive com fins de supremacia nacional.

    Além dos equívocos apontados para política pública de esporte e lazer adotada pelos últimos governos que privilegia ações que incentivam a criação de atletas e a preparação para disputas internacionais, ainda temos acompanhado a aplicação de absurdos investimentos em mega-eventos esportivos.

    A justificativa para os altíssimos investimentos nesses mega-eventos esportivos é que ficaria um legado de infra-estrutura e se ampliaria a prática esportiva no país.

    Entretanto os jogos Panamericanos realizados no Brasil em 2007 nos apresentam provas claras e concretas do contrário. Neste episódio podemos observar: ataques as populações locais na tentativa de esconder as gritantes desigualdades sociais da cidade; falta de prestação de contas de mais de 1 milhão de reais, entrega de diversas construções realizadas com dinheiro público para mão de iniciativa privadas. Um bom exemplo é a do Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão) orçado inicialmente em R$ 100 milhões tendo um custo total bem acima do valor orçado. Custando aos cofres públicos cerca de 300 milhões e entregue ao Clube de Regatas Botafogo por R$ 40 mil mensais mais custos de manutenção.

    Os gastos gerais com o evento estavam previstos em R$ 532 milhões e chegaram a R$ 3 bilhões.

    Além desses elementos, a maioria das construções não significaram qualquer possibilidade de vivência da prática esportiva por parte da população. Na maioria dos casos a população que através dos seus impostos financia tais construções, apenas tem acesso a praticas desses esportes enquanto expectadores. E a maioria das vezes através da impressa televisiva.

    Segundo Matiello Júnior, Capela e Breilh (2010) a quantia gasta no PAN do Rio daria para construir mais de 15 mil estruturas esportivas de qualidade e diversificadas no país, o que poderia significar a construções de três novos espaços para práticas esportivas em cada cidade.

    Cálculos preliminares da CBF apontam que o governo deve gastar cerca de R$ 11 bilhões para se preparar para a copa de 2014. Já o projeto dos jogos olímpicos de 2016 está estimado em R$ 25,9 bilhões.

    Segundo plano de gasto alternativo elaborado pelo movimento planeta sustentável com base em órgãos governamentais, só o recurso da copa de 2014 daria para se investir:

R$ 2,1 bi

  • ONDE Expansão do saneamento.

  • PARA Levar água tratada a 2,2 milhões de casas e coleta de lixo a 2,1 milhões - cerca de 20% do déficit de saneamento.

R$ 2,8 bi

  • ONDE Crédito para casas populares.

  • PARA Financiar a construção ou compra de 480 mil casas populares - 6% do déficit habitacional.

R$ 2,8 bi

  • ONDE Universalização da eletricidade.

  • PARA Levar luz a 1,6 milhão de pessoas no campo - 13% da população sem acesso à energia.

R$ 1,4 bi

  • ONDE Combate ao analfabetismo.

  • PARA Ensinar 600 mil jovens e adultos a ler e escrever - o que representa 4% a menos de analfabetos no país.

R$ 1,4 bi

  • ONDE Bolsa Família.

  • PARA Custear o programa por um ano para 1,8 milhão de famílias, que receberiam um auxílio mensal de R$ 62.

R$ 700 mi

  • ONDE Saúde da Família.

  • PARA Levar o programa Saúde da Família a mais 2 milhões de pessoas - superaria a população de Curitiba ou Recife.

*Fontes: Orçamento Copa 2014 (conversão a partir do valor estimado em dólares), CBF, FIFA. Orçamento alternativo: números recentes dos ministérios do governo federal, IBGE, site Contas Abertas, Agência Brasil, FGV.

    Em paralelo a esses gastos absurdos, a esse derrame de dinheiro público, a maioria das escolas públicas não tem quadras esportivas, grande parcela da população tem dificuldades de acesso aos serviços de saúde, as oportunidades de lazer são extremamente reduzidas, falta moradia, saneamento básico e alimentação. Os recursos destinados à educação e saúde estão bem abaixo do necessário.

    Segundo o jornal o globo, do dia 05 de novembro de 2010, a verba das ações e serviços de saúde foi ajustada para R$ 62,9 bilhões, para 2011 o congresso prevê R$ 68 bilhões. Existe proposta de que a União destinasse 10% da receita corrente bruta para a saúde, levando a um gasto de R$ 80 bilhões, o que a equipe econômica do governo alegou ser inviável.

    Aos que utilizam os argumentos de confraternização entre os povos, de intercâmbio entre as nações, nós apresentamos outra necessidade de intercâmbio: de comida.

    Apesar da produção de alimentos ser superior a capacidade de consumo humano pesquisas nos apontam que 35,5% das famílias brasileiras viviam em situação de “insuficiência da quantidade de alimentos consumidos” em 2009 segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2008/2009. No Norte, mais de 50% das famílias ainda não comem o que necessitam. Apesar dos números terem diminuído milhares de pessoas ainda passam fome no país.

    Segundo dados do relatório do Índice Global de Fome - 2010, temos hoje 1 bilhão de pessoas com fome no mundo, muitas delas crianças. 25 países apresentam condições alarmantes. A república Democrática do Congo tem 75% de sua população subalimentada.

O esporte pode apresentar-se como perfil protetor a saúde?

    Muito embora a política de esporte do país nos direcione para o esporte de alto-rendimento, com significativos prejuízos a saúde da população. Mesmo com a associação linear a prática esportiva com a estética, como alternativa simplista de afastamento das drogas, de fantasiosa melhoria das condições econômicas, da imensa supremacia da competitividade, em muitos casos com graus consideráveis de violência. Pensamos ser possível o desenvolvimento de outra lógica no esporte que privilegie a classe trabalhadora, apresentando-o como perfil protetor a saúde da população.

    Entretanto, a consolidação desse modelo passa por algumas medidas:

    Por fim queremos chamar a atenção, para a responsabilidade do professor de Educação Física frente a este projeto transformador do esporte. As contribuições da vivência da prática esportiva para uma dada população sem sobra de dúvidas abarcam a saúde, mais passam também pelo desenvolvimento psicológico, crítico e pela preservação do desenvolvimento da cultura de nosso povo.

    E da mesma forma que saúde não se dá conquista-se assim também é o esporte.

Referências

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