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A contribuição da Educação Física na 

inclusão e no desenvolvimento da jovem Laila

El aporte de la Educación Física en la inclusión y en el desarrollo de la joven Laila

The contribution of Physical Education in inclusion and development of young Laila

 

*Graduada em Educação Física – Unifebe

**Especialista em Educação Física Escolar, Jogos Cooperativos

e Psicomotricidade. Fafipa. Núcleo Pedagogia do Esporte, UDESC

***Mestre em Educação Física, UFSC

Centro Universitário de Brusque

(Brasil)

Indiara Detzel*

indiaradetzel@yahoo.com.br

Luciana Ferreira**

luciana_bq@hotmail.com

Joice Paulini* | Marilia Meschke*

Augusto Cesar Freitas do Carmo***

luferreira.ed@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem o intuito analisar o processo de inclusão no desenvolvimento de Laila (deficiente física) nas aulas de educação física. Participaram deste estudo a jovem Laila, a irmã de Laila, a Professora de Educação Física, dois Professores de sala e a Diretora. O estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso. Os instrumentos para a coleta dos dados foram: questionários semi-estruturados, entrevista semi-estruturada e notas de campo. Os dados foram analisados a partir de categorias. Os resultados apontaram que a atual Professora de Educação Física inclui a aluna em suas aulas e que a atividade motora contribui para o desenvolvimento motor e social da aluna. Diante destas evidencias acreditamos que todas as crianças têm seus direitos e deveres, inclusive o deficiente físico, por este motivo o mesmo deve ser tratado com igualdade, participando de todas as aulas, inclusive nas aulas de educação física, respeitando sempre suas limitações, proporcionando momentos significativos na vida dessas crianças, pois muitas delas chegam à escola, dispõe somente desse espaço para trocas e vivencias com outras crianças.

          Unitermos: Educação Física. Desenvolvimento humano. Inclusão. Professor.

 

Abstract

          This study aims to analyze the process of inclusion in the development of Laila (handicapped) in physical education classes. The study included the young Laila, Laila's sister, a physical education teacher, two classroom teachers and the Director. The study is characterized as a type of qualitative research case study. The instruments for data collection were semi-structured questionnaires, semi-structured interviews and field notes. Data were analyzed from both categories. The results showed that the current physical education teacher include the student in their classes and that the motor activity contributes to motor and social development of the student. Given this evidence we believe that all children have their rights and duties, including the handicapped, for this reason it should be treated equally, participating in all lessons, including in physical education classes, always respecting their limitations, providing moments significant in the lives of these children because many of them come to school, only has space for such exchanges and life experiences with other children.

          Keywords: Physical Education. Human development. Inclusion. Teacher.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Quando pensamos em escola para todos, imaginamos um ambiente onde as diferenças se completam na perspectiva de uma educação como um direito social, visando à formação de cidadãos capazes de exercer sua cidadania, e que todas as crianças deveriam aprender juntas, independente de qualquer dificuldade ou diferença que possam ter, as escolas inclusivas devem reconhecer e responder as diversas necessidades dos alunos.

    Segundo Pacheco (2007, p. 14), “o termo inclusão cobre variadas tentativas de atender a diversidade total das necessidades educacionais dos alunos nas escolas de um bairro. Há uma considerável variedade no modo como as pessoas definem esse fenômeno”.

    Para falar sobre inclusão escolar é preciso repensar o sentido de que se está atribuindo à educação, além de atualizar nossas concepções e resignificar o processo de construção de todo o individuo, compreendendo a complexidade e amplitude que envolve esta temática. Também se faz necessário, uma mudança de paradigma dos sistemas educacionais onde se centra mais no aprendiz, levando em conta suas potencialidades e não apenas as disciplinas e resultados quantitativos, favorecendo uma pequena parcela dos alunos.

    A inclusão de crianças com deficiência nos sistemas de ensino deve ser gradativa, contínua, sistemática e planejada. Nessa perspectiva, os sistemas de educação poderão se adequar a nova ordem, construindo práticas institucionais e pedagógicas que melhorem a qualidade de ensino, a qual envolve não só os alunos com deficiência, mais todos os alunos do ensino regular (SOLER, 2006).

    Não podemos mais aceitar a exclusão como algo normal, pois avançamos um pouco em relação a uma nova escola agora inclusiva e tentamos construí-la para todos, mais ainda estamos distantes do ideal.

    Para Batista (1998), inclusão não é apenas colocar a criança para frequentar a mesma sala com todos os alunos. Ela envolve um investimento em equipamentos e em formação de pessoal. Não basta contar com a boa vontade do professor e colocar o estudante numa sala comum.

    Uma escola pode ser avaliada inclusiva, quando não há distinção entre seres humanos, não seleciona ou diferencia com base em julgamento de valores como “perfeitos e não perfeitos”, “normais e anormais”. É aquela que proporciona uma educação voltada para todos, de forma que qualquer aluno que dela faça parte, independente deste ser não deficiente, tem a condição de conhecer, aprender, viver e ser, num ambiente livre de preconceitos que estimule suas potencialidades e a formação de uma consciência crítica (SALGADO, 2010).

    Incluir alunos com deficiências nas turmas de educação regular eleva a consciência de cada aspecto inter-relacionado na escola como uma comunidade: seus limites, os benefícios a seus membros, seus relacionamentos internos, seus relacionamentos com o ambiente externo e sua história. Como bem sabe a maioria das pessoas que enfrenta a luta pela inclusão, essa consciência é levada em geral surge na forma de medo e defesa, demonstrado em termos que soam semelhantes em ambos os lados das fronteiras que se param os alunos tendo como critério a deficiência (STAINBACK, S.; STAINBACK, W., 1999, p. 48).

    A escola inclusiva deve ser aberta, eficiente, democrática, solidária. A escola inclusiva é aquela que se organiza para atender alunos não apenas ditos “normais”, mas também as pessoas com deficiência, a começar com seu próprio espaço físico. Salas de aula, bibliotecas, pátio, banheiros, corredores e outros ambientes são adaptados em função de todos os alunos.

    Em Salamanca, foram reafirmados o direito a educação de cada individuo, conforme a Declaração Universal dos Direitos Mundial de Educação para todos, de 1990. Também foram resgatadas as várias Declarações das Nações Unidas que culminaram no documento que contem as regras padrões sobre a equalização de oportunidades para pessoas com deficiência (CARVALHO, 2000).

    A Conferência propôs a adoção de linhas de ação em educação especial. O principio orientador é o de que:

    Todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagem ou marginalizados... No contexto dessas linhas de ação o termo “necessidades educacionais especiais” refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldade de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e tem, portanto, necessidades educacionais especiais em algum momento de sua escolarização. A escola tem que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças. Inclusive as que têm deficiências graves (CARVALHO, 2000, p. 56-57).

    Do direito a Educação: o Estatuto da Pessoa com Deficiência (PAIM, 2007), define nos artigos:

    Art. 36 A educação é direito fundamental da pessoa com deficiência e será prestada visando ao desenvolvimento pessoal, a qualificação para o trabalho e ao preparo para o exercício da cidadania.

    Art. 37 É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar a educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a salvo de toda forma de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão escolar.

    Parágrafo único – Fica assegurado à família ou ao representante legal do aluno com deficiência o direito de opção pela freqüência às classes comuns da rede comum de ensino, assim como ao atendimento educacional especializado.

    Art. 38 Incumbe ao Poder Público criar e incentivar programas:

I. de incentivo familiar, de natureza pecuniária, destinados a assegurar a matrícula e freqüência regular do aluno com deficiência na escola;

II. de educação especial, em todos os níveis e modalidades de ensino, onde e quando se fizerem necessário ao atendimento de necessidades educacionais especiais apresentadas por pessoas com deficiência;

III. destinados à produção e divulgação de conhecimento, bem como ao desenvolvimento de métodos e técnicas voltadas à pessoa com deficiência;

IV. de qualificação específica dos profissionais da educação para utilização de linguagens e códigos aplicáveis à comunicação das pessoas com deficiência, como o Sistema Braille e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS);

V. de apoio e orientação aos familiares das pessoas com deficiência para a utilização de linguagem e códigos aplicáveis;

VI. de educação profissional, voltados à qualificação das pessoas com deficiência para sua inserção no mundo do trabalho e, sempre que possível, extensivos a seus pais ou responsáveis.

 Parágrafo único – O incentivo aos programas descritos nos incisos II a VI deverá ocorrer inclusive por meio da disponibilização de linhas de financiamento que poderão ocorrer mediante parecerias público-privadas.

    Art. 39 – Os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra pessoa com deficiência, assim como os de violação dos seus direitos fundamentais, serão obrigatoriamente comunicados pelos dirigentes de estabelecimento educacionais ao Conselho de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência ou ao Ministério Público.

    Da Educação Básica:

    Art. 40 - Matrícula obrigatória dos alunos com deficiência nos estabelecimentos públicos ou privados, preferencialmente na rede de ensino, previamente à dos demais alunos, sem prejuízo da realização da matrícula no período regulamentar.

    Art. 41 – Formação continuada dos profissionais que trabalham na escola com o objetivo de dar atendimento adequado aos alunos com deficiência.

    A escola é o lugar ideal para se formarem novos pensamentos a respeito das diferenças. Não devemos criar impedimentos para crianças com deficiências, muito pelo contrário, devemos criar facilidades para que elas possam conviver com a diferença. Lidar com a diversidade faz com que se crie uma população atenta as diferenças, fazendo com que ela seja valorizada e respeitada (SILVA, 1996, p. 54).

    A educação física, como disciplina escolar, esteve por muito tempo associada à saúde, à estética e à disciplina, tanto na produção teórica quanto na prática pedagógica dos professores.

    Enquanto educadores físicos não compreenderem a importante função que desempenham ao facilitar a participação esportiva dos alunos com deficiência ficarão sentados do lado de fora, sem fazer nada, olhando os outros participarem e imaginado como seria sentir a emoção de participar e competir. Para ajudar os alunos com deficiência física, o professor de educação física deve facilitar a participação em programas de esportes e lazer (WINNICK 2004, p. 48).

    De acordo com Bagatini (1984) o objetivo geral da Educação Física é “dar assistência as crianças com alguma deficiência, preparando para a vida, integrando tanto quando possível na comunidade, a fim de torna - lá uteis e felizes”. Assim a Educação Física, como parte do sistema educacional, tem como premissa básica atender o individuo de maneira global em suas capacidades, potencialidades, dificuldades e limitações.

    Nosso estilo de vida moderno faz com que nos movimentamos cada vez menos. Especialmente indivíduos com deficiência, possuem em geral menos oportunidade para se engajar de maneira segura em programas orientados de atividades físicas, muitas vezes pela falta de informação adequada por parte dos profissionais responsáveis.

    Afastar os deficientes do convívio com outras crianças só faz com que os preconceitos sejam alimentados. Devemos ensinar as crianças que, apesar de uma pessoa ter deficiência em uma área, ela pode ser muito eficiente em outra área, conseguindo-se valorizar o potencial de cada um.

    O desconforto que podemos sentir quando nos deparamos com deficientes físicos pode ser sanado quando temos a oportunidade de conviver com eles e dispomos de informações corretas sobre a deficiência. O deficiente físico tem o direito e pode tomar suas próprias decisões e assumir a responsabilidade por suas escolhas.

    As deficiências físicas podem ser definidas como condições resultantes de lesões neurológicas ou ortopédicas e que acarretam transtornos na motricidade e/ou na locomoção de indivíduos. Quanto ao momento em que surgem: congênitas (desde o nascimento) ou adquiridas (após o nascimento). Quanto ao tempo que ficam presentes: permanentes (ficarão sempre presentes, com seqüelas irreversíveis) ou temporárias (seqüelas duram um tempo determinado). Quanto a evolução: progressivas (seqüelas se agravam) ou não progressivas (seqüelas se estabilizam)
(TEIXEIRA, 2008 p. 377).

    Nesse sentido, ao pensarmos em pessoas com deficiência, mesmo que congênitas, logo as relacionamos com os inúmeros enfrentamentos e necessidades de adaptações para um convívio social integrado e que cada vez mais tem sido despertado, quer seja pelas oportunidades ou ainda pelas “provocações”, frutos do reconhecimento das possíveis potencialidades de atuação das pessoas deficientes no esporte, no trabalho, na escola etc.

    O desenvolvimento motor da pessoa com deficiência ocorre de forma lenta quando comparados ao desenvolvimento dos ditos normais, atingem marcos motores tardios, embora apresentem variabilidade em torno do seu desenvolvimento. Kirk; Gallagher (2000) relatam que as crianças diferem não só de uma para outra (diferenças interindividuais), mas também são diferentes quanto às especificidades e incapacidades em si (diferenças intraindividuais).

    Quando falamos em desenvolvimento devemos lembrar que o ser humano é um ser único e o seu desenvolvimento ocorre em todos os âmbitos: social, cognitivo, motor e afetivo.

    Segundo Haywood; Getchell (2004, p. 18), “o desenvolvimento é um processo contínuo de mudanças da capacidade funcional, está relacionado à idade e é uma mudança seqüencial”.

    Gallahue; Ozmun (2001, p. 6) “dizem que o desenvolvimento é um processo permanente que se inicia na concepção e cessa somente com a morte”. O desenvolvimento inclui todos os aspectos do comportamento humano e, como resultado, somente artificialmente pode ser separado em “áreas”, “fases” ou “faixas etárias”. Acrescentam ainda, tal como pudemos observar nas reflexões de Haywood; Getchell (2004), que o desenvolvimento motor “está relacionado à idade, mas não depende dela”.

    Nesta perspectiva, o presente estudo tem o intuito analisar o processo de inclusão no desenvolvimento de Laila nas aulas de educação física.

Metodologia

    Participaram deste estudo de caso, de natureza qualitativa a aluna Laila (nome fictício) 15 anos, regularmente matriculada na 7ª série do Ensino Fundamental, com deficiência física incluída no ambiente escolar, a irmã da menina Laila, a professora de Educação Física, a diretora da escola e dois professores de sala de uma Escola Publica Municipal de Nova Trento/SC.

    A pesquisa fundamenta-se na abordagem qualitativa que de acordo com Silva (1996) o caráter qualitativo oferece maior liberdade para reflexão no tipo de análise estabelecida pela investigação, uma vez que, preocupa-se com o processo, com o procedimento e as interações, examinando o mundo como é experenciado, compreendendo o comportamento humano, a partir do que cada pessoa ou pequeno grupo de pessoas pensam ser a realidade.

    Lakatos; Marconi (2005) compartilham desta mesma idéia e ressaltam que a metodologia qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, e por fim, se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes, colhendo as próprias palavras das pessoas, faladas e/ou escritas, e o comportamento observável.

    As entrevistas foram realizadas na Escola Publica Municipal, onde Laila estuda.

    Foram elaborados os seguintes instrumentos para coleta de dados:

    Foi solicitada a direção da Instituição de Ensino envolvida e aos responsáveis pela aula Laila a colaboração e permissão para o desenvolvimento da pesquisa, desta forma, foram assinados Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos diretores responsáveis pela escola e pelos familiares da aluna, a fim de autorizar a utilização dos dados coletados durante a pesquisa, bem como a publicação dos resultados obtidos.

Análise e discussão dos resultados

    Os dados das notas de campo, as respostas dos questionários e entrevistas, foram analisados qualitativamente, sendo dividida em categorias, prática pedagógica, inclusão, família, desenvolvimento motor e social de Laila.

    Laila tem 15 anos, estuda na 7ª série do ensino fundamental de uma escola Pública Municipal de Nova Trento/SC. Aparenta ser uma menina muito feliz, está sempre sorrindo, quando fomos à escola onde estuda, Laila veio até nós, perguntamos se estava tudo bem, ela tentou se expressar dizendo que estava tudo ótimo, percebemos que Laila gostou da nossa presença.

    Aqueles que, por apresentarem necessidades próprias e diferentes dos demais alunos, requerem recursos pedagógicos e metodológicos educacionais especiais. Considerando-se integrantes desse grupo os portadores de: deficiência metal, visual, auditiva, física, múltipla, condutas, típicas e altas habilidades (Política Nacional de Educação Especial. Brasília, 1994).

    Perguntamos a Laila se ela participa das aulas de educação física e se tem prazer em participar. Laila diz que a professora ensina várias coisas diferentes para ela fazer e também que sempre faz as atividades junto com o grupo. Laila fala que gosta muito de fazer essas atividades, gosta de estar no meio do grupo participando.

    Muitos mitos pairam sobre os indivíduos com deficiência física como o de que eles serão sempre incapazes ou de que são eternas crianças. É importante que a sociedade se conscientize de que essas pessoas podem, por meio de técnicas adequadas atingir níveis elevados de desempenho social, escolar, profissional e atlético (TEIXEIRA, 2008, p. 365).

    Laila diz que existe várias coisas que ela gostaria de fazer se não tivesse essa deficiência como: conversar mais com as pessoas, jogar vôlei, andar melhor.

    A professora de educação física de Laila é acadêmica do 4º período do curso de educação física de uma instituição privada da cidade de Brusque/SC. Esta professora trabalha com Laila há seis meses.

    Quando perguntamos para a professora o que ela entende por inclusão, ela diz que é trazer para junto do grande grupo o que dele não faz parte. Fazer com que seja parte.

    Segundo Fonseca (1995, p.11), “assumir uma política de direitos humanos e de garantia sociais exige a criação das mesmas oportunidades educacionais, laborais e de bem estar para todos os cidadãos, deficiente ou não”.

    A diretora da escola diz que não existe inclusão e sim “ilusão”, lançaram a inclusão na sociedade e não deram estrutura para que seja aplicada. A diretora também comentou que é impossível ter um cadeirante na escola, pois não existe acesso para isso. O acesso que a diretora se refere é adaptação de rampas, banheiros adaptados, transportes, ou seja, tudo o que facilita autonomia da pessoa com deficiência.

    A professora diz que Laila está sendo bem incluída nas aulas de educação física, participa dos jogos e brincadeiras junto com a classe, Laila realiza as atividades respeitando seus limites, quando não consegue é mediada pela professora.

    A tarefa do professor de educação física é complexa, pois deve contabilizar os interesses do grupo com aqueles que apresentam deficiências, das mais variadas, atendendo as características individuais de cada um. A partir de agora, apesar das diferenças, todos sem exceção, deverão estar dentro dessa aula de educação física (SOLER, 2005, p. 18).

    Enquanto a aceitação de Laila em relação a sua deficiência, a professora fala que é normal, ela lida com a deficiência com naturalidade.

    Quando apenas o lado negativo da conduta é realçado, quando a criança não se sente amada pelo que é. Isso se constitui no primeiro passo em direção a baixa auto-estima. Pois ela subestima sua própria capacidade e tem a insegurança como sua companheira mais constante. Costuma também não agüentar a frustração. Resolve essa problematização se isolando, passando a não mais conviver em trocar com outras pessoas, pois sempre se imagina sendo derrotada (SOLER, 2005, p. 147-148).

    Nas aulas observadas percebemos que Laila se sente feliz em participar das atividades, mesmo com suas dificuldades. Observamos em duas atividades realizadas na aula de educação física que Laila tem dificuldades em se equilibrar, já com a ajuda da professora ela consegue se locomover melhor, conseguindo realizar melhor as atividades. Ela mostra ter muita vontade em participar, sempre sorridente. Quando a professora aplica atividades onde Laila não pode realizar, ela não fica parada, faz atividades individuais com a professora. É importante salientar que o professor incentive os alunos a se ajudarem, os alunos ficam motivados para a prática e elevam a auto-estima. Segundo a professora de educação física, Laila é sempre convidada a participar das atividades motoras como os outros alunos e responde muito bem ao convite.

    Para Castro (2007, p. 269), “componentes prazerosos facilitam contato e interação positivos com os outros, diminuem o tédio e aumentam a motivação. As atividades devem proporcionar riso, alegria, conforto emocional, paz de espírito”.

    A professora de educação física diz que está preparada para trabalhar com essa jovem, pois ela responde as suas expectativas, então acredita que atende as necessidades dela. Diz também que as primeiras aulas com Laila participando foram bem interessantes, pois foi seu primeiro trabalho com uma pessoa com deficiência, diz que procura conversar com ela para saber como ela é, e ajuda a desenvolver suas habilidades motoras.

    Segundo Soler (2006, p. 20), o professor deve buscar identificar em suas aulas, quais as necessidades e capacidades de cada pessoa, e como procurar potencializar sua autonomia e independência.

    Perguntado para a professora de educação física se a escola disponibiliza materiais adequados para trabalhar com Laila, ela responde que não, todas as atividades são elaboradas por ela sem nenhum material adaptado. Observando seu comportamento motor, percebemos que Laila tem dificuldade com o equilíbrio, não arremessa, não chuta, enfim não consegue fazer atividades com bolas ou materiais desse tipo.

    Para Costa (1992) a intervenção motora volta-se para o ensino de uma tarefa motora, ou melhor, uma habilidade motora, o que implica na aplicação de uma série de princípios de aprendizagem. Na aprendizagem motora, as habilidades cognitivas atenção, memória e resolução de problemas mostram-se envolvidas durante todo o processo de aprendizagem. Se uma criança apresentar dificuldades na eficiência e na velocidade do processamento das informações, constituirá aspectos que irão interferir no processo de aprendizagem de habilidades motoras fundamentais para o desenvolvimento motor das crianças com deficiência.

    Observamos que em um determinado momento da aula, a professora buscou um gelo e colocou na boca de Laila, pelo fato de ela babar muito, o gelo faz com que ela aprenda a sugar a sua saliva.

    Laila é avaliada pela professora de educação física, pelo esforço para realizar as atividades propostas, evolução motora, participação, motivação e disposição. A professora diz que quando chegou à escola, Laila era muito quieta, contou que o outro professor de educação física não a convidava para fazer as atividades, ela sempre ficava sozinha. A partir do momento que assumi as aulas de educação física Laila começou a participar.

    “O que me impressionou foi o seu esforço, a sua vontade, e é dessa forma que a avalio, e em todas as aulas faço ela fazer as atividades, faço também bastante perguntas para estimular a fala.” (professora de educação física).

    Conversando com os professores de sala, um acadêmico do curso de Letras que leciona a disciplina língua portuguesa, e a outra habilitada em letras lecionando a disciplina língua estrangeira - Inglês, relatam que pecam em relação à Laila, admitem que não estão preparados para trabalhar com deficientes, na sua formação acadêmica não receberam informações necessárias, ou seja, não foram preparados para isso, falam que não fazem de propósito, mas que às vezes passa despercebido. Comentam que Laila também é muito lenta, e que não podem deixar de dar as suas aulas esperando que ela termine o que está fazendo. De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência (PAIM, 2007) a escola deve adequar o currículo, quando necessário, em relação a conteúdos, métodos, técnicas, organização, recursos educativos, temporalidade e processos de avaliação. Os municípios deverão ofertar cursos de formação continuada dos profissionais que trabalham na escola com o objetivo de dar atendimento adequado aos alunos com deficiência.

    Cada necessidade é única e, portanto, cada caso deve ser estudado com muita atenção. A experimentação deve ser muito utilizada, pois permite observar como a ajuda técnica desenvolvida esta contemplando as necessidades percebidas.

    Na entrevista com a irmã de Laila ela começa relatando que segundo o médico Laila teve uma paralisia cerebral na hora do parto, houve uma falta de oxigenação no cérebro, hemorragia, tendo uma grande demora para nascer. Foi feito uma ultra-som com oito meses e ela estava em posição normal, certa para nascer, depois é que se virou, dificultando o parto. O médico deixou claro que a família teria que rezar porque só por um milagre Laila sobreviveria.

    “Se tivessem feito uma cesárea ela tinha nascido perfeitinha” (irmã)

    Depois disso Laila ficou oito em dias em Florianópolis, e a família não sabia ao certo o que estava acontecendo e como Laila ficaria segundo o médico não saberia se Laila teria uma deficiência física ou metal, só com o tempo saberíamos o que ela teria de fato.

    A paralisia cerebral é um grupo de sintomas incapacitantes permanentes, resultantes de dano ás áreas do cérebro responsáveis pelo controle motor. É um problema não progressivo que pode ter origem antes, durante ou logo após o nascimento e se manifesta na perda ou no comprometimento do controle sobre a musculatura voluntária (WINNICK, 2004, p. 208).

    Com essa notícia a família no início agiu como não fosse nada, porque ela parecia normal, quando bebê ela tinha as pernas firmes. Ao decorrer do tempo foram notando sua dificuldade de se locomover, sua deficiência é mais agravada nos membros superiores, tanto que hoje Laila caminha. Quando ela era pequena ela também andava, até pensavam que ela seria normal, ela tinha dificuldade para segurar a cabeça.

    Segundo Stobaus; Mosquera (2004, p. 223), a criança de um clima de relações tranqüilo e o apoio de toda a família são as condições necessárias para o estabelecimento de uma intervenção precoce bem sucedida, e ao mesmo tempo, a principal meta dessa intervenção.

    Segundo a fala da irmã inclusão é ser incluída em todas as atividades da escola, e lembra que no ano passado ela reclamava muito que suas amigas não a chamavam para brincar. Tem dias que pra ela e como se não fosse nada, sorridente, alegre, mas tem dias que ela vê as meninas da idade dela, percebe que é diferente, e chora.

    Segundo Pacheco (2007, p. 15), a inclusão pressupõe que a escola se ajuste a todas as crianças que desejam matricular-se em sua localidade, em vez de esperar que uma determinada criança com necessidades especiais se ajuste a escola.

    Enquanto a inclusão na escola a irmã de Laila relata que ela fica sozinha, as meninas estão sempre em grupinhos conversando e ela acha que elas deveriam ir chamar Laila para brincar, conversar com ela também. A irmã fala que às vezes Laila se questiona por ser assim, mas são poucas às vezes, porque ela está sempre feliz, em casa ela tem o computador dela, ela se vira muito bem, é muito vaidosa.

    No passado Laila reclamava muito, pois queria participar das aulas de educação física e o professor não a incluía, já este ano ela diz que esta fazendo as aulas. A fisioterapeuta que esteve na escola disse que ela teria que fazer as aulas de educação física para desenvolver suas habilidades motoras. Quando as amigas de Laila eram pequenas brincavam normalmente com ela, depois que ficaram adolescentes não querem mais saber.

    Pick (2004) enfatiza que ao participarem de atividades motoras, as crianças trazem consigo problemas pessoais e sociais que influenciam nas suas atitudes, comportamentos, e, principalmente, na sua motivação em engajarem-se nas aulas. Para a autora, as crianças precisam aprender nas práticas físico-esportivas, valores pessoais e sociais, e habilidades que as auxiliem a percorrer de forma construtiva, os problemas sociais que estão presentes em suas vidas.

    As habilidades sociais são necessárias para a participação em atividades de recreação e jogos, onde o uso de regras para a interação e de comportamento adequado ao convívio social, são importantes para alcançar o sucesso. A construção de regras pelo grupo permite que a criança trabalhe com mais autonomia para desenvolver os objetivos das atividades e construa referências para enriquecer suas habilidades sociais. Muitas dessas habilidades sociais são necessárias para participar com sucesso na escola e na sociedade.

Considerações finais

    Durante as entrevistas realizadas neste estudo, verificamos que Laila teve seu processo de aprendizagem um pouco comprometido no início de sua vida escolar. Se Laila tivesse sido incluída nas aulas de educação física desde o início, poderia ter conseguido desenvolver o seu potencial de orientação e movimentação independentes mais cedo, garantindo maior segurança e um melhor processo ensino-aprendizagem.

    O desenvolvimento das habilidades deve começar desde cedo. O deficiente precisa aprender a se movimentar e se orientar com mais segurança, tanto na escola como em ambientes públicos, para que se sinta útil e, ao mesmo tempo, consiga se virar sozinha, para tanto o apoio da família e da própria escola propiciará recursos necessários ao desenvolvimento do deficiente.

    Percebemos nas aulas observadas que Laila tem um bom relacionamento com a professora de educação física, ao contrário dos professores de sala que quase sempre a deixam de lado. Observou-se também que cabia ao professor, que estava trabalhando com Laila, utilizar-se de situações estimuladoras capazes de trazer a aluna para as aulas práticas de educação física. Desta maneira, a aluna adquire maior confiança e se torna mais independente.

    Segundo Laila, os conhecimentos adquiridos contribuíram muito para sua vida, pois as atividades de coordenação motora e equilíbrio deram mais segurança e independência para que ela pudesse se locomover com maior tranqüilidade. Com isso, sentia-se uma pessoa mais útil e capaz para realizar as atividades individualmente.

    Conseguimos perceber também que a inclusão é muito fácil quando se fala no assunto, o difícil é por em prática sem ter sido preparado para isso, sabendo que existe o preconceito, os obstáculos como, a estrutura da escola, professores não qualificados para trabalhar com o deficiente.

    Este estudo foi de grande valia para nossa vida profissional e pessoal, aprendemos que o deficiente pode e deve ser feliz na escola e na sociedade, apesar de todas as dificuldades que enfrentam, e também o preconceito que de alguma forma ainda existe em nossa sociedade, que a família e a escola são de fundamental importância para o crescimento dessas crianças. Sendo assim devem trabalhar sempre em parceria escola e família.

    Todas as crianças têm seus direitos e deveres, inclusive o deficiente físico, por este motivo o mesmo deve ser tratado com igualdade, participando de todas as aulas, inclusive nas aulas de educação física, respeitando sempre suas limitações. Sugerimos que a secretaria de educação do município onde Laila estuda, promova cursos de formação continuada para os profissionais da educação na área da educação especial e que realmente se coloque em prática a inclusão escolar.

Referências

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