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A educação alimentar e nutricional

La educación alimentaria y nutricional

 

Departamento de Educação Física

da Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Maria Gisele dos Santos

mariagisele@yahoo.com

 

 

 

 

Resumo

          A escola é um espaço privilegiado para a promoção da saúde e desempenha um papel fundamental na formação de valores, hábitos e estilos de vida, entre eles o da alimentação, enfim todo o conhecimento que possa enriquecer o universo cultural de nossas crianças e servir de base para o desenvolvimento de múltiplas competências, entre elas as cognitivas. Proporcionando as crianças uma alimentação saudável e de boa qualidade para o seu desenvolvimento e crescimento.

          Unitermos: Escola. Alimentação. Nutrição.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Esporte vem se provando, dentro dos princípios aplicados pela educação pelo esporte, uma via poderosa e privilegiada para desenvolver o potencial de crianças e jovens. Tem, em si, a capacidade de educar para promover o desenvolvimento de competências pessoais, sociais, cognitivas e produtivas. Ou seja, promover o desenvolvimento humano. O esporte e o lazer atuam como instrumentos de formação integral do individuo e, como conseqüência disso, possibilitam o desenvolvimento da convivência social, a construção de valores, a melhoria da saúde e o aprimoramento da consciência critica (Filgueira, 2008).

    O papel da promoção da saúde cresce em sua importância como uma estratégia fundamental para o enfrentamento dos problemas do processo saúde-doença-cuidado e da sua determinação. A direção, nesse caso, é o fortalecimento do caráter promocional e preventivo, contemplando o diagnóstico e a detecção precoce das doenças crônico-degenerativas e aumentando a complexidade do primeiro nível de atenção, elementos que ainda são considerados como desafios para o sistema de saúde (Buss, 1999).

    Conforme o autor citado anteriormente existe múltiplas conceituações de promoção da saúde, dentre as quais o autor ressalta dois grandes grupos; no primeiro, a promoção da saúde "consiste nas atividades dirigidas centralmente à transformação dos comportamentos dos indivíduos, focando os seus estilos de vida e localizando-os no seio das famílias e, no máximo, no ambiente das 'culturas' da comunidade em que se encontram" (p.179). Essa concepção, segundo o autor, tende a se centrar nos componentes educativos. Uma segunda concepção, e mais moderna, da promoção da saúde é caracterizada pela "constatação de que a saúde é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, de habitação e saneamento, boas condições de trabalho e renda, oportunidades de educação ao longo de toda a vida dos indivíduos e das comunidades.

    A eficácia da educação nutricional ao escolar poderia estar concebida não circunscrita como simples verificação de conhecimentos, e sim evoluindo pela incorporação da avaliação de práticas e indicadores efetivos de saúde no decurso do processo educativo (avaliação de processo) e convergindo para replanejamentos de aperfeiçoamento (produto de avaliação de resultado), sinergizada por complementaridade entre variáveis quantitativas e qualitativas. O grau de informação, por si só, potencializa maior autocuidado de saúde e, nesse contexto, têm-se focado a "alfabetização em saúde" e a "alfabetização em nutrição", que avaliam o grau de domínio e compreensão de leigos sobre conceitos e inter-relações mínimas de saúde e nutrição, domínio esse considerado forma de empoderamento (Fourez, 1997) por instrumentalizar para conseguir saúde. Não obstante, uma avaliação restrita à mensuração de conhecimento geralmente implica exclusão. Uma avaliação global, preocupada com a aprendizagem, pressupõe acolhimento, tendo em vista a transformação.

A alimentação é a base necessária para um bom desenvolvimento físico, psíquico e social das crianças

    Uma boa nutrição é a primeira linha de defesa contra numerosas enfermidades infantis que podem deixar seqüelas nas crianças por toda a vida. Uma boa nutrição e uma boa saúde estão diretamente ligadas através do tempo de vida, mas a conexão é ainda mais vital durante a infância. Neste período as crianças podem adquirir bons hábitos durante a refeição no que se refere à variedade, sabor, etc.

    As práticas alimentares são construídas a partir de dimensões temporais, de saúde e de doença, de cuidado, afetivas, econômicas e de ritual de socialização, entrelaçadas em rede (Rotenberg, 2004). Os primeiros dois anos de vida da criança são caracterizados por crescimento acelerado e grande desenvolvimento psicomotor e neurológico. Logo, as deficiências nutricionais na primeira infância podem comprometer o padrão de crescimento, gerar atraso escolar e favorecer, futuramente, o surgimento de doenças crônicas (WHO, 2006)

    Os efeitos da desnutrição na primeira infância (0 a 8 anos) podem ser devastadores e duradouros. Podem impedir o desenvolvimento intelectual e cognitivo, o rendimento escolar e a saúde reprodutiva, enfraquecendo assim a futura produtividade no trabalho.

    A desnutrição humana é uma condição que afeta populações de todas as nações, sejam elas subdesenvolvidas ou tecnologicamente avançadas. A desnutrição infantil é internacionalmente reconhecida como um importante problema de saúde pública e seus efeitos devastadores sobre a saúde e a sobrevivência estão bem estabelecidos. Enquanto globalmente a projeção da prevalência do baixo peso infantil é de declínio em países em desenvolvimento, paradoxalmente, na África a projeção é de aumento. Embora uma melhora geral na situação global possa ser vislumbrada, o objetivo de redução de 50% na prevalência do baixo peso entre crianças até cinco de idade até 2015, estabelecido pelas Nações Unidas, possivelmente não será alcançado globalmente nem mesmo em regiões desenvolvidas (Onis, 2004).

    No Brasil, a exemplo de várias outras regiões do globo, a leitura comparativa dos três estudos transversais realizados nas décadas de 70, 80 e 90, em âmbito nacional e microrregional (Estudo Nacional de Despesas Familiares (ENDEF), 1974/1975; Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), 1989; Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) 1995-1996), caracteriza um período de transição nutricional, podendo-se inferir um declínio na prevalência da desnutrição em crianças menores de cinco anos e, por outro lado, a elevação da prevalência de sobrepeso/obesidade em adultos. Há que considerar, porém, que as características do declínio na prevalência da desnutrição no Brasil se apresentam assimétricas no que se refere ao meio urbano e rural e à distribuição regional (Batista-Filho, 2003).
Na promoção de uma alimentação saudável dois aspectos devem ser ressaltados: a mudança de um comportamento alimentar em longo prazo é um objetivo com elevadas taxas de insucesso, e os hábitos alimentares da idade adulta estão relacionados com os aprendidos na infância. Esses dois aspectos apontam para que a intervenção na promoção de comportamentos alimentares saudáveis deva incidir com maior ênfase nos primeiros anos da infância, para que os mesmos permaneçam ao longo da vida.

    A disponibilidade e o acesso ao alimento em casa, as práticas alimentares e o preparo do alimento, influenciam o consumo alimentar da criança. A população infantil é do ponto de vista psicológico, socioeconômico e cultural, influenciada pelo ambiente onde vive que, na maioria das vezes, é constituído pelo ambiente familiar. Dessa forma, as suas atitudes são, freqüentemente, reflexos desse ambiente. E quando o meio ambiente é desfavorável, o mesmo poderá propiciar condições que levem ao desenvolvimento de distúrbios alimentares que, uma vez instalados, poderão permanecer ao longo da vida (Oliveira et al 2003).

    A partir dos dois anos de idade, a criança passa por diversas e constantes transformações. E a alimentação exerce grande influência nesse processo, tendo papel fundamental no desenvolvimento dos músculos, no crescimento dos ossos e na manutenção do peso.
As mudanças mais notáveis acontecem até a puberdade, que costuma chegar por volta dos 12 anos, nos meninos, e depois dos 10 nas meninas. Até atingir essa idade, as crianças de ambos os sexos ganham, em média, três quilos por ano. Já a estatura aumenta de seis a oito centímetros, anualmente. O ritmo de crescimento desacelera conforme a criança se aproxima da puberdade, fase em que o crescimento retoma a velocidade.

Alimentação infantil requer cuidados especiais

    A nutricionista Gabrielle Carassini Costa, nutricionista do GANEP – Grupo de Nutrição ensina que o envolvimento dos pequenos desde as compras até chegar à preparação os pratos torna-os mais interessados a experimentar novos sabores. “Dessa forma é mais fácil implantar uma dieta saudável, explicando a eles que é importante para a saúde provar um pouco de cada grupo alimentar, principalmente proteínas, presentes nos queijos, peito de peru, presunto magro, iogurtes e leites; carboidratos, nos pães, bisnaguinhas, cereais e torradas, e, equilibradamente, gordura, encontrada em óleos, carne, ovos e manteiga”. 

    Distribuir a alimentação em cinco refeições, como café da manhã, lanche, almoço, uma merenda leve à tarde e jantar, também é uma boa pedida. Impede que a criança passe muito tempo com fome e consuma alguma bobagem para enganar o estômago. São dicas valiosas que fazem toda a diferença para a saúde, e que, se seguidas à risca, certamente trarão benefícios para a criançada ao longo da vida. 

O que o cardápio precisa conter (Gabrielle Carassini Costa, nutricionista do GANEP – Grupo de Nutrição) 

  • Chocolate quente e pipoca é permitido, desde que não embebida em margarina. O que conta é o limite passado à criança. 

  • Na sobremesa, troque o chocolate por uma banana assada polvilhada com canela e açúcar, que é menos calórico e mais saudável.

  • Ofereça doces caseiros, como os de abóbora e mamão. São naturais e não contém conservantes.

  • Sirva bolo de laranja nas refeições mais leves. A vitamina C presente na fruta contribui com a imunidade, que ajuda a evitar resfriados.

  • Sanduíche vegetal, com alface, tomate, atum enlatado em água ou patê de atum com requeijão light, em pão integral – as fibras presentes ajudam a manter a saciedade – é excelente para o lanche da tarde.

  • Ingestão de líquidos para hidratar o ano inteiro. Sucos e águas são essenciais. Criança é mais ativa por isso perde líquidos e sais minerais mais facilmente é mais acelerado, o que exige uma hidratação contínua.

Conclusão

    Embora a família seja um importante determinante na formação dos hábitos alimentares não se pode deixar de mencionar que outros fatores, como a escola, a rede social, as condições socioeconômicas e culturais, são potencialmente modificáveis e influenciam no processo de construção dos hábitos alimentares da criança e, conseqüentemente, do indivíduo adulto. E importante que os pais, a escola e o Programa Segundo tempo desempenham um papel no que diz respeito à compra, ao preparo dos alimentos, palestras, cursos, além do controle da qualidade dos alimentos ingeridos, já que as preferências alimentares das crianças são influenciadas pelas escolhas e pelos hábitos alimentares dos pais, e pelas informações dadas pela escola.

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