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Nível de aptidão física e risco de coronariopatias entre 

universitários praticantes e não-praticantes de atividade física

Nivel de aptitud física y riesgo de enfermedades coronarias entre 

universitarios practicantes y no practicantes de actividades físicas

 

*Formada em Educação Física – Faculdade de Educação Física e Fisioterapia

da Universidade de Passo Fundo (FEFF/UPF).

**Professor de Fisiologia do Exercício e Treinamento Esportivo da

Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (FEFF/UPF)

Aline Ferron*

Hugo Tourinho Filho**

tourinho@upf.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo identificar as diferenças existentes nos aspectos relacionados à aptidão física e a saúde de universitários jovens praticantes e não-praticantes de atividade física regular. Os componentes da aptidão física relacionados à saúde utilizados referem-se à composição corporal; ao nível de flexibilidade e ao consumo de oxigênio de pico (VO2pico). Para determinar outro importante fator de saúde, o risco de coronariopatias, utilizou-se o questionário RISKO adaptado da Associação Americana de Cardiologia. A amostra foi composta por 30 acadêmicos de ambos os sexos com idades entre 17 e 30 anos. Os dados foram tratados através de recursos da estatística descritiva, sendo que as diferenças entre os grupos foram analisadas por intermédio do teste “t” de Student para amostras independentes, com nível de significância de p<0,05. Os resultados demonstraram que as variáveis VO2pico e percentual de gordura dos universitários que praticavam atividade física apresentaram um comportamento significativamente melhor com relação a um estilo de vida ativo voltado à promoção da saúde quando comparados com os acadêmicos não-praticantes. Com o auxílio da análise dos dados, parece razoável sugerir que o comportamento tanto do VO2pico como do percentual de gordura juntamente com o hábito de realizar atividade física são os responsáveis diretos pelo menor índice de risco de coronariopatias observado nos acadêmicos que incluem no seu dia-a-dia a prática regular de exercícios físicos.

          Unitermos: Aptidão física. Risco de coronariopatias. Universitários. Atividade física

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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1.     Introdução

    A história do desenvolvimento humano, as mudanças físicas da nossa anatomia, a luta contra as doenças e o envelhecimento, nos mostram o interesse do homem pelo corpo, pelo seu uso, pela sua eficiência, pela sua vida nos trabalhos e nas atividades que ele desempenha. Se ele precisava lutar, lutava, se precisava transportar ou levantar as coisas usava o seu corpo. Porém, no decorrer da história da humanidade, esta relação direta e ativa com o corpo começou a transformar-se em outro tipo de relação. O que se fazia antes manualmente, hoje está sendo feito pelas máquinas. Enquanto o artesão produzia uma peça inteira, o operário passou a executar somente alguns movimentos na elaboração do produto. Hoje estamos mudando o ambiente e produzindo através de outros recursos, que não são apenas os corporais. Neste aspecto, passou-se a valorizar mais na vida do homem a sua capacidade intelectual e cognitiva. Esta tendência no desenvolvimento do ser humano o afastou e o está afastando da necessidade de usar o corpo diretamente (Iwanowicz, 1989).

    De qualquer forma, o movimento sempre fez parte da vida do homem, porém, o acesso a novas tecnologias vem tornando-o um ser menos ativo em relação ao seu passado. Estas facilidades dos tempos atuais trazem mais conforto e praticidade com menos esforço; sendo assim, a tendência é haver mais tempo para o lazer. Todavia, existem, de uma forma geral, dois caminhos a seguir em relação a este maior tempo: entregar-se ao ócio e conviver com os problemas de saúde acarretados por tal estilo de vida ou aproveitar este tempo da forma mais saudável possível, vivendo ativamente (Colantonio, 1998).

    Evidências científicas internacionais indicam que a falta de atividade física é prejudicial à saúde, e que sua prática, em níveis moderados confere significativos benefícios. Infelizmente, nos países em que pesquisas sobre atividades físicas têm sido realizadas, o comportamento sedentário ainda é grande, girando em torno de 40% (Phillips, Pruitt & King, 1997).

    O reconhecimento relativamente recente da natureza benéfica do exercício sobre a saúde e o bem estar pode, à primeira vista, ser considerado como uma evidência da incapacidade das pesquisas até então realizadas em estabelecer relações entre o exercício e a saúde. No entanto, essa conclusão está longe da verdade, pois desde os anos de 1880 havia evidências mostrando o efeito protetor da atividade física regular sobre a morte prematura, em conseqüência de doenças cardíacas e de acidente vascular cerebral (Robergs & Roberts, 2002).

    Nesse sentido, não restam muitas dúvidas de que o treinamento habitual com exercícios apropriados seja um fator importante na redução das doenças cardiovasculares (coronariopatias, apoplexias, doenças hipertensivas) e de outros tipos entre as pessoas de todo mundo.

    Uma análise de 43 estudos da relação entre inatividade física e coronariopatias concluiu que a pessoa sedentária apresenta uma probabilidade quase duas vezes maior de vir a desenvolver doença cardíaca que o indivíduo mais ativo (McArdle, Katch & Katch, 2003). Este risco relativo da falta de atividade física de aproximadamente duas vezes, considerado isoladamente é o mesmo que uma série de outros fatores de risco tratados em conjunto, como o fumo, álcool, dieta, estresse, etc. (Centers for Disease Control, 1987). Sabe-se, portanto, que a inatividade é o fator de risco que mais prevalece na ocorrência de doenças degenerativas quando comparada com hipertensão, níveis altos de colesterol e fumo (Wilmore & Costill, 2001).

    Partindo desta afirmativa, parece não existir dúvidas de que a atividade física praticada de forma adequada confere inúmeros benefícios à saúde, reduzindo, assim, significativamente o risco de desenvolvimento de doenças hipocinéticas. Para Guedes & Guedes (1992) a melhoria da capacidade funcional do indivíduo através da prática de exercícios, além de contribuir na redução de fatores de risco a doenças, contribui, também, para uma melhoria em sua qualidade de vida.

    Em nossa realidade, os programas de Educação Física são parte integrante dos currículos escolares, desde as primeiras séries até o final do período de escolarização, sendo facultativa a sua prática nos cursos noturnos, conforme Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1998), fazendo assim com que, possivelmente, crianças e adolescentes envolvidos nesta estrutura possam dedicar mais tempo a estes programas do que em outros períodos de sua vida.

    No que se refere aos adultos, especificamente aos universitários, que constituem uma parcela muito pequena da população, havia uma obrigatoriedade da Prática Desportiva por no mínimo dois semestres, na freqüência de uma vez por semana, sendo isentos os alunos que trabalhassem, possuíssem idade superior a 30 anos ou que tivessem prole, diminuindo, assim, consideravelmente o número de praticantes. Atualmente, como a Prática Desportiva no Ensino Superior passou a ser facultativa, o número de praticantes reduziu-se ainda mais. Salienta-se que para que ocorram efeitos fisiológicos realmente significativos à saúde, a prática de atividades físicas deve ser de três a cinco vezes por semana (Fox, Bowers & Foss, 1991). Desse modo, a freqüência de uma vez por semana, confere poucos benefícios fisiológicos que realmente signifiquem uma melhoria na qualidade de vida e por esse motivo, o universitário que busca efeitos fisiológicos benéficos consideráveis na prática de exercícios deve recorrer, então, a outras formas senão a Prática Desportiva oferecida nas universidades, porém, nem todos disponibilizam de recursos e tempo para tais práticas.

    No Brasil, excetuando-se alguns raros estudos existem poucas informações disponíveis que possam caracterizar a saúde de jovens universitários. Para Madureira (1990) o descaso pela saúde de acadêmicos é algo preocupante nas universidades. Estudos estes que trariam uma informação relevante aos profissionais da área da saúde, que devem estar comprometidos com a qualidade de vida.

    Dessa maneira, considerando o que foi exposto, o presente estudo teve como objetivo identificar os aspectos relacionados à aptidão física e a saúde de universitários praticantes e não-praticantes de atividade física.

2.     Metodologia

2.1.     População e amostra

    A população deste estudo foi composta por universitários de ambos os sexos das mais diversas cidades de abrangência da universidade e que estivessem regularmente matriculados.

    A amostra foi constituída por um total de 30 universitários com idade entre 17 e 30 anos.

    Consideraram-se como praticantes de atividade física os indivíduos que realizavam algum tipo de atividade física pelo menos três vezes por semana.

2.2.     Coleta de dados

    Sendo a temática principal deste estudo à análise de dados para o estabelecimento dos níveis de aptidão física e risco de coronariopatia de universitários praticantes e não-praticantes de atividade física, com o intuito de buscar prováveis benefícios da atividade física em relação à saúde, utilizou-se para verificar o nível de aptidão física as seguintes medidas antropométricas e testes motores: peso corporal, estatura, dobras cutâneas para determinação do percentual de gordura e índice de massa magra; determinação do VO2pico por intermédio do teste de STANDFORD em esteira rolante e determinação dos níveis de flexibilidade pelo teste “sentar-e-alcançar”. Para verificar o índice de risco de coronariopatias utilizou-se o questionário “RISKO” (índice de risco cardíaco) adaptado da Associação Americana de Cardiologia (Fox; Bowers; Foss, 1991).

    A coleta de dados foi realizada em um laboratório de fisiologia de exercício, utilizando-se das seguintes medidas e padronizações:

2.2.1.     Estatura

    Para as medidas de estatura utilizou-se uma fita métrica devidamente colocada em uma parede lisa, a um metro de altura do solo, devidamente aprumada. Para sua determinação, o avaliado, sem calçado, posicionou-se de forma ereta, pés unidos, procurando colocar em contato com a escala de medida as superfícies posteriores dos calcanhares, a cintura pélvica, e a região occipital. Com o auxílio de uma régua, determinou-se a medida correspondente à distância plantar e o vértex, estando o avaliado em apnéia inspiratória e com a cabeça orientada em plano de Frankfurt.

2.2.2.     Peso corporal

    As medidas de peso corporal foram realizadas por uma balança eletrônica marca Lucastec – Ple180, com precisão de 100g. Para sua determinação o avaliado, com o mínimo de roupa possível e sem calçado, posicionou-se em pé, de costas para a escala de medidas da balança, no centro desta, ereto, com os braços ao longo do corpo, olhando para frente, de modo a evitar oscilações na leitura da medida.

2.2.3.     Composição corporal

    Para a análise da composição corporal utilizou-se às espessuras de dobras cutâneas, medidas com o auxílio de um compasso específico do tipo CESCORF com uma pressão constante de 10 g/mm2 independente de sua abertura. As medidas de dobras cutâneas foram realizadas no hemicorpo direito do avaliado, com uma precisão mínima de 0.1 milímetro, e o tecido celular subcutâneo foi diferenciado do tecido muscular com o auxílio do polegar e do indicador da mão esquerda, estando as pontas do compasso localizadas aproximadamente a um centímetro abaixo do ponto exato de reparo, segundo padronização de Behnke & Wilmore (1974). As medidas utilizadas foram a tricipital (para homens) determinada paralelamente ao eixo longitudinal do braço, na face posterior, no ponto médio da borda súpero-lateral do acrômio e o olecrano; subescapular (para mulheres) obtida obliquamente ao eixo longitudinal seguindo a orientação dos arcos costais, sendo localizada a dois centímetros abaixo do ângulo inferior da escápula; supra-ilíaca para (homens e mulheres) realizada no sentido obliquo a dois centímetros acima da crista ilíaca ântero-superior na altura da linha axilar anterior; abdominal (para homens), determinada paralelamente ao eixo longitudinal do corpo à aproximadamente dois centímetros à direita da borda lateral da cicatriz umbilical e coxa (para mulheres) determinada paralelamente ao eixo longitudinal da perna, sobre o músculo do reto femural a 2/3 da distância do ligamento inguinal e o bordo superior da patela. As dobras foram medidas três vezes, sendo registrada a dobra intermediária que não diferisse de 5% das outras duas dobras medidas no local. Para a predição da composição corporal dos acadêmicos, foi utilizada a equação proposta por Guedes (1994a).

2.2.4.     Flexibilidade

    Utilizou-se para verificar o nível de flexibilidade o teste “sentar-e-alcançar”, realizado com o auxílio de uma caixa de madeira especialmente construída para esta finalidade, apresentando dimensões de 30,5 x 30,5 x 30,5 cm, tendo a parte superior plana com 56,5 cm de comprimento, na qual foi fixada a escala de medida, apresentando uma amplitude de 0 a 50 cm, de tal forma que o valor 23 coincidiu com a linha onde o avaliado acomodou os seus pés (Guedes, 1994b). Para sua aplicação o avaliado estava descalço e assumiu uma posição sentada de frente para o aparelho, com as pernas embaixo da caixa, joelhos estendidos e com os pés encostados à caixa. Os braços estavam estendidos sobre a superfície da caixa, com as mãos colocadas uma sobre a outra e com a ponta dos dedos de ambas coincidindo. Para o registro dos resultados, o avaliado, com as palmas das mãos voltadas para baixo e em contato com a caixa, estendeu-se à frente ao longo da escala de medida, procurando alcançar a maior distância possível, realizando o movimento de modo lento e sem solavancos. A distância alcançada foi registrada a cada 0,5 cm determinada pela posição máxima atingida pela ponta dos dedos de ambas as mãos e mantidas por aproximadamente dois segundos. O avaliador apoiou os joelhos do avaliado na tentativa de assegurar que estes permanecessem devidamente estendidos durante a realização do teste. Foram oferecidas três tentativas ao avaliado: no entanto, para efeito de resultado final, computou-se a maior distância alcançada (Guedes, 1994b).

2.2.5.     Determinação do consumo de oxigênio de pico (VO2pico)

    Para a verificação do consumo de oxigênio de pico (VO2pico), foi realizado o protocolo de STANDFORD em esteira rolante e para o cálculo do VO2pico a equação sugerida pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (1991) para caminhada em plano inclinado:

2.2.6.     Índice de risco de coronariopatias

    Para a determinação do risco de coronariopatias utilizou-se o teste RISKO (índice de risco cardíaco) adaptado da Associação Americana de Cardiologia. A finalidade do teste “RISKO” consiste em fornecer uma estimativa das probabilidades de se ter um ataque cardíaco, levando-se em consideração os seguintes fatores: idade, hereditariedade, hábito de atividade física, idade, percentual de gordura, fumo, nível de stress, pressão arterial e ingestão de gordura e açúcar na dieta (QUADRO 1).

Quadro 1. Questionário para cálculo do índice de risco cardíaco, sugerido pela Associação Americana de Cardiologia (FOX et alii, 1991)

 

Hereditariedade

01

não conhece cardiopata

na família

02

um parente cardiopata

acima de 60 anos

03

dois parentes cardiopatas

acima de 60 anos

04

um parente cardiopata

com menos de 60 anos

06

dois parentes cardiopatas

com menos de 60 anos

Atividade

Física

00

esforço ocupacional e recreacional intenso

02

esforço ocupacional e recreacional moderado

04

trabalho sedentário e esforço recreacional moderado

06

trabalho sedentário e esforço recreacional leve

07

ausência completa de qualquer exercício

Idade

01

10-20anos

02

21-30anos

03

31-40anos

04

41-50anos

06

acima de 51anos

Gordura Corporal

Homens

Mulheres

00

menor que 10%

menor que 24%

01

10-12%

24-26%

04

13-15%

26-28%

05

16-18%

28-30%

06

acima de 18%

acima de 30%

Fumo

00

não fumante

01

só após as refeições

04

até 10 cigarros/dia

05

11 à 20 cigarros/dia

06

acima de 20 cigarros/dia

Emoções

00

vida tranqüila e sem problemas

01

problemas eventuais e passageiros

03

problemas que persistem

05

problemas frequentes e de mediana importância

06

problemas graves e angustiosos

Pressão

Arterial

00

normal

02

labilidade tensional

03

diatólica entre 8,5-9 mmHg

05

diastólica entre 9-9,5 mmHg

06

diastólica acima de 9,5mmHg

Alimentação

00

não ingere gordura animal, açúcar e nem doces

½

10% gordura animal

01

20% de gordura animal

02

30% de gordura animal

03

40% de gordura animal

Alimentação

01

nenhum doce e 1 colher

de açúcar refinado/dia

02

doces as vezes e/ou 4 colheres de açúcar refinado/dia

03

doces nas duas refeições e 6 colheres de açúcar refinado/dia

04

repete doces nas refeições e mais de 6 colheres de açúcar refinado/dia

Risco de coronariopatia. Tabela de pontos e análise de resultados

06 - 14 Pontos: Remoto

15 - 19 Pontos: Risco abaixo da média

20 - 27 Pontos: Risco médio

28 - 33 Pontos: Risco moderadamente elevado

34 - 39 Pontos: Risco elevado

Acima de 40 Pontos: Perigo eminente

2.3.     Tratamento estatístico

    Os dados foram tratados estatisticamente, através dos recursos da estatística descritiva, sendo que as diferenças entre os grupos de universitários praticantes e não-praticantes de atividade física foram analisadas por intermédio do teste “t” de Student para amostras independentes, com nível de significância de p< 0,05.

3.     Resultados e discussão

    A tabela abaixo apresenta os valores obtidos, no presente estudo, descrevendo a média e o desvio padrão das variáveis analisadas em acadêmicos praticantes e não-praticantes de atividade física e o nível de significância entre os grupos.

Tabela 1. Valores de média e desvio padrão referentes aos dados observados em universitários praticantes e não praticantes de atividade física

Variáveis

Praticante

Não-Praticante

“p”

Idade

20.67 ± 3.99

20.07 ± 2.37

0.620905

Estatura

1.70 ± 0.12

1.72 ± 0.09

0.672063

Peso

62.83 ± 12.94

66.39 ± 12.92

0.457603

% Gordura

17.86 ± 7.09

23.13 ± 5.72

0.032978*

Massa magra

52.33 ± 14.02

51.17 ± 10.09

0.796021

Flexibilidade

30.40 ± 5.89

27.87 ± 6.93

0.289740

VO2pico

37.63 ± 6.80

31.21 ± 5.04

0.006607*

RISKO

12.30 ± 5.08

20.03 ± 6.27

0.000900*

*p <0,05

    No caso das variáveis: idade, peso, estatura, flexibilidade e massa magra não foi detectado diferenças estatisticamente significantes entre os grupos. Entretanto, os resultados de VO2pico, percentual de gordura e RISKO apresentaram melhores resultados nos universitários praticantes em relação aos não-praticantes.

    A ausência de diferenças estatisticamente significantes entre os índices de flexibilidade verificados entre os grupos vai ao encontro dos relatos de Corbin & Fox (1985), que apontam que a flexibilidade, geralmente não recebe a mesma atenção dos outros componentes da aptidão física relacionados à saúde, devido às pessoas não perceberem que um bom nível de flexibilidade pode conferir inúmeros benefícios. Comumente a flexibilidade e o alongamento têm sido considerados como domínio exclusivo, de ginastas e dançarinos, e muitas vezes considerados pelos homens como não importantes ou como uma técnica que somente as mulheres fazem, ou pode ser, ainda, que as pessoas acreditem que a flexibilidade é um dom nato do indivíduo e não pode ser desenvolvido pelo exercício regular ou simplesmente desconheçam o que realmente é a flexibilidade e o porque de sua importância. Felizmente a tendência para incorporar os exercícios de alongamento e flexibilidade nas aulas tem ajudado a enfatizar a importância da flexibilidade no desenvolvimento da aptidão total.

    Para Fox & Corbin (1986), é esperado que um programa de exercícios provoque a perda de gordura devido ao déficit calórico incorrido, ocorrendo ao mesmo tempo um aumento de peso do tecido muscular (massa magra), devido à atividade muscular extra. Este estudo, porém, não apresentou diferenças estatísticas significantes entre os grupos de universitários praticantes e não-praticantes de atividade física em relação à massa magra. Pode ser que as atividades desempenhadas pelo grupo de praticantes não tenham privilegiado as atividades voltadas ao aumento de força muscular, ou então, não tenham sido realizados trabalhos de força adequados ou na intensidade necessária. De acordo com Guedes & Guedes (1995), para que se possa manter níveis satisfatórios nos índices de força e resistência de um grupo muscular específico, necessita-se exercitá-lo regularmente em níveis mais intensos do que normalmente lhe é solicitado nas tarefas diárias normais, trabalho este geralmente feito utilizando-se de pesos adicionais (musculação, por exemplo). Outra possível explicação para a ausência de diferença nos valores de massa magra observado entre os acadêmicos praticantes e não-praticantes de atividade física possa ter sido em função das diferenças ocorridas na padronização das medidas para os cálculos da densidade corporal, conforme alerta Guedes (1994a). Em estudos desenvolvidos por Wilmore (1983), foi demonstrado que os cálculos para determinar a quantidade de gordura e massa magra apresentam certas limitações referentes à idade das pessoas envolvidas, limitações estas baseadas no princípio de que o conteúdo de água, proteínas e minerais, além do tecido adiposo essencial ao músculo se mantém razoavelmente constante em pessoas adultas, e que sofrem grandes variações, tanto no período crítico de maturação, como na terceira idade.

    Em um estudo realizado por Upton, Hagan, Rosentsweig & Gettman (1983) que comparou um grupo de mulheres sedentárias com corredoras de distância, ambos os grupos formados por faixa etária e estaturas semelhantes, constatou-se que, embora o peso corporal magro fosse ligeiramente mais elevado nas corredoras, a diferença estatística entre os grupos não foi significativa, sugerindo aos investigadores que a maior parte das mulheres, independente de seus níveis de atividade física foram semelhantes em quantidade de massa magra, e que os baixos níveis de gordura das corredoras deveu-se ao dispêndio maior de energia causado pela prática de atividade física. Então, possivelmente, algumas destas explicações podem refletir o fato de o grupo de praticantes de atividade física não apresentarem melhoras significativas dos não-praticantes no que se refere à massa magra.

    Com relação ao comportamento do consumo de oxigênio de pico (VO2 pico) verificou-se diferença estatisticamente significativa (p<0,05) nos índices desta capacidade nos acadêmicos praticantes em relação aos não-praticantes. De acordo com Skinner & Oja (1994), o VO2pico é considerado como um dos componentes da aptidão física de maior relevância relacionada à saúde e que menores níveis de capacidade aeróbia conforme Blair et al (1989) e Guedes & Guedes (1995), são identificados como antecedentes a coronariopatias e outras doenças crônico-degenerativas.

    De acordo com Carroll & Dudfield (2004), homens com baixa condição cardiorrespiratória, expressa pelo consumo de oxigênio de pico (VO2pico) menor que 29 ml/kg/min têm entre 3 a 4 vezes mais chances de apresentar um quadro de síndrome metabólica que sujeitos com um VO2pico superior a 35,5 ml/kg.min.

    A melhora da condição cardiorrespiratória está relacionada a uma diminuição da freqüência cardíaca de repouso e menor influência simpática (menor concentração plasmática de adrenalina e noradrenalina), fatores que em conjunto podem contribuir para o controle da pressão arterial dentro dos níveis considerados normais. Além do que, a melhora da condição cardiorrespiratória, favorece uma maior utilização de gordura como fonte de energia para a ressíntese de ATP - substância geradora de energia para a musculatura esquelética e demais tecidos -, fato que contribui para a perda de peso e controle da dislipidemia.

    Outro componente da aptidão física relacionada à saúde que também apresentou diferença significativa entre os universitários praticantes e não-praticantes de atividade física foi o percentual de gordura, o que significa dizer que, ao comparar os grupos os praticantes, apresentaram uma menor quantidade de gordura no corpo, fato que os afasta das inúmeras implicações que representa uma maior quantia de gordura corporal em relação à saúde, principalmente as cardiovasculares.

    De uma forma geral, os estudos têm mostrado que o exercício físico realizado por sujeitos com sobrepeso ou obesidade, seguido ou não de perda de peso, está associado com reduções tanto na gordura visceral como na subcutânea. Em longo prazo, a prática regular de exercícios físicos combinado com uma ingesta baixa de gordura saturada têm sido capaz de reduzir substancialmente a adiposidade abdominal de adultos com sobrepeso (Liao et al., 2002).

    Em um importante estudo realizado com 621 caucasianos e afro-americanos sedentários, recrutados para o “HERITAGE – family study (Katzmarzyk et al., 2003), a prevalência da síndrome metabólica, definida de acordo com os critérios estabelecidos pelo NCEP ATP III, foi de 16,9%. Dos 105 participantes com síndrome metabólica, 30,5% (32 participantes) não foram mais classificados como tendo a síndrome metabólica após terem participado do treinamento com exercícios físicos. Entre esses 32 participantes, 43% diminuíram os níveis de triglicerídeos; 16% aumentaram os níveis de HDL – C; 38% tiveram diminuição da pressão arterial, 9% aumentaram a sensibilidade à insulina e 28% diminuíram a circunferência abdominal. (Katzmarzyk et al., 2003).

    Provavelmente, devido aos melhores índices nos níveis de VO2pico e no percentual de gordura corporal dos acadêmicos praticantes de atividade física os levou a um menor índice de risco para desenvolver coronariopatias. Este fato confirma-se ao se analisar os pontos obtidos no questionário de RISKO entre praticantes e não-praticantes de atividade física. O grupo de universitários praticantes apresentou valores significativamente mais baixos comparado com os valores apresentado pelo grupo de não-praticantes (TABELA 1). Os acadêmicos praticantes de atividade física somaram em média 12,30 pontos no questionário Risko, fato que os classificou como risco remoto de desenvolver coronariopatias, enquanto que o grupo de não-praticantes ao somar 20,03 pontos foram incluídos na categoria de risco médio de desenvolver coronariopatias (QUADRO 1). Tal diferença indica maiores possibilidades do desenvolvimento de coronariopatias entre o grupo que não tem no seu dia-a-dia o hábito da prática de atividade física.

4.     Conclusões

    A presente investigação permitiu concluir, que:

  • As variáveis flexibilidade e massa magra não apresentaram diferenças estatísticas consideráveis entre acadêmicos praticantes e não-praticantes de atividade física;

  • O consumo de oxigênio de pico (VO2pico) e o percentual de gordura apresentaram valores mais adequados à promoção da saúde nos universitários praticantes de atividade física quando comparados aos não-praticantes.

  • E por fim, com relação ao resultado do teste Risko, foi possível observar que os praticantes de atividade física somaram um menor número de pontos que os acadêmicos não-praticantes. Nesse sentido, parece razoável sugerir que o comportamento do consumo máximo de oxigênio e do percentual de gordura, juntamente com o estilo de vida ativo foram os responsáveis diretos pelo menor índice de risco de desenvolver coronariopatias observado nos acadêmicos que incluem no seu dia-a-dia a prática regular de exercícios físicos.

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revista digital · Año 14 · N° 138 | Buenos Aires, Noviembre de 2009  
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