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Indice de massa corporal como indicador 

de obesidade em crianças de 6 a 8 anos

Indice de masa corporal como indicador de obesidad en niños de 6 a 8 años

 

*Universidade Federal do Ceará - UFC

**Programa de Pós-Graduação em Educação Física - UNB

***Grupo de Pesquisa em Prevenção e

Tratamento da Obesidade em Adolescentes – CNPq

****Chefe do Departamento de Fundamentos da Educação – UFC

*****Programa de Pós Graduação em Atividade Física desempenho Motor

e Saúde da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

(Brasil)

Evanice Avelino de Souza** ***

Luiz Fernando Cuozzo Lemos** *****

Valter Cordeiro Barbosa Filho* ***

Cleilton Holanda Pereira* ***

Nicolino Trompieri Filho* *** ****

luizcanoagem@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi comparar a concordância entre dois indicadores de obesidade, IMC e percentual de gordura, em escolares de ambos os gêneros, alunos do ensino fundamental I do Colégio Militar do Corpo de Bombeiro da cidade de Fortaleza/CE. Para tanto, 82 meninas e 89 meninos foram submetidos a medidas antropométricas para subseqüente cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e percentual de gordura como indicadores de obesidade. As variáveis foram analisadas em relação aos critérios de referência apresentados por Williams et al., e CDC.Uma concordância moderada entre os dois indicadores de obesidade na classificação para meninos e meninas foi evidenciada (kappa=0,49 e 0,53, respectivamente). Verificou-se ainda que 47 crianças encontram-se obesas quando classificadas pelo IMC e 28 através das dobras cutâneas. Os resultados demonstraram que o IMC, quando comparado ao percentual de gordura, apresentou concordância moderada para classificar crianças de ambos os gêneros, de 6 a 8 anos, em relação à obesidade, acima e dentro do critério de referência para saúde.

          Unitermos: Obesidade. Crianças. Índice de massa corporal.

 

Abstract

          The aim of this study was to compare the concordance between two obesity indicators, BMI and percentage body fat for both genders, in school to students from elementary school 1 of the Military College of the Fire Department’s City of Fortaleza/CE. To do this, was used 82 girls and 89 boys, they were subjected to anthropometric measures for subsequent calculation of body mass index (BMI) and fat percentage like indicators of obesity. The variables were analyzed in relation with Williams et al., and CDC. The results showed a moderate agreement between the two indicators of obesity in the boys and girls (Kappa= 0,49 and 0,53, respectively). The BMI method classified 47 children in obese and to skin folds method, just 28 children. In conclusion, the results showed that BMI, compared to the percentage of fat, showed moderate agreement to classify children of both sexes, from 6 to 8 years in relation to obesity, above and within the criterion for health.

          Keywords: Obesity. Children. Body mass index

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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Introdução

    A composição corporal reflete questões importantes relacionadas ao desenvolvimento humano, como a herança genética, as condições sociais, ambientais e culturais advindas dos hábitos de vida de cada indivíduo. Por isto, sua avaliação é um procedimento muito importante em diversas áreas como no diagnóstico clínico e nutricional, no monitoramento do crescimento infantil e nas pesquisas de cunho epidemiológico (FRAINER, 2007).

    Políticas públicas de combate à obesidade têm focado ações que enfatizam a prevenção, e não o tratamento da doença. Neste contexto, métodos seguros e baratos de identificação da obesidade em idades precoces tornam-se pontos decisivos no sucesso ou fracasso destas políticas públicas (FERNANDES et al., 2007).

    Dois métodos antropométricos têm sido muito empregados na identificação da obesidade em populações jovens: o Índice de Massa Corporal (IMC) e a espessura da dobra cutânea (PINTO et al., 2007; QUADROS, et al., 2008). Tais métodos têm recebido boa aceitação por parte de estudiosos da área, por suas correlações consistentes com a gordura corporal total, pelo baixo custo da aplicação e fácil treinamento de pessoal, e por serem métodos de aplicação viável em grandes populações (CONDE & MONTEIRO, 2006), como é o caso da população escolar.

    Nestas perspectivas o presente estudo teve como objetivo verificar a concordância de dois métodos indiretos para classificação nutricional em crianças de 6 a 8 anos de idade.

Metodologia

Caracterização da amostra

    Foram analisadas 171 crianças de 6 a 8 anos de idade (89 do sexo masculino e 82 do feminino), do ensino fundamental I do colégio militar do corpo de bombeiros da cidade de Fortaleza - CE. Os alunos foram convidados voluntariamente a participar do estudo, sendo seus pais ou responsáveis devidamente informados sobre os métodos aos quais os indivíduos seriam submetidos, os que concordaram assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (no 138/2007) do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará.

Antropometria

    A massa corporal foi mensurada em uma balança digital, da marca Plenna, modelo Wind, com graduação de 100 g e capacidade de 150 kg. A estatura foi medida em fita métrica flexível com precisão de 1 cm, da marca Easyread e modelo Cateb. Todos os indivíduos foram submetidos as medidas descalços e com o mínimo de roupa possível. A partir dessas informações, o IMC foi obtido pelo quociente massa corporal (kg)/estatura(m)², classificando-o de acordo com a idade e o gênero nos critérios recomendados pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2000), considerando-se obesidade o percentil maior ou igual a 95%.

Composição corporal

    Para detectar o nível de gordura corporal utilizaram-se as recomendações de GUEDES (1999) a partir das medidas de dobras cutâneas do tríceps e subescapular. A medida da dobra cutânea do tríceps foi realizada na face posterior do braço, no ponto médio entre o processo acromial da escápula e o processo do olécrano da ulna. A dobra cutânea subescapular foi aferida dois centímetros abaixo do ângulo inferior da escápula, diagonalmente. Usou-se um adipômetro científico (compasso de dobras cutâneas) da marca Cescorf. Realizaram-se três medidas, extraindo-se a média das três séries obtidas para registro. Através das medidas de dobras cutâneas, realizou-se o cálculo da gordura corporal relativa através da equação de Lohman (1986) adaptada por Pires Neto & Petroski (1996):

G = 1,35(TR + SE) – 0, 012 (TR+ SE)2 - C

Sendo:

G = Gordura Corporal Relativa
C = Constante de ajuste por idade e sexo proposta pelos autores supramencionados

TR e SE = Dobras cutâneas do tríceps braquial e subescapular

    O critério de referência do percentual de gordura sugerido por Williams et al.,(1992), > 25% para os meninos e > 30% para as meninas, foi utilizado como ponto de corte para classificação de obesidade nos indivíduos do presente estudo.

Tratamento estatístico

    Inicialmente, foi utilizada a estatística descritiva para análise dos dados e posteriormente, o teste de Kappa para avaliar a concordância entre dobra cutânea e IMC, segundo o seguinte critério: concordância pobre (< = 0,20), regular ( 0,21 a 0,40), moderada ( 0,41 a 0,60), boa (0,61 a 0,80) e muito boa ( > 0,80). O nível de significância foi fixado em p<0,05. Os dados foram tratados por meio do programa SPSS versão 15.0.

Resultados e discussão

    Tem-se como uma das maneiras de mensuração da composição corporal, a antropometria, que consiste na expressão quantitativa da forma do corpo humano, avaliando sua dimensão e composição global, tem sido o método mais utilizado para avaliação nutricional na infância e adolescência, por ser uma técnica simples, de baixo custo, fácil execução e não invasiva (FRAINER, 2007). As características antropométricas gerais da amostra estão apresentadas na Tabela 1 de acordo com o gênero.

Tabela 1. Características gerais da amostra em média e desvio padrão

Variáveis

Meninos

Meninas

Total

 

Média

DP

Média

DP

Média

DP

Idade

7,1

0,91

7,2

0,93

7,2

0,92

Massa Corporal (kg)

27,9

5,46

28,3

6,68

28,1

6,06

Estatura (m)

1,25

0,07

1,24

0,07

1,24

0,07

IMC (Kg/m²)

17,6

2,39

18,1

2,99

17,9

2,70

%G

19,6

5,20

22,7

5,87

21,1

5,74

DCT (mm)

11,8

3,88

13,8

5,33

12,7

4,73

SE (mm)

8,34

3,76

10,0

4,98

9,16

4,46

SDC (mm)

20,1

6,74

23,9

8,44

21,9

7,80

CC (cm)

60,5

6,51

61,1

9,08

60,8

7,83

DCT = Dobra cutânea tricipital – SE = Subescapular; SDC = Somatório das dobras; CC = Circunferência da cintura

    Entre os critérios usados para avaliação do estado nutricional destaca-se o Índice de Massa Corporal (IMC). O IMC é uma variável que tem sido amplamente utilizada para determinação da obesidade por diagnosticar fatores de risco para a saúde na infância e na vida adulta, além de ser um indicador simples e prático pela facilidade de aferição das medidas de peso e estatura da população (FREEDMAN et al., 2005). Outra técnica não invasiva utilizada na avaliação da distribuição da gordura corporal localizada é a medida de dobras cutâneas (DC), sendo a tricipital e subescapular as mais utilizadas em pesquisas com crianças.

    Quando observada a concordância entre os dois critérios de classificação (IMC e DC) utilizados de acordo com cada gênero, o índice Kappa foi de 0,49 para os meninos e 0,53 para as meninas, apresentando concordância moderada para ambos os gêneros. Verificou-se ainda que 47 crianças encontram-se obesas quando classificadas pelo IMC e 28 através das dobras cutâneas. As diferenças nos valores do Índice Kappa mostraram que houve concordância moderada (índice entre 0,41 e 0,60) entre os dois métodos utilizados. A Tabela 2 apresenta os resultados cruzados de contingência 2x2 das crianças classificadas nas categorias obesos e não obesos.

Tabela 2. Tabela de contingência 2 x 2, freqüência absoluta de meninos e meninas classificados nas duas categorias ( obesos e não obesos)

 

Índice de Massa Corporal

 

Meninos

Dobras cutâneas

 

Não obeso

Obeso

Total

Não Obeso

63

12

75

Obeso

3

11

14

Total

66

23

89

Meninas

 

Não obeso

Obeso

Total

Não Obeso

56

12

68

Obeso

2

12

14

Total

58

24

82

    A literatura apresenta alguns estudos que utilizaram diferentes métodos de análise da composição corporal em crianças e adolescentes (GUEDES e RECHENCHOSKY, 2008; FERNANDES et al., 2007; GUEDES et al., 2006), sendo o IMC considerado por alguns autores como um bom indicador de obesidade (QUADROS et al., 2008; SRINIVASAN et al., 2001).

    Dentre esses, pode-se destacar o estudo longitudinal realizado na cidade de Bogalusa por Srinivasan et al, (2001), onde foi analisada a taxa de modificação da adiposidade (através do IMC) e sua relação com mudanças de alguns indicadores de risco cardiovascular. Os autores avaliaram 3.459 crianças pelo período de 14 anos, verificando ao final do estudo relação existente entre as já citadas variáveis. Com isso, é possível perceber a eficácia da utilização do IMC quando utilizado para comparar pré e pós teste, mesmo que alguns estudos mostrem-se em oposição ao IMC (SRINIVASAN et al., 2001).

    Por outro lado, medidas de espessura de dobras cutâneas também é um método bastante utilizado como procedimento direcionado a avaliação corporal em crianças. Ferreira et al. (2008) analisaram o índice Kappa entre os mesmos métodos utilizados no presente estudo, porém o grupo de estudo analisado foi composto de 1550 crianças de ambos os gêneros e idades entre 7 e 11 anos. Os resultados encontrados no estudo supracitado foram diferentes do presente estudo, onde se encontraram maiores prevalências de obesidade quando as crianças foram avaliadas pelas DC.

    As variações na literatura se devem a diversos fatores como, por exemplo, a experiência do avaliador, a calibração de instrumentos e a própria diferença da composição corpórea dos indivíduos dos distintos estudos (FRAINER, 2007). Portanto, outros estudos que encontraram valores do Índice de concordância inferiores a 0,80, assim como o presente estudo e o de Glanner (2005) devem ter cautela na utilização de ambos os índices como indicadores do estado nutricional.

Conclusão

    Com os resultados do presente estudo conclui-se que os indicadores de adiposidade corporal IMC e DC apresentaram concordância moderada entre si. Mesmo reconhecendo as limitações e criticas sobre o uso do IMC, o critério de classificação do IMC apresentou maior prevalência de obesidade na amostra estudada, mostrando ser mais suscetível à classificação obesidade do que a DC.

    Sendo assim, vale ressaltar a importância do uso de indicadores antropométricos (IMC e DC) já que ambos apresentam como característica básica a facilidade de coleta dos dados e simplicidade na interpretação de seus resultados, o que pode contribuir para que a própria população auxilie no controle dos índices de obesidade.

Referências

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