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Influência do Vale-Tudo nos atletas atuais de MMA

La influencia del Vale-Todo en los actuales luchadores de MMA

Influence of Vale-Tudo in current athletes from MMA

 

Grupo CNPq: Pesquisas Interdisciplinares

em Sociologia do Esporte

(Brasil)

Vitor Barbosa Rozendo Lima

Nicolas Levi Fraga

Vitor Nobre de Carvalho

Marco Antonio Bettine de Almeida

marcobettine@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo analisar se existem influências do Vale-Tudo nos atletas atuais de MMA, através de uma pesquisa de campo, foram analisadas seis entrevistas com atletas de São Paulo da academia de luta Power Lotus Team. Para entender o objetivo, o artigo descreve fatores importantes para o crescimento do Vale-Tudo até o ponto que ele começa a ser conhecido e chamado de MMA. Observou-se que há influências deixadas pelo Vale-Tudo nos lutadores analisados de MMA até hoje, como os ídolos, os estilos dos eventos as variações de lutas e a rivalidade dos atletas.

          Unitermos: Influências. Vale-Tudo. MMA.

 

Abstract

          This study aimed to analyze whether there are influences of Vale-Tudo in current athletes from MMA, through a field survey were analyzed six interviews with athletes from São Paulo Academy fight Power Team Lotus. To understand the purpose, the article outlines important factors for the growth of MMA to the point that it begins to be known and called MMA. It was noted that there are influences left by Vale-Tudo fighters in MMA analyzed to date, as idols, events of styles the variations of struggle and rivalry of athletes.

          Keywords: Influences. Vale-Tudo. MMA.

 

Recepção: 04/08/2015 - Aceitação: 22/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos tempos atuais, cada vez mais os esportes envolvendo artes marciais estão presentes na sociedade, sendo divulgados, comentados e levando gigantescas quantidades de pessoas ao contato com essas artes, seja pela espetacularização da mídia ou em contato real no cotidiano pessoal. O objetivo deste estudo é analisar si existem influências em atletas atuais de MMA da academia de luta Power Lotus Team causadas pelo Vale-Tudo, seja para o atleta iniciar na modalidade, ou pra continuar. E se existem essas influências, quais seriam elas. Porém antes de darmos continuidade ao presente trabalho, temos que ter alguns conceitos muito bem definidos, possibilitando deste modo uma melhor compreensão das áreas envolvidas.

    A origem dos eventos modernos data dos anos 20, com os campeonatos de Vale-Tudo promovidos pela família Gracie no Brasil, e posteriormente com os eventos promovidos por Antonio Ioki nos anos 70, no Japão. A idéia de misturar várias técnicas de combate em um único torneio ganhou popularidade no final dos anos 60 e início dos 70, com o aparecimento de Bruce Lee, cujas técnicas misturavam vários estilos de artes marciais. O esporte ganhou fama internacional nos Estados Unidos, em 1993, quando o lutador brasileiro de Jiu Jítsu Royce Gracie conquistou o Ultimate Fighting Championship, causando uma verdadeira revolução nas artes marciais. (Alves e Mariano, 2008).

    Dentre essas áreas podemos citar Jiu-Jítsu (Gracie Jiu Jitsu Academy, 2015), UFC, MMA, Pride, Vale Tudo, Família Gracie (Idem) e desenvolvimento e ligação de todos esses pontos. A origem ou o ponto inicial que correlacionam todos esses temas é a família Gracie, e o papel essencial da família Gracie na História da luta vêm de muito antes, e esta diretamente relacionada ao Jiu- Jitsu. No desenvolvimento da Humanidade a presença de guerras e confrontos sempre foi muito grande e com isso a necessidade de criação e desenvolvimento de armas e maneiras de defesa e ataque sempre ocorreu, surgindo e acontecendo simultaneamente em diversas localidades do globo. A origem exata do Jiu-Jítsu é desconhecida, porém existem países em que formas de artes marciais próximas ao Jiu-Jítsu se destacaram, sendo a principal localização de origem o Japão. No Japão o desenvolvimento de artes marciais está diretamente associado com a história do país, levando o desenvolvimento e aprimoramento de diversas artes, o contato da arte marcial com o Brasil se deve a relação entre Esai Maeda, também conhecido com Conde Koma e Gastão Gracie.

    Em 1914, conde Koma veio ao Brasil com a grande imigração japonesa e conheceu Gastão que era um empresário e ajudou Maeda a se estabelecer, com isso ele fez uma promessa ao Gastão Gracie que ensinaria seu filho mais velho, Carlos Gracie, o Jiu-Jítsu japonês tradicional, com isso Carlos Gracie aprendeu durante alguns anos e passou esse conhecimento aos seus irmãos. Porém o irmão que mais se destacou no Jiu-Jítsu foi Hélio Grace. Hélio Gracie era o mais novo de seus 8 irmãos e possui a saúde mais debilitada e frágil, por isso por recomendação médica ele não poderia praticar a arte ensinada por ser irmão, pois esta possuía muitos movimentos bruscos e que necessitava usar uma grande quantidade de força. Quando foi morar com seus irmãos mais velhos no Rio de Janeiro ele observava todas as aulas que seus irmãos davam em sua academia e em um dia em que Carlos Gracie atrasou ele deu o treino a um aluno que estava lá, com isso quando Carlos Gracie chegou se desculpando ao aluno disse que gostaria de a partir daquele dia gostaria de ter as aulas com Hélio Gracie, e assim Hélio Gracie entrou para o quadro de professores.

    Porém ainda com suas Limitações Hélio Gracie adaptou o Jiu-Jítsu ensinado por seu irmão para uma arte em que se usavam principalmente alavancas e a escolha dos movimentos certos em que a agilidade e força poderiam ser utilizadas contra seus oponentes, assim desenvolvendo uma forma de luta nova, que viria ser conhecida como o Jiu-Jítsu Brasileiro (BJJ).

    Para demonstrar a eficácia de seus métodos, Hélio Gracie desafiou todos os principais representantes de cada arte marcial praticada no Brasil, vencendo todos. Também lutadores de fora do País, uma luta essencial para o crescimento do Jiu-Jítsu foi contra Masahiko Kimura, que era 35 quilos mais pesado que Hélio Gracie e campeão mundial, mesmo com a derrota Hélio Gracie foi convidado para dar aulas e ensinar essa arte ao Japão.

    Simultaneamente a isso, Carlos Gracie que treinava com o seu irmão e conseguia lutar ambos os tipos de Jiu-Jítsu continuavam desafiando e incentivando lutas aonde diferentes tipos de artes marciais se enfrentavam, essas lutas que esse processo gerou eram conhecidas como Vale-Tudo, em que para participar você tinha que saber pelo menos um modalidade e foi quando essa miscigenação foi enriquecendo a arte marcial do Brasil. Sendo umas das características principais do Vale-Tudo o confronto de modalidade contra modalidade, de arte marcial contra arte marcial, sendo uma das características mais relevantes disso tudo. O Vale-Tudo foi um grande sucesso justamente por sua variedade, porém esse mesmo motivo o levou ao seu declínio e sendo substituído pela Mistal Marcial Arts (MMA), como afirmam Alvarez e Marques (2011) o termo MMA surgiu no inicio dos anos 2000 substituindo o antigo Vale-Tudo que, outrora, era promovido, desde os anos 1920, em terras Brasileiras pela Família Gracie. Sendo uma das principais diferenças entre o MMA e o Vale-Tudo foi quando a rivalidade do atleta e o processo de influencia da mídia em cima do esporte começou a crescer, levando principalmente os confrontos de imagem de um atleta contra o outro.

    Com o crescimento da influencia da mídia e o sucesso que a modalidade fazia, começaram a surgir outras competições envolvendo diversas artes, uma delas e a que nos dias de hoje é o maior evento de luta do mundo é o Ultimate Fighting Championship (UFC), o UFC foi criado por Art Davie e Rorion Gracie, Rorion Gracie é o filho mais velho de Hélio Gracie. Ministrando aulas de BJJ nos Estados Unidos, Rorion Gracie recebeu uma sugestão de um aluno de criar um evento de desafios de artes marciais, junto com Davie, Rorion Gracie criou o UFC que inicialmente era um evento muito violento, não possuindo quase nenhuma regra, motivo que mesmo com o gigantesco sucesso obtido ele foi proibido em 36 estados norte americanos, com essa barreira, os eventos continuaram acontecer, porém, em uma escala de lucros e audiência menor, foi quando aconteceu um trabalho em conjunto com as delegações dos estados, colocando assim regras, que definiam o que era e não era permitido. Com essas modificações, golpes em regiões baixas, puxões de cabelo, dedos nos olhos ou no rosto não era mais permitido, transformando assim o UFC em algo menos violento, e com isso a permissão novamente de exibição nos estados voltou, fazendo assim o evento crescer cada vez mais, não só nos Estados Unidos, mas como em vários outros países do mundo.

    Outro Gracie muito importante na História da luta e especificamente na história do UFC foi o Royce Gracie, irmão mais novo de Rorion. Gracie, Royce Gracie foi lutador nos primeiros eventos de UFC representando a família Gracie e o BJJ, além do peso do nome, Royce Gracie possuía muito talento e habilidade também, era conhecido por suas finalizações e ganhou 3 das 4 primeiras edições do UFC. Com todo o sucesso, não só de Royce Gracie, mas de que todo o evento e a marca estavam fazendo é natural que surjam outras competições do mesmo ramo, um exemplo disso foi o PRIDE Figthing Championships.

    O PRIDE Figthing Championships, PRIDE FC ou PRIDE foram um evento internacional criado pela Dream Stage Entertainment, e tendo Nobuyuki Sakakibara como presidente e Nobuhiko Takada com diretor Técnico, o PRIDE era um evento de MMA, principalmente realizado no Japão, desde o seu inicio fazendo muito sucesso. O PRIDE teve um evento fora do Japão, que foi no dia 21 de outubro de 2006, contanto com os melhores lutadores de diversas artes e de diversos lugares do mundo, inclusive com vários brasileiros. O Pride foi comprado pelo UFC e a maior parte de seus lutadores foram incluídos na cartilha do UFC. Em 2000 os fundadores do Pride fundaram o Dream, evento de MMA que é considerado o renascimento ou sucessor do PRIDE.

Do Vale-Tudo ao MMA

    O Vale-Tudo começou na terceira década do século XX, quando Carlos Gracie, um dos fundadores da arte marcial brasileira Jiu-Jítsu, começou a convidar um competidor de cada modalidade distinta de luta para participar do mesmo evento. Isso era chamado de "Desafio dos Gracies". Mais tarde, Hélio Gracie e a família Gracie e, principalmente, Rickson Gracie mantiveram este desafio que passou a ocorrer como duelos de vale-tudo sem a presença da mídia. O Vale-Tudo é uma modalidade de combate sem armas, que os lutadores utilizam apenas os seus corpos para ferir o adversário e possui com isso, poucas regras, uma modalidade bastante ampla em termos técnico-táctico.

    O MMA, modalidade proveniente do vale tudo, segundo Mayeda e Ching (2008, p. 9) é “um estilo de combate entre dois oponentes no qual várias modalidades de lutas são usadas de maneira altamente estratégica”.

    A transição do Vale-Tudo para o MMA se deu a partir da importância da modalidade na mídia, onde foram criadas diversas regras para adaptar a modalidade à sociedade tornando o esporte “menos violento”. Com essa transição, diversos atletas migraram do Vale-Tudo para o MMA.1

    Nas primeiras edições do UFC, quase não havia regras, tampouco divisão dos lutadores por peso, o que botava em risco a segurança dos atletas e marginalizava o esporte. (Miranda, 2011). Anderson Silva comentou muito sobre esta questão em suas redes sociais, ele foi um dos únicos atletas que enfrentava outros atletas muito mais pesados que ele na época do PRIDE, por exemplo, e hoje em dia no UFC ele ainda está na mesma categoria de peso. Tal fato que não aconteceu com Vitor Belfort, que já conquistou títulos em diferentes categorias. Segue o relato de Anderson Silva: "[...] Não sou trapaceiro e nunca tive corpo de bombado na dúvida é só olhar minhas lutas no Japão, quando eu lutava de 80 kg no Pride pois não existia a categoria de 84 kg e eu lutava com os caras que baixavam de 100 kg pra 94 kg então para os entendidos aqui, vão buscar fatos reais.[...]"

Método de pesquisa

    Foi entregue um questionário a 6 atletas profissionais de MMA, sendo 4 do sexo masculino e 2 do sexo feminino. Os atletas estão em uma faixa etária de 24 a 30 anos. Os atletas são de uma academia de luta a Power Lotus Team, nessa academia só existem matrículas para modalidades de lutas, tais como Jiu Jitsu, Muay Thai, Boxe e MMA. A Power Lotus Team foi fundada nos anos 2000 (há 10 anos). Em 2015 a Power Lotus Team inaugurou uma outra academia em Portugal. A Power Lotus Team é uma academia filiada a equipe Lotus Club que tem sua sede em Santana, São Paulo, SP, Brasil. Porém tem filiais em outros países. Todas as academias que tem Lotus em seu nome, são filiadas à Lotus Club. Por isso a Power Lotus Team carrega o nome Lotus, em seu nome. Tanto a Lotus Club como a Power Lotus Team tem grandes resultados no Jiu Jitsu e no MMA. A Power Lotus Team tem campeões de Jiu Jitsu, mundiais dos mais importantes campeonatos realizados no Brasil e Estados Unidos. No MMA também tem grandes resultados, esses atletas entrevistados já lutaram grandes eventos, tais como: Jungle Fight (maior evento de MMA da América Latina), Xtreme Fighting Championships, Max Sport, Warriors of God, Brazilian Fighting Championship, Thunder Fight, Aspera Fighting Championship, Talent MMA Circuit, MMA Super Heroes, Pink Fight (evento que conta apenas com lutas femininas).

    Foi utilizado para ser entregue o questionário e obtenção das respostas um aplicativo de mídia social.

Resultados e discussão

Respostas dos atletas

Atleta 1: "Comecei na capoeira, na minha adolescência conheci o jiu jitsu através de um amigo.

    Praticante das artes marciais vai fazer 10 anos

    A popularização do esporte principalmente no Brasil onde sempre foi mal visto.

    No MMA entrei há 5 anos, entrei porque sempre goste de lutas e na academia tinha vários caras que era exemplo (Caio Izidro o Jacaré, Rudney, Vitao, Rodrigo Cerol e o Gordão que infelizmente não está mas entre nois.

    Na verdade o vale tudo aqui citado hoje e antigamente visto como arte marginalizada devido a alguns que faziam mal uso das artes, mas sempre me motivou a parte técnica como uma pessoa de leve venceria um oponente pesado usando apenas a técnica.

    Sempre me atraiu o fato de você poder lutar e colocar em prática aquilo que se aprendeu, ou seja, muita treino técnico, superação, sim luto na atualidade e amo o que faço."

Atleta 2: "Pergunta 1: A primeira arte marcial que eu comecei a praticar foi o Judô, eu tinha por volta de aproximadamente 7 pra 8 anos.

    Pergunta 2: Tirando essa passagem que eu tive pelo Judô foi mais ou menos, de uns 3 anos, só que teve algumas interrupções, idas e voltas e no Jiu Jitsu e no MMA. Eu tô atualmente á 7 anos e meio já praticando, comecei em 2009 e tô até agora.

    Fatores importantes que mudaram nas artes marciais, primeiro foi a descriminalização dela. Antes era visto como briga como algo que não trazia benefício nenhum. E hoje em dia ela é muito usada as artes marciais até aspectos da saúde, que vai trabalhar o seu sistema cardiovascular e vai ta trazendo melhoras a sua saúde, já que a luta tem grandes gastos energéticos e elevam bastante sua freqüência cardíaca, com exercícios aeróbios e anaeróbios.

    Sempre acompanhei as artes marciais mistas, sempre tive muito interesse de praticar lutar depois foi com o tempo. Por volta de quando eu tinha 18 anos eu assistindo um evento, falei "caramba, isso ai é o que eu quero fazer da minha vida, quero ta lutando". E comecei a treinar daí então 2 após eu começar a treinar, fiz minha primeira luta de MMA, sai com a vitória e foi bem legal

    Pergunta 5: O vale tudo com certeza motivou bastante as gerações de agora que estão vindo de MMA. Por quê? Porque a gente cresceu assistindo isso dai, a gente cresceu assistindo o vale tudo, os ídolos que a gente idolatrava até algum tempo atrás, alguns que não estão mais seguindo carreira já se aposentaram, eles iniciaram com o vale tudo, isso dai acabou não tendo mais espaço pro vale tudo no MMA atual porque o que difere o vale tudo do MMA são as regras né. E no vale tudo tinha umas regras mais brandas ou até quase nenhum tipo de regra, mas como todo esporte esses foram os pioneiros que fizeram e as mudanças aconteceram para o bem dos atletas, e para o bem dos eventos. Porque sem nenhuma regra ia ser difícil um evento de MMA tá passando na televisão ou algo do tipo, não ia pegar bem."

    Pergunta 6: O que chamava bastante atenção no vale tudo, era que cada atleta defendia uma determinada modalidade, isso dai era até interessante pro público porque tinha um atleta que era boxeador o outro era do Muay Thai, então era tido uma luta Muay Thai contra Boxe. Isso dai era bem interessante, ou vice versa, uma luta agarrada contra uma luta de Strike (trocação), isso dai chamava bastante atenção até mesmo do público que assistia os eventos, ou através das mídias da época que tinha, era bem interessante esse aspecto que era modalidade contra modalidade e a rivalidade nesse tempo era muito grande por causa disso, que todos defendiam a bandeira não só do atleta e da academia que também era muito forte, mas também defendia a modalidade. Isso ainda se encontra no MMA atual só que bem menos acentuado do que foi, porque os atletas hoje em dia não tem aquele preconceito "você é do Muay Thai e eu do Jiu Jitsu então somos rivais", não, um complementa o outro, e os atletas atuais treinam todas as modalidades são verdadeiros atletas hoje em dia, eles treinam todas as modalidades pra tá se aperfeiçoando em todas elas, claro que alguns tem seu carro chefe, mas todos buscam tá treinando todas as modalidades."

Atleta 3: "Então, eu comecei no Muay Thai a mais ou menos uns 7 anos atrás, eu tenho 24 anos. Então no Muay Thai a evolução foi o K1, o WGP e alguns eventos maiores que chegou ai, tem o Glory também que é um evento de Kickboxing que praticamente um Muay Thai também. E o nosso foco que é atleta é o UFC, que é um dos maiores eventos e isso motiva a gente a sonhar alto, a querer ser um grande campeão no MMA, que no caso eu migrei pro MMA, e sou um atleta de MMA e é isso ai.

    Então, foi em 2012 eu conheci a Power Lotus, ai como eu comecei a treinar Jiu Jitsu eu fiquei motivado a querer lutar o MMA, porque eu não sabia nada de Jiu Jitsu eu sabia mais o Muay Thai, ai eu quis fundir as artes, ai eu me arrisquei no MMA e consegui triunfos que até hoje eu venho lutando e tô bem no MMA graças a Deus.

    Então, eu comecei a gostar do MMA por causa de muitos atletas de alto nível que tinham na época que eu comecei, que ainda tem, que é atual agora ainda o José Aldo por exemplo, o Anderson Silva na época que era e é, foi o melhor do mundo no MMA, e eles me motivaram a lutar até hoje e tal, e é isso cara. O que chamava atenção era a trocação, colocar pra baixo trocar porrada, finalização que era um show, e o que todo mundo, que todo atleta procura no esporte que é ser bem sucedido financeiramente pra ajudar os familiares."

Atleta 4: "Comecei no muay thai há sete anos. Entrei na arte marcial para melhorar meu desempenho em outro esporte que competia, o agility.

Luto MMA há um ano e meio. O que me motivou a entrar nesses eventos foi o crescimento do esporte, enquanto no muay thai eu me limitava a eventos pequenos por falta de estrutura no Brasil, o MMA não parava de crescer e oferecia muito mais oportunidades que outros eventos, maior marketing, maior valorização do atleta, eventos televisionados, melhores estruturas.Como lutadora o que mais me chamou atenção foi a valorização da mulher na luta, e sem duvidas a entrada de lutadoras no UFC, maior evento do planeta que não contava com lutas femininas."

Atleta 5: "A primeira arte marcial que eu comecei a praticar foi o jiu jitsu. Comecei em 17 de maio de 2010 . Treino há cinco anos.

    Comecei a treinar porque eu era uma pessoa muito nervosa e estressada e precisava de algo para canalizar o meu nervosismo. Então o jiu jitsu me ensinou a ter disciplina. Respeito força de vontade e usar toda a minha energia para uma coisa boa.

    A equipe da qual eu faço parte a Power Lotus Team e uma equipe só de arte marcial. Comecei a treinar jiu jitsu em maio e em agosto do mesmo ano em 2010 o meu mestre e líder da equipe Rodrigo Sama, me convidou para fazer uma luta de MMA que tinha sido oferecida a ele. Eu recusei na mesma hora por não ter nenhuma experiência com o mundo do MMA. Falei que ele era louco e que não tinha chance. Mais ele insistiu que eu conseguiria e me encorajou dizendo em todo tempo que eu conseguiria. Então eu aceitei. Treinei duas semanas pra luta. Lutei e ganhei finalizando a luta em 45 segundos do primeiro round. Desde então não parei, meus treinos agora evoluíram para um treino de lutador profissional treinando de 6 a 8 horas por dia. Jiu jitsu. Boxe. Muay thai e submission.

    Quando eu comecei a praticar o MMA não tinha tanto foco de mulher lutando. Era um esporte bem masculinizado. Hoje em dia com os eventos como invicta foi a um evento de MMA totalmente feminino. Tem o UFC hoje com categorias femininas isso abriu muito as oportunidade para as mulheres e uma grande evolução pra o MMA feminino."

Atleta 6: "1- Jiu Jitsu / Kickboxing

2 - 7 anos

3 - A profissionalização do esporte, passou de uma "modalidade" a um esporte mais profissional.

4 - 03/2011. Foquei em lutar por um ano pra saber como era competir profissionalmente, depois me apaixonei e adotei como profissão e estilo de vida

5 - Sim. Sim, a mistura das Artes em si. Poder provar que meu Jiu Jitsu é melhor ou que meu Muay Thai é melhor ou por em prática a estratégia que a equipe monta, isso ainda me atrai muito no MMA, ver a evolução do esporte.

6 - Na verdade o jiu jitsu me influenciou a começar no MMA, pois eu queria provar que conseguiria finalizar qualquer adversário, assim como Royce Gracie fez no 1° UFC, pois eu sempre achei o Jiu Jitsu a arte marcial mais eficaz. Só que no MMA o atleta precisa ser completo em todas as áreas, isso me levou a treinar 3 até 4 artes marciais diferentes de uma só vez."

    Com o resultado das pesquisas, dividimos as respostas, algumas bem semelhantes, em categorias, para melhor argumentarmos. Algumas questões condiziam com aspectos motivacionais, e Segundo Nunes. (2011) genericamente a motivação ou o motivo, é aquilo que move uma pessoa ou que a põe em ação ou a faz mudar o curso.

    A diversidade de interesses percebida entre os indivíduos permite aceitar, de forma razoavelmente clara, a crença segundo a qual as pessoas não fazem as mesmas coisas pelas mesmas razões. É dentro dessa diversidade que se encontra a mais importante fonte de compreensão a respeito de um fenômeno que apresenta aspectos aparentemente paradoxais: a motivação humana. (Bergamini, 1990).

    A primeira questão dizia respeito a primeira arte marcial praticada pelo atleta, sem se aprofundar o porquê ele procurou e/ou começou a iniciar aqueles treinamentos.

    As respostas como visto anteriormente foi o Jiu-Jítsu, Judô, Muay Thai, Kickboxing e Capoeira

    Alguns atletas relataram ter alguma experiência com artes marciais (Capoeira e Judô) na infância ou na adolescência, porém não continuaram na modalidade, ou praticaram muito pouco. Voltando a treinar uma modalidade diferente na fase de adolescência e adulta.

    O único atleta que relatou ter contato desde a infância com a arte foi o atleta que iniciou os treinamentos no Judô, dizendo ter participado de competições na modalidade e obtendo graduações na modalidade. Porém na infância ainda parou com a modalidade e depois na fase adulta iniciou os treinamentos de Jiu-Jítsu.

    O atleta que relatou o início na Capoeira durante a adolescência, não deu continuidade aos treinamentos e também na fase adulta iniciou os treinamentos de Jiu-Jítsu também.

    Os outros atletas já iniciaram os treinamentos na fase adulta.

    Na segunda questão pode-se observar que os atletas tinham uma relação muito próximas de tempo de prática. Sendo o atleta com menos experiência com 5 anos de prática, e o mais experiente praticante à 10 anos. E também a estréia no MMA. Atleta 1 - 10 anos de prática, estréia no MMA em 2010; Atleta 2 - 6 anos e meio de prática, estréia no MMA em 2012; Atleta 3- 7 anos de prática, estréia no MMA em 2012; Atleta 4- 7 anos de prática, estréia no MMA em 2013; Atleta 5 - 5 anos de prática, estréia no MMA em 2010; Atleta 6 - 7 anos de prática, estréia no MMA em 2011.

    O atleta 1 embora seja o mais experiente é o mais velho cronologicamente também entre os outros atletas. Embora isso não venha ao caso, pois a atleta 5 não é a atleta mais nova cronologicamente.

    Na questão três alguns atletas observaram fatores semelhantes, e outros fatores que por conta de alguns eventos citados por outros atletas marcaram o esporte.

    Elias (1978) sistematiza novas formas de interação para provar sua teoria sobre teias sociais abrangentes e no controle de conduta. O autor discute relações sociais, hábitos, costumes, modos de ver, de ser visto, de vestir, de utilizar o tempo, especialmente o processo civilizatório nos esportes. Houve um crescimento geral em códigos desportivos na mesma direção que o processo civilizatório.

    Separamos uma categoria denominada como Processo Civilizador no esporte que se refere aos relatos dos atletas sobre as regras que foram sendo implementadas no esporte, assim deixando o esporte mais aceitável ao público, e prezando a integridade do atleta.

    Popularização e Espetacularização do esporte foi algo de fato muito importante para o MMA, como podemos ver até mesmo em outros estudos, pois junto ao processo de tornar o esporte menos violento, com mais regras, buscando preservar mais a saúde dos atletas. O MMA foi se tornando aceitável para a mídia.

    Com uma crescente preocupação com a integridade física dos atletas da modalidade, tornando mais raros danos físicos graves e com o estabelecimento de tempo determinado para as lutas, a prática tornou-se viável para transmissões televisivas, fato este que contribuiu sobremaneira para a popularização e espetacularização do agora MMA. (Capraro; Lise e Santos, 2014)

    Com isso também o esporte foi quebrando estereótipos que carregava. Por exemplo: os lutadores eram vistos como extremamente violentos, brutos, e indisciplinados. Fora que era comum alguns lutadores serem chamados de "pit boys", por brigarem em casas noturnas, bares, ruas e etc. E a mídia tinha um papel importante sobre isso, pois os jornais, revistas e a televisão, alimentavam esse tipo de fama para os lutadores. Algo que veio desaparecendo conforme o esporte, cada vez mais, ganhava e vem ganhando seu espaço na mídia.

    Com o apoio da mídia, pessoas não atletas passaram a ver uma forma de profissão dentro do esporte, lutando eventos grandes, que pagam bem para seus atletas. E isso podemos notar com nossas entrevistas, porém não podemos concluir que isso seja algo que diz respeito a uma grande população, pois entrevistamos 6 atletas.

    A popularização e espetacularização do esporte, e a quebra de estereótipos. Pois estes dois fatores estão muito relacionados, pois se o esporte ainda fosse considerado como de extrema violência, e os lutadores considerados como brigadores de rua não aconteceria a popularização da modalidade, ganhando espaço na mídia e etc.

    Para Rufino e Darido (2010)

    Sobretudo para os que não conhecem a modalidade, a mídia é uma poderosa ferramenta de fomento à informação, o que pode ser uma ótima forma de popularizá-la, fazendo com que as pessoas passem a ter interesse por este determinado esporte e até mesmo comecem a praticá-lo, mas também pode gerar uma visão errônea e limitada do que é esta modalidade e até mesmo causar repúdio e preconceito das pessoas em relação a ela.

    Com o ganho de espaço na mídia, falando de uma forma positiva, pois assim como os autores acima descreveram, a mídia pode exercer um papel positivo ou negativo para o esporte, as artes marciais e o MMA foi ganhando cada vez mais o mundo feminino também. Hoje muitas mulheres buscam as academias de artes marciais para a prática de atividade física, seja para melhorar a estética, ter uma vida mais saudável, entre outros fatores. Não só mulheres, como também pessoas do sexo masculino. E isso foi citado por um atleta, que seria no caso a busca do esporte como forma de manter uma vida saudável, onde pessoas buscam o esporte não com a finalidade de ser atleta, mas para quebrar o sedentarismo ou manter o nível de atividade física em dia, pois é sabido que a atividade física influência muito para uma pessoa ter uma vida saudável.

    A diminuição do uso da violência pode ser observada na sistematização de regrar que preservam o indivíduo e a preocupação com a plasticidade na prática esportiva. (Almeida e Gutierrez, 2005)

    Um dos atletas comentou sobre o processo civilizador dentro das artes marciais, porém mais marcante no MMA, visando este evento como algo benéfico para o esporte, e a integridade dos lutadores. Assim também, atraindo mais público, tornando o esporte menos violento, e com uma exigência de uma melhor performance entre os atletas.

    Nessa questão já podemos observas aspectos motivacionais para os atletas. 50% dos atletas se inspiraram em grandes lutadores para entrar no mundo do MMA, relatando melhor isso nas próximas questões. Outros dois atletas relataram não só como ídolos, mas também como eram fascinantes os eventos que eles acompanhavam pela televisão. E como esse evento tem um peso na sociedade, por exemplo os eventos do UFC, que hoje ganha cada vez mais espaço na mídia, sendo transmitido ao vivo algumas vezes na Rede Globo de televisão.

    Um atleta que treinava e competia em artes marciais diferentes, se auto-desafiou e se aventurou na modalidade das artes marciais mistas, outro atleta teve um começo bem semelhante, porém entrou no MMA por uma busca da excitação, para Almeida e Gutierrez (2005)¹, A busca da excitação é uma forma de procurar alívio da repressão social. Pela catarse que iria lhe preencher nos momentos das lutas. Segundo Almeida e Gutierrez (2005)² O termo "catarse" foi definido por Elias como um elemento curativo, de limpeza do corpo: a catarse é o acalmar-se pela emoção. [...] A sensação de prazer e de alívio é promovida pela catarse.

    E outros dois atletas já entraram visando seguir no esporte, desde o começo, pensando em profissão. Pois o MMA é um dos esportes que mais cresce no mundo.

    A questão 5 e 6 eram parecidas, e tiveram resultados semelhantes, sendo que uma buscava saber as influências do Vale-Tudo antes do início no MMA. E a outra, outros fatores que influência após o início no MMA.

    Muitas lutas não havia categoria de peso, por exemplo: lutadores de 60 kg podiam enfrentar outros lutadores de 100 kg. E isso motivou alguns atletas, pois assistiram à lutadores menores vencendo lutadores muito mais pesados. Esses atletas eram grandes ídolos para alguns lutadores, porém um atleta ressaltou a presença de ídolos como fator motivacional, mas como um lutador que a cada vez mais vinha a tornar o Vale Tudo cada vez mais esportivizado, procurando outras artes marciais para vencer seus oponentes. Pois é sabido que o Vale Tudo começou com o propósito dos lutadores mostrarem qual seria a arte marcial mais eficaz. E um lutador ressalta esse ideal, supondo que pensa nisso para vencer os seus oponentes, mostrar que seu ponto forte supera o ponto fraco do oponente.

    50% dos atletas não souberam responder essa questão, então foi classificados suas respostas como não influência do Vale Tudo. Porém todos atletas responderam a pergunta 6, uma questão que busca saber quais influências tem o Vale-Tudo após o início das práticas de MMA pelos atletas entrevistados.

    A rivalidade entre as modalidades foi o que fez o Vale-Tudo crescer, e ter seu inicio também. e isso para os lutadores ainda se encontra presente para alguns atletas, e observando uma das respostas anteriores um dos atletas entrevistados relata que pensa nessa rivalidade para algumas lutas. E o Vale-Tudo trouxe também uma rivalidade entre academias, que foram bem divulgadas na mídia também, em canais e programas que falavam desta modalidade. Com a rivalidade entre bandeiras, obviamente trouxe à rivalidade entre os atletas, podemos observar o caso dos lutadores Wanderlei Silva e Rampage Jackson, que foram lutadores rivais que se enfrentaram em combates pelo Vale-Tudo no evento Pride, e depois em lutas de MMA, nos eventos do UFC.

    Ídolos ainda estão presentes em diversas respostas e nessa questão também, ressaltando que metade dos atletas não responderam a questão anterior, então alguns desses atletas respondem ídolos nessa questão.

    O MMA feminino foi um fator importante para as atletas mulheres entrevistadas, pois as duas relataram essa importância, que foi o crescimento de lutas femininas, assim se relacionando com outros fatores de outras respostas das questões anteriores, como a quebra de preconceito.

Considerações finais

    Os seis atletas analisados iniciaram no MMA por diversos fatores, tanto por auto superação, quanto por profissão. E de fato constatou-se que o Vale-Tudo exerceu uma influência para os atletas de MMA estudados no presente artigo, a influência mais observada foram os ídolos. Visando que o esporte vem se desenvolvendo e se adaptando para se tornar uma modalidade que preserve mais seus lutadores e se torne, também, mais aceitável pelo público, deste modo, estando cada vez mais presente na sociedade.

Nota

  1. Anderson Silva, Vitor Belfort, Fabrício Werdum, Rodrigo Minotauro, Maurício Shogun, etc.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 209 | Buenos Aires, Octubre de 2015
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